Cesar Maia
1. A ampla cobertura pela imprensa das delações dos executivos da
Odebrecht projeta uma nuvem de incertezas sobre as eleições de 2018. Na
verdade, mais sobre as eleições majoritárias – presidente, governadores e
senadores – que sobre as eleições proporcionais para deputado.
2. A inorganicidade da política brasileira tem o personalismo como
coluna vertebral. Mas isso ocorre nas eleições majoritárias. No caso das
eleições proporcionais, o voto proporcional aberto, como é aqui no Brasil, de
certa forma, produz, em alguma proporção, esse fenômeno naqueles que são
majoritários-proporcionais, ou seja, que têm grandes votações ou, no limite,
nos que têm mais votos do que exige a legislação para se eleger sem os votos
dos demais candidatos agregando à legenda. Estes são poucos.
3. As pesquisas não-eleitorais no Brasil mostram que, pouco tempo
depois das eleições, a grande maioria dos eleitores já não se lembra em que
candidato a deputado votou. E quanto maior o tempo desde a última eleição,
maior a porcentagem dos que não se lembram. Em 3 meses são 50% e em 3 anos são
80% ou mais. São números que confirmam o que dizem os politólogos sobre a baixa
representatividade dos partidos, de deputados e vereadores. Por isso, muitos
defendem o voto distrital, onde a memória e a representatividade são muito
maiores.
4. Dessa maneira, o desgaste de imagem dos políticos, exponenciado
pela operação Lava-Jato e pelas delações premiadas recentes, tende a atingir
muito, muito mais que proporcionalmente aos candidatos nas eleições
majoritárias que nas proporcionais. Nas eleições majoritárias, especialmente
presidente e governador, a exposição pessoal dos candidatos é total. Não há
como evitar.
5. Analistas dizem que o voto em lista proposto viria para ocultar
o nome dos candidatos a deputado. Nele, o eleitor vota na sigla do partido ou
no número do partido e não diretamente no candidato a deputado. Mas no sistema
eleitoral atual de voto proporcional aberto, de voto pessoal, em que não há
representatividade nem memória do voto, de certa maneira e para a grande
maioria dos candidatos e deputados, o voto, um tempo depois da eleição, é na
prática oculto.
6. A campanha de 2016 para vereador, sem financiamento empresarial,
sem propaganda nas ruas, com menor tempo de campanha e com a entrada na TV dos
vereadores apenas em comerciais, “ocultou” os candidatos. Com exceção daqueles
de opinião pública (que no máximo representam 10% dos eleitos) e daqueles que
têm voto distrital restrito e, por isso, relação muito mais direta com o
eleitor. Esses podem ser atingidos se estiverem claramente expostos pelos
fatos, ainda iluminados, apesar do tempo, ou destacados pelos seus adversários
em seu distrito e pelas redes locais.
7. Por isso mesmo, a probabilidade maior do desgaste atual atingir
candidatos proporcionais está muito mais na proporção de abstenção, votos
brancos e nulos que, aliás, já vem crescendo nas últimas eleições, que
diretamente neles. Paradoxalmente, o voto em lista seria um risco muito maior,
em função da exposição dos fatos delatados, para os partidos que para os nomes.
8. Assim foi na operação “Mãos Limpas”, na Itália, que atropelou os
maiores partidos –Democracia Cristã e Socialista –, eliminando-os do mapa
político. E, no caso, as eleições seguintes e subsequentes mostraram que o
perfil político dos eleitos – abrigados pela mudança do novo nome das mesmas
siglas – não mudou tanto e até trouxe à liderança política e de governo,
Berlusconi, e mais recentemente a antipolítica do comediante Beppe Grilo e seu
MV5, que obteve maioria simples na Câmara de Deputados na última eleição.
Título e Texto: Cesar Maia, 17-4-2017
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