Rafael Marques de Morais
“O oxigénio que respiramos
também é um ganho da paz”, afirma António Luvualu de Carvalho,
embaixador-itinerante e membro do Comité Central do MPLA, em declarações à
Televisão Pública de Angola (TPA).
Trata-se de uma declaração
cujo intuito é endeusar o presidente – o arquiteto da paz – e colocar o MPLA ao
mesmo nível que o conselho de apóstolos de Jesus Cristo, ou seja, “intangível”,
para usar uma palavra muito cara a Luvualu.
Nas redes sociais, as palavras
de Luvualu correm a uma velocidade extraordinária. Nem mesmo João Lourenço,
cuja figura monopoliza agora, diariamente, as atenções e laudas da TPA, RNA e
do Jornal de Angola, consegue ter tanto impacto quanto o ilustre académico do
MPLA.
O MPLA deve começar a refletir
sobre os efeitos contraproducentes de tantos anos a amordaçar os intelectuais,
a censurar e a pisotear a inteligência dos angolanos que pensam de forma livre
e independente.
Temos, assim, uma comunicação social do Estado que passou a ser o repositório da estupidez daqueles que, a coberto da sua militância nas mais altas esferas do MPLA, transformaram o “falar à toa” na ciência política do regime.
Quando o dirigente general
Bento Kangamba fala publicamente sobre o trabalho do MPLA em garantir-nos
“energia potável”, rimo-nos todos da ignorância do homem e ficamos por aí. Mas
Bento Kangamba é uma figura extraordinária, é um lúmpen bem-sucedido que
entretém os angolanos que troçam da sua própria tragédia.
Kangamba tem graça, Luvualu
não.
Luvualu é um Kangamba que fala
bem português, com mestrado de universidade portuguesa. Não passa pela cabeça
do ilustre representante do MPLA que, sem oxigénio, nem sequer teria havido
guerra. Estaríamos todos mortos. Eventualmente, só o presidente José Eduardo
dos Santos teria sobrevivido à falta de oxigénio no seu papel de “Deus pagão”.
Mas o que é um deus sem seres para criar e orientar? É nada.
Algo parece revelar que no
seio do MPLA começa mesmo a faltar oxigénio suficiente para garantir a
sobrevivência de um regime tão minado pela malandragem e astúcia. Já não
conseguem prometer nada, nem água, nem luz, e agora querem chantagear-nos com o
ar que respiramos! Só pode.
Título, Imagem e Texto: Rafael Marques de Morais, Maka Angola, 21-4-2017
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