João Marques de Almeida
Se Le Pen passar à segunda volta e Fillon
for derrotado, ainda o cenário mais provável, tal como a derrota dos
socialistas, a chamada “maioria republicana” contra os extremos não vai
sobreviver.
Na exposição do Almada
Negreiros, li uma citação que faz sentido para o que se passa hoje na Europa.
Não garanto que a cite com exatidão, “os olhos com que vejo não são os meus olhos,
mas os olhos deste século.” Desde o ano passado, quando pela primeira vez os
eleitores de um estado membro decidiram abandonar a União Europeia, são os
olhos do século XXI que estão a olhar para o mundo. Os olhos atravessaram a
Mancha e olham agora para a revolução francesa em curso.
É impossível exagerar o que se
está a passar em França. Entre as esquerdas, o partido socialista acabou. O seu
candidato, Benoit Hamon, dificilmente chegará aos 10% dos votos. À direita,
Emmanuel Macron, e à esquerda, Jean-Luc Mélenchon, estão a destruir o partido.
Até ao fim da semana passada, todos julgavam que Macron estaria seguramente na
segunda volta. Mas hoje ninguém sabe. Mélenchon tem estado a crescer e a tirar
votos a Hamon. As sondagens servem de pouco. Não conseguem prever o
comportamento de um eleitorado muito volátil. No próximo domingo, é possível
assistir Mélenchon chegar à segunda volta e Macron ficar de fora.
No lado direito do sistema
político, depois dos problemas com a justiça, o candidato dos Republicanos,
François Fillon, parecia estar derrotado. No entanto, a uma semana da primeira
volta, ainda tem algumas hipóteses de chegar à segunda volta. Marine Le Pen
está a fazer uma campanha fraca, e tem os seus próprios problemas com a justiça.
Permitiu assim que Fillon ainda esteja na corrida. Se Le Pen passar à segunda
volta e Fillon for derrotado, ainda o cenário mais provável, tal como os
socialistas, os Republicanos enfrentam uma crise existencial. A chamada
“maioria republicana” contra os extremos políticos não vai sobreviver. Contra
um candidato de esquerda, muito do eleitorado de direita votará em Le Pen. Se o
candidato à esquerda for Macron, a direita republicana vai dividir-se. Se for
Mélenchon a passar à segunda volta, a direita vai unir-se à volta de Le Pen.
Poderia ser o fim do Partido Republicano. Seria o confronto entre as forças
radicais, e a derrota dos partidos tradicionais. A extrema direita contra a
extrema esquerda. O cenário de pesadelo para a Europa.
Se apesar de tudo, a segunda
volta acabar por ser entre Le Pen e Macron, não acredito que o antigo ministro
da Economia ganhe facilmente, apesar do que dizem as sondagens. A segunda volta
será uma nova eleição. Macron tem muitas fragilidades. Pouca experiência, como
se tem visto durante a campanha e demasiado próximo de Hollande, o Presidente
mais impopular da história da V República. Além disso, já o disse uma vez e
repito: não estou seguro que os franceses escolham um antigo banqueiro para
Presidente. Se alguém nos dissesse há seis meses que o próximo Presidente
francês seria um político que nunca foi eleito, sem um partido a apoiá-lo, e um
antigo banqueiro, quem acreditaria?
Pode ainda haver
acontecimentos inesperados. Sarkozy ainda é o líder dos Republicanos. Imaginem
que, para salvar o seu partido, Sarkozy faz um acordo com Le Pen. A Frente
Nacional deixa cair o abandono do Euro e Sarkozy aceita uma política dura em
relação à imigração. Com esse acordo, Le Pen teria muito provavelmente, no caso
de ser eleita, uma maioria na Assembleia Nacional. Sarkozy, líder do maior
partido parlamentar, poderia mesmo ser o próximo primeiro-ministro. Uma
geringonça na direita francesa.
Se Macron ganhar e Le Pen for
derrotada, o partido Republicano sobrevive e o futuro da política francesa vai
decidir-se nas eleições parlamentares. Nesse caso, teremos dois cenários
possíveis. O movimento político Em Marcha ganha as eleições e Macron torna-se o
novo senhor da política francesa. Se vencerem os republicanos, teremos uma
coabitação entre a direita e o centro. Mas será uma maioria instável, e não uma
grande coligação à alemã. Seria o fim da V República e a italianização da
política francesa. Quem quiser ter uma pequena ideia do que seria, estude a
história da IV República entre 1945 e 1957.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
16-4-2017
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Não sou de direita nem de esquerda, tão pouco de centro, isso acabou faz anos, desde girondinos e jacobinos ambos corruptos, Napoleão sabia.
ResponderExcluirNão existem mais esquerdas e direitas.
Hoje temos apenas, proto fascistas, fascistas e os politicamente incorretos.
Essa coisa de diversidade me tira dos trilhos.
Pouco me importa se o agente público é deficiente, gay ou lésbica, canceroso ou aidético, se religioso, ateu, ou maçom, se rico ou pobre, se empresário ou trabalhador, o que realmente importa é a honestidade.
Claramente sou a favor da defesa dos interesses individuais e coletivos da comunidade patriota e nacionalista.
Os proto fascistas chamam de ditatorial mudar o regime de parlamentarismo para presidencialismo, e chamam de direita o protecionismo e nacionalismo de um país.
Depois apelidam de socialismo abrigarem os maometanos em suas terras.
Aqui na terra de Abra antes, chama de socialismo a corrupção.
fui,,,