Luís Naves
O presidente da Comissão
Europeia, Jean-Claude Juncker, publicou esta semana um documento de reflexão
sobre o futuro da Europa a 27, o chamado Livro Branco, que pretende balizar a discussão sobre o formato da UE em 2025. Tem
cinco cenários de futuro: continuidade; recuo para o mercado único; Europa a
várias velocidades; reforço da integração num núcleo central de problemas;
e fuga para uma organização federal, prevendo, entre outras inovações, a união
europeia de defesa, expansão significativa do orçamento comunitário e
coordenação em questões sociais.
O que se pode criticar no
documento não é a definição de cinco cenários, mas o que a Comissão decidiu
escrever sobre cada um deles. Leia-se com atenção o texto, sobretudo a tabela
da página 29, e percebemos com clareza o que Bruxelas pretende defender, ou
seja, o cenário cinco, o que lhe dá mais poder, de onde se recuará para o
quatro, e deste para o três, se for impossível convencer a opinião pública.
Na hipótese federal, com
título inócuo de ‘fazer muito mais todos juntos’, é tudo fantástico ou, na pior
das hipóteses, idêntico ao cenário 4, à exceção da capacidade de realização,
que é afinal uma função da vontade política. Se caminhar para o cenário 5 ou 4,
a UE fará acordos comerciais em nome dos 27 e normas europeias para políticas
onde estas ainda não existem (energia, trabalho, serviços); haverá uma agência
para gerir os pedidos de asilo e um fundo monetário europeu controlado pelo
parlamento europeu; a união económica e monetária será concluída (acabando de
vez com a autonomia orçamental dos países), o orçamento será reforçado; enfim,
teremos uma só voz na política externa, guardas de fronteira europeus, até
talvez defesa comum.
Não sei em que bolha habitam
estes políticos, mas não devem estar atentos às eleições francesas.
Considerando as sondagens sobre a primeira volta, 40% do eleitorado prepara-se
para votar em candidatos (Le Pen e Mélenchon) que defendem a saída do euro; na
Holanda, a proporção não é muito inferior.
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