Cristina Miranda
E já lá vão 43 anos a
pensarmos que o abril dos cravos fora feito em nome do povo. Todos os anos o
país para com celebrações, enaltecendo memórias de militares que invadiram as
ruas em nome da liberdade. Até que veio o dia, em que numa entrevista à Lusa em
2011, Otelo, o pai dessas operações, nos revela calmamente que bastam 800
homens para derrubar um governo, mas que um “novo Abril” só acontecerá quando
lhes forem ao bolso. Está aqui para quem quiser ver. Em menos de um
minuto caía por terra o mito de que os capitães de Abril planearam resgatar o
povo da ditadura. Nem um pouco. Estavam na realidade a lutar pelos
seus direitos. Alguém corrigiu isto? Nada. Silêncio absoluto.
De acordo com as declarações
de Otelo Saraiva de Carvalho, o movimento dos capitães iniciou-se por razões
corporativistas quando os militares de carreira se viram ultrapassados nas
promoções por antigos milicianos, devido a um decreto-lei do então governo, que
permitia a entrada imediata desses antigos milicianos para colmatar a falta de
capitães na guerra colonial. Esses milicianos foram rapidamente
promovidos a major, ultrapassando os capitães, que já tinham quatro anos de
curso. Assim, ao tocar nos interesses da oficialidade, provocou-se uma reação
que foi o derrube do regime.
A verdade é que depois de
derrubado o governo, em 25 de Abril de 1974, voltamos a ficar reféns de outra
ditadura: a comunista. Quem não se lembra do PREC e suas consequências nefastas
para a Nação? Não fora o 25 de novembro de 1975 liderado por Jaime Neves e hoje não estaríamos aqui a escrever no
Blasfémias. Teríamos no mínimo um país à semelhança de Cuba, Venezuela, Coreia
ou Rússia. Esse é um facto irrefutável. E é a este último golpe que devemos a liberdade que temos hoje.
No entanto, depois de tamanha
luta, que tipo liberdade temos afinal? Sim podemos nos exprimir, podemos nos manifestar,
mas de pouco no vale. Estamos “amarrados” e “amordaçados” por um país que
nos leva 41,5% do nosso suor só em impostos sobre o trabalho,
não incluindo os impostos sobre consumo como o IVA, e demais taxas e impostos indiretos,
como IMI, ISV ou IA, ou IUC que tudo somado são 70% de nosso rendimento que vai
à vida sem que possamos fazer nada; um país onde não há limite de endividamento
que levam ao aumento da carga fiscal; um país onde as leis são feitas à medida
para não deixar escapar os pobres mas permitir salvar os muito ricos; um país
que criou uma classe política impune mesmo levando a Nação várias vezes à
falência por governação danosa e corrupção; um país que não permite a livre
escolha na educação nem na saúde; um país que discrimina trabalhadores nos seus
direitos consoante sejam do Estado ou do privado; um país que seleciona nos
mídia o que permite ser visto ou ouvido; um país que permite SÓ partidos
derrotados nas urnas, no governo. Esta é a liberdade conquistada.
Ironicamente, precisamente
quatro décadas depois de Jaime Neves nos resgatar de uma segunda ditadura, eis
que pela mão engenhosa de Costa e sem escrutínio dos portugueses, eles, os HOMENS do PREC, estão de novo a conduzir os nossos destinos.
Isto é liberdade?
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