Sérgio Barreto Costa
O jornal Observador, numa
seção intitulada “Dicas Auto”, andou à procura do automóvel perfeito para um
jovem de 18 anos. Sem querer dizer mal das propostas apresentadas, julgo que
essa viatura idealizada ainda não existe; e só estará disponível quando as
marcas conseguirem aplicar os conceitos de Pedro Adão e Silva [foto abaixo]] ao
desenvolvimento dos seus produtos. Confuso? Eu tento esclarecer: Pedro Adão e
Silva é o que usa óculos, tem cabelo e não tem barba; o outro, que diz exatamente
as mesmas coisas num tom de voz mais agudo, chama-se Pedro Marques Lopes.
Mas voltemos aos carros e ao
Pedro que usa pente e gilete. Numa das suas crónicas do Expresso, comentando o
exercício orçamental de 2016, concluiu que, contrariamente ao que nos dizia
Passos Coelho, sempre havia uma alternativa às políticas de austeridade. Esta
incursão de Adão e Silva nos terrenos da ficção científica, mais
especificamente na problemática das viagens no tempo e respectivos paradoxos,
permite estabelecer alguns paralelismos com o famoso filme de Robert Zemeckis, Regresso
ao Futuro. Nesse grande sucesso dos anos 80, a personagem interpretada por
Michael J. Fox utiliza papel de carta e uma caneta de 1955 para impedir o terrível
homicídio do seu amigo “Doc” Brown que iria ter lugar em 1985; no seu texto,
Pedro Adão e Silva tenta utilizar a situação econômico-financeira portuguesa de
2016 para impedir a terrível austeridade que se abateu sobre o país em 2012. Se
em 2016 foi a “pós-verdade” a feliz contemplada com a distinção de palavra do
ano, é justo que em 2017, graças a este tipo de análises, se atribua o galardão
à “pré-alternativa”.
Esta incursão do cronista nos
territórios da anterioridade não é de agora e é já bem conhecida dos seus
leitores. Em 2009, ao subscrever um famoso manifesto pelo aumento da despesa
pública e investimento, tornou-se num dos pilares vivos da pré-bancarrota; e em
2014, ao assinar o manifesto pela reestruturação da dívida contraída para
financiar a despesa pública e o investimento que antes defendera, mostrou
pertencer ao estágio de desenvolvimento moral característico da pré-escola.
É por isso que o automóvel
perfeito para qualquer jovem, o tal veículo que ainda não foi inventado, será o
pré-carro, aquele que poupará o recém-encartado de 18 anos da vergonha que
passou aos 14, quando, todo suado e a cheirar mal, apareceu de bicicleta em
casa da sua amada.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
10-5-2017
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