domingo, 16 de abril de 2017

Melhor do que a encomenda: Trump está virando o jogo

Com três meses de um governo mais tumultuado do que mil MOABS, presidente foi da agonia a um respeitável conjunto de indicadores positivos. Vejam por quê

Vilma Gryzinski

Todos os muitos problemas que já aconteceram com Donald Trump – e os que ainda estão por acontecer - serão maciçamente expostos quando ele completar cem dias de governo.

Olhem a cara de infelicidade: haters não vão parar de odiar, mas o casal Trump não parece preocupado. Foto: Justin Sullivan/Getty Images
Este marco foi criado por Franklin Delano Roosevelt. Na verdade, ele se referia aos “cem dias do Congresso”, mas o critério passou a ser usado para definir a etapa inicial de todos os presidentes – e nenhum deles foi mais ativo do que o próprio Roosevelt.

Já que os aspectos negativos de Trump são e serão dissecados, não vamos esperar pelos cem dias. Em quase três meses de governo – 85 dias -, Trump saiu da agonia inicial, depois de passar pela vergonhosa retirada do projeto de re-reforma do sistema de saúde e pelos imensos problemas de imagem, criados por ele próprio, inventados por seus adversários e propagados incessantemente pela imprensa anti-trumpista.

A seguir, alguns sinais disso:

1 - O otimismo face às perspectivas econômicas atingiu o maior índice dos últimos dez anos entre os agentes econômicos, segundo Bernie Marcus, dono da rede Home Depot (fortuna: 3,5 bi)., num artigo para o site RealClear Politics.

2 - Marcus foi um caso raro de empresário trumpista, pelo menos abertamente. Mas não é bobo de não citar um dado concreto. O Índice de Confiança do Consumidor bateu no número mais alto desde o ano 2000. Este índice avalia o ambiente do mundo dos negócios e as condições no mercado de trabalho.

3 - Desregulamentação a pleno vapor. Durante os oito anos de governo Obama, diz Marcus, o Código Federal de Regulamentações teve um acréscimo de 103 milhões de palavras – o tipo de cálculo que só pode sair da cabeça de americanos

4 - Agora, segundo um decreto assinado logo no começo do governo, a cada nova regulamentação criada, duas têm que ser eliminadas. Uma avaliação otimista esta que, agora, a cada ano serão criados 6 000 novos empreendimentos, abrindo 100 000 postos de trabalho.

5 - Sempre é possível fazer uma avaliação pessimista. Ou pelo menos mais cautelosa.

6 - A bolsa subiu 12%. Vale a mesma ressalva mencionada acima. Mas não dá para dizer que é um indicador negativo, como tantos se esforçam para fazer.

7 - Neil Gorsuch está na Suprema Corte, apesar das compreensíveis, porém patéticas, além de inúteis, manobras da oposição para impedir isso.

8 - Tem credenciais impressionantes como jurista. Quando votar contra algum caso favorável a Trump, os oposicionistas do Congresso e da imprensa terão alguma dificuldade em explicar isso.

9 - O que interessa para a direita, trumpista ou não: há poucos indícios de que venha a mexer significativamente nos direitos garantidos pelo segundo artigo da constituição americana, referentes à posse e porte de armas.

10 - O outro lado do corredor alega que ele pode influir numa futura decisão sobre o aborto – permitido, aliás, por voto da Suprema Corte. Como em outros países, dificilmente seria aprovado pelo voto da maioria dos representantes do povo no Congresso. A ver o que Gorsuch virá a fazer, se a Suprema Corte decidir “chamar” algum caso nessa esfera.

11 - Para Trump, quanto menos se mexer nisso, melhor. Mas presidentes americanos não mandam em juízes da Suprema Corte – o que deixa alguns brasileiros em estado de profunda perplexidade.

12 - Nem um único tijolo do “Muro” foi assentado, mas a número de imigrantes clandestinos apreendidos na fronteira com o México caiu 72% desde o começo do ano.

13 - O Daily Beast, site cheio de informações interessantes, mesmo quando distorcidas pelo anti-trumpismo desesperado, atribui isso ao “fator medo”. De Trump, evidentemente.

14 - É possível execrar, abominar e ter chiliques com o muro prometido por Trump. Mas é preciso muita má fé para ignorar que a maioria dos americanos deseja controles maiores na imigração que não passa pelos meios legais.

15 - Aliás, estamos falando, nesse caso, de imigração clandestina. Não dos milhões de pessoas que entraram e continuam entrando legalmente nos Estados Unidos.

16 - Trump mandou bombardear com Tomahawks uma base aérea do regime de Bashar Assad e liberou o uso da mega-bomba MOAB contra o Estado islâmico no Afeganistão.

17 - Qual é a parte disso que pode ser ruim? Assad mandou jogar gás sarin numa área tomada por rebeldes, acoitados entre a população civil. Crianças, homens e mulheres em idade adulta, idosos e bebezinhos morreram sufocados pelo gás que penetra através da pele. Vai pensar melhor antes de fazer isso de novo.

18 - Ao ser obrigada a defender Assad, a Rússia foi exposta como patrona de um assassino voluntário de criancinhas. Precisou inventar a tese do ataque “falso” para justificar sua posição vergonhosa.

19 - Nikki Haley, nomeada por Trump como embaixadora na ONU, está sendo uma revelação. A ex-governadora da Carolina do Sul, nascida Nimrata Ramdhawa, em uma família de imigrantes (legais) indianos da religião sikh, ela tem sido apaixonada na condenação das monstruosidades cometidas na Síria.

20 - Tão apaixonada quanto sua antecessora, Samantha Powers. Como esta era cria de Barack Obama, a imprensa anti-trumpista se derretia.

21 - O intervencionismo pontual revelado com o ataque à base aérea de Assad – sem vítimas que possam ser comprovadas – foi muito criticado, com boa dose de razão, por muitos simpatizantes de Trump. Qual é a parte errada em mudar de ideia quando criancinhas morrem envenenadas?

22 - Mas esperem, tinha outra surpresinha no arsenal americano. Por decisão do comandante das forças americanas no Afeganistão – os chefes na cadeia de comando nos teatros de operações estão liberados para isso, com menos constrangimentos do que no governo anterior -, uma única Mãe de Todas as Bombas foi jogada numa montanha remota cheia de túneis controlados pelo Estado Islâmico no Afeganistão.

23 - O recado sob a forma de mais de 8 000 mil quilos de TNT turbinado por pó de alumínio foi ouvido nos seguintes lugares: China, Coreia do Norte, Síria etc.

24 - A superbomba só pode ser lançada em concentrações inimigas em lugares remotos, pois civis inocentes seriam inevitavelmente atingidos em outras circunstâncias. É por isso que os Estados Unidos não podem usar um armamento desse tipo em Mosul, por exemplo. Mas tem muitos comandantes do Isis dormindo pior.

25 - Bashar Assad também não está com o sono tranquilo. Nem Kim Jong-Un.

26 - Para criticar Trump e exaltar Obama, o New York Times disse que a MOAB nem é assim essa coisa toda. Obama matou mais de 100 militantes do Estado Islâmico em bombardeios no Iraque nos últimos dias de seu governo, disse o jornal.

27 - É muito instrutivo ver o Times reconhecendo que aqueles aviões usados para combater inimigos dos Estados Unidos não jogam ovos de Páscoa.

28 - É muito instrutivo ver o New York Times elogiando um presidente americano por matar combatentes do Isis e esculhambando outro por fazer a mesma coisa. Alguns leitores podem tirar certas conclusões sobre este ensaio sobre a cegueira escrito involuntariamente por um jornal espetacular, apesar de obscurecido pelas lentes ideológicas.

29 - Outras publicações inimigas de Trump criticaram o preço da bomba e o resultado obtido – 36 militantes do Isis, segundo o governo afegão.

30 - Custo da MOAB por unidade: 16 milhões de dólares. Explodir militantes de um movimento que queima presos vivos, decapita adversários, escraviza sexualmente meninas e mulheres, joga homossexuais do alto de prédios: não tem preço.

31 - A MOAB no Afeganistão também “reequilibrou” o que seria uma alteração na balança criada pelo ataque contra a base aérea de Assad, que é inimigo do Estado Islâmico.

32 - Trump brigou com os russos.

33 - Vladimir Putin não está feliz com o novo presidente americano. Nossa, justamente o cara que ele elegeu.

34 - Atenção: a última frase é uma ironia com os comentários que atingiram as raias da maluquice em relação às conexões entre Trump e os russos. Há muito, muito ainda por explicar nessa área e Trump, ou próximos a ele, ainda podem se enrolar. Mas Vladimir Putin continua infeliz.

35 - Melania Trump ganhou uma indenização de uns 3,5 milhões de dólares contra o Daily Mail por publicar declarações – agora desmentidas pelo jornal – de terceiros dizendo que ela havia trabalhado como garota de programa de luxo, sob a fachada de agências de modelos.

36 - Melania Trump não se separou do marido.

37 - Melania Trump continua a usar o anel com um diamante de 25 quilates que ganhou dele de presente nos dez anos de casamento.

38 - Os “leitores” de linguagem corporal que viam sinais de infelicidade, tristeza, desgosto e outros sentimentos similares nas expressões dela deram um tempo.

39 - A Coreia do Norte não atacou os Estados Unidos. Até agora.

40 - A Coreia do Norte não destruiu nuclearmente os Estados Unidos. Até agora. Os jornais que levaram a sério as declarações do governo da Coreia do Norte a respeito vão ter que passar um tempo no cantinho da reflexão, pensando a respeito. Ah, não…
Título e Texto: Vilma Gryzinski, VEJA, 15-4-2017

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2 comentários:

  1. Enquanto isso, a CNN vai divulgando as sátiras a Donald Trump e os cartoons de Jack Tapper...

    Quanto à Coreia do Norte, soltam uma materinha de um 'correspondente' ou 'enviado'que entrevista uma cidadã norte-coreana que responde com a espontaneidade e liberdade que caracterizam os cidadãos daquele paradisíaco país! Delícia!
    E como se sentem inseguros, vão dizendo "Trump Administration". Se e quando, por qualquer razão, sentirem que não é a maioria que apoia Trump – nesta questão – passarão a referir 'Donald Trump'.
    Percebe a diferença (e intenção), abnegado leitor?

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  2. A propósito da insanidade contra Trump, por favor, abnegado leitor, guardemos este bote de cuspideira:
    Intel sources: first big arrests in Donald Trump’s Russia scandal could come next week
    By Bill Palmer | April 13, 2017

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