Cesar Maia
1. Décadas atrás, uma matéria num jornal ou revista que interessasse
a um político ou a um grupo político, tinha que ser recortada e mostrada ou, na
melhor hipótese, o interessado comprava vários jornais. Os políticos tinham
seus jornais de forma a tratar uma matéria – críticas, denúncias, elogios...– multiplicando
pela própria distribuição da edição de seu jornal ou comprando espaços nesse ou
naquele jornal. Esse caminho – muito usado – era e é de baixa credibilidade.
2. Antes, os grandes jornais não precisavam de se preocupar com o
uso que seria feito das matérias publicadas. Afinal, o multiplicador era a
própria edição e tiragem do jornal. O multiplicador – uso ou abuso – externo
era de pequeno ou nenhum impacto. Depois, o multiplicador aumentou com o uso da
xerox ou a transformação de uma certa matéria de jornal em panfleto. Aumentou,
mas a edição original e a sua tiragem continuavam sendo, de longe, o principal
multiplicador.
3. Antes, uma matéria de jornal ou revista lida ou vista pelos
leitores era ampliada pelos leitores múltiplos. Quantas pessoas liam o que
interessava dos jornais e revistas comprados por outros? Revistas na sala de
espera dos escritórios e consultórios são outro exemplo. A leitura dos jornais
pendurados nas bancas de jornais multiplicava apenas o que saía na capa, e para
um público localizado.
4. A internet e as redes sociais mudaram radicalmente essa
proporção entre matérias publicadas em jornais ou revistas e a sua
multiplicação. Uma matéria de interesse político, uma vez reproduzida nas redes
sociais (e nos blogues),
passa a ter um alcance muito maior que a tiragem do jornal ou revista que lhe
deu origem.
5. Uma pequena notícia em página interna sem destaque, desde que
seja de interesse político, pode gerar uma quantidade de leitores maior que a
tiragem da edição original, através do multiplicador das redes sociais. Nesse
sentido, os multiplicadores das matérias nas redes sociais são editores – reeditores
– dos próprios jornais.
6. Os blogs de jornalistas são exemplos disso. Multiplicam, fora da
edição formal do jornal, notícias que podem circular mais que a tiragem de
origem.
7. O famoso editor do Nouvel Observateur dizia, anos atrás, que os editoriais
dos jornais eram a consciência de culpa dos noticiários dos próprios jornais.
Se antes era assim, hoje o multiplicador das notícias pelas redes sociais tirou
do controle dos editores o que, do conteúdo publicado, terá maior ou menor
impacto de opinião pública.
8. Se é assim, o controle interno de conteúdo nos jornais tende a
ser crescentemente maior. Quando se diz que os jornais devem cada vez mais ter
matérias de opinião, na prática isso significa não pulverizar o noticiário com
a independência dos repórteres, porque perderiam o controle do multiplicador e
até antagonizando com a linha editorial.
9. Num seminário recente, um debatedor dizia que os jornais estão
se transformando em plataformas para as redes sociais. Será?
Título e Texto: Cesar Maia, 16-3-2017
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