Joel Neto
Depois dos negros do Saint
Louis, dos índios de Gallup e dos cowboys de Williams, voltamos a despedir-nos
dos americanos. Doravante designarei por “californiano” todo aquele que estiver
na Califórnia há pelo menos dois dias, obcecado por sexo e absolutamente
concentrado na ideia de ganhar dinheiro e voltar depressa para casa.
Quase tudo gira à volta do
dinheiro, na Califórnia. É a América
levada ao extremo, a sua caracterização amarga e doce. Foi ali que nos
familiarizámos com a versão matemática das teses utilitaristas de Bentham.
Todas as transações são avaliadas ao pormenor na sua relação custo-benefício.
Um casaco de cabedal custa dez dólares por cada dia que será usado, uma cana de
pesca fica pelos sete dólares por cada peixe fisgado, um bife custa mais ou
menos um dólar por cada minuto de mastigação. Vi-os abdicarem de bens de
primeira necessidade e aplicarem o dinheiro nos artigos mais estapafúrdios,
sempre com o raciocínio utilitarista. Para um californiano o pêssego em calda
faz o mesmo serviço do que o pêssego fresco, e para além disso traz um cupão de
15 cêntimos de desconto – e portanto não restam dúvidas quanto ao produto a
escolher.
O mundo dos cupões de desconto
é, na Califórnia, uma espécie de paraíso na terra, desfrutado com o ar
triunfante de quem subverte o sistema em proveito próprio. Solteirões e
senhoras bem casadas, trolhas e advogados especialistas no grande crime – cada
californiano tem o seu próprio esquema de contabilização de descontos e
devoluções. A maioria carrega diariamente uma caixa repleta dos cupões
recortados dos mais variados produtos, abrindo-a e folheando os seus mil e um
separadores na hora de pagar a conta do supermercado. Os mais desleixados
devolvem simplesmente o produto assim que se fartam dele, trocando-o por um talão
utilizável na compra de um novo artigo.
Posso estar a tirar conclusões
precipitadas – mas na verdade não fiz outra coisa ao longo de toda a viagem. A
mim, pareceu-me todo um princípio civilizacional, praticado pelos consumidores
com a mais fiel colaboração dos fabricantes – eles próprios sabem que uma
parcela das vendas será devolvida, e o preço final de cada artigo compreende
também uma percentagem para fazer face a esse prejuízo.
No pouco tempo que passamos em
supermercados e centros comerciais, pudemos ver devoluções de jogos de facas
gastas e de calças desbotadas por sucessivas lavagens, de casacos com dois anos
e de candeeiros que simplesmente se tornaram desnecessários. Eu limitei-me a
pedir um desconto à ‘rent-a-car’, com o argumento de que entregava o Mazda
cinco horas antes do previsto. Sabia que assinara um contrato, sabia mesmo que
apenas devolvia o carro antes do prazo para não ter de deslocar-me à agência de
madrugada. Mas achei que, se Los Angeles era a terra das oportunidades, também deveria
haver uma oportunidade para mim. E o funcionário nem me regateou o desconto.
Sobre Hollywood Boulevard e
Beverly Hills prefiro não alongar-me, por pudor. Digamos que o segundo me
pareceu menos grandioso do que a Quinta da Marinha e o primeiro apenas uma
avenida de prédios constantemente em construção, de onde para nem se consegue ver a montanha mágica. O
Rodeo Drive não se compara a Saint Honoré e não chegamos a perceber por que
raios se achou o Regeant bom de mais para Julia Roberts. O trânsito é pior do
que o de Lisboa, e está tudo dito.
Também fizemos o ‘tour’ da
Universal Studios – na verdade só saltamos a Disneyland, e com isso se calhar
a coisa mais representativa da América. Andamos no De Lorean com Doc Brown e
descemos às profundezas da água com Kevin Costner, cantamos o blues com John
Goodman e fugimos com Schwarzenegger de um robô de cristais líquidos. Em cada
aventura ficamos a saber que fumar faz mal à saúde. Em contrapartida comer
hambúrgueres e Ketchup é absolutamente saudável, porque foi a única coisa que
conseguimos comprar dentro do parque.
Tanto quanto nos diz respeito,
toda a viagem teve tanto de descoberta como de desmistificação – e talvez seja
verdade que, em certas alturas chave da vida, seja a viagem a escolher o
visitante, e não o contrário.
(…)
Título e Texto: Joel Neto, in “Borda de Estrada – Lua-de-mel com a América”, agosto/setembro
de 2000, complemento do livro “Al-Jazeera, meu amor – Da cimeira dos Açores à
tomada de Bagdad”, páginas 183, 184 e 185.
Digitação: JP
Meu caro Joel, LA é um belíssimo lugar para viver, clima, liberdade, infraestrutura, um estado, que é a Califórnia, belíssimo, vida de qualidade, custo benefício de vida, compatível com o que oferece, quem gosta de Praia tem, montanha tem, deserto tem, cosmopolita é, Santa Mônica é especial, vida simples de interior tem, é na minha opinião o melhor lugar para viver nos EUA.
ResponderExcluirEstes lugares de turistas, servem para faturarem dólares, salvo alguns como Grand Canyon no Arizona, Las Vegas no Nevada, que é ali ao lado também, e outros tantos.
Rodovias maravilhosas, vc pode alugar um Moto Home, tem onde parar, pode viajar sem medo, com infraestrutura para tal. Vida de qualidade, uma costa oceânica maravilhosa.
Sem modéstia, mas sendo sincero, conheço muitos lugares especiais para viver em vários Continentes e penso que LA está entre os 3(três) melhores.
Joel, um Abraço,
Heitor Volkart
Creio que os lugares que visitei e morei no passado, os quais eu teria vontade imensa de morar ou viver, não mais merecem .
ResponderExcluirAcho que há lugares para morar, outros para visitar e alguns para passear.
Meu primeiro lugar para morar sempre foi COPACABANA
2- PALM SPRINGS
3- NOVA IORQUE
4- BARCELONA
MINHAS SUGESTÕES DE PASSEIO seriam Paris, Londres e Milão.
Minhas sugestões de visitas rápidas, seriam Roma e Madrid.
Hoje em dia mais velho, acho que me contentaria, com Montevidéu, Cascais ou Póvoa do Varzim.
Sonho meu seria NOVA PETRÓPOLIS, quem conhece sabe, é como se fosse a Palm Springs brasileira.
Caro Rochinha, na nossa Longevidade temos que levar em consideração o clima de onde queremos viver, tenho Tios já muito idosos e primos que vivem em Nova Petrópolis, RS, se queixam muito do clima da serra.
ResponderExcluirEu penso e não abro mão de viver à beira mar e com um clima tropical ou californiano, lugares lindos tem muitos e conhecemos muitos, terão que estar nas nossas posses, mas após os 70 "o bicho começa a pegar", e espero chegar bem mais longe, para tal tenho que saber viver, com bons vinhos, queijos, alegrias, amor e sexo também, e um clima próprio para a idade.
Um Abs,
Heitor Volkart
Eu adoro a Califórnia. E moraria muito feliz em El Segundo...
ResponderExcluirOra pois Jim, Well, poderia ser Manhattan Beach, ou Redondo Beach!
ExcluirO meu problema são os Reais de minhas Aposentadorias, e o custo em US$ é pesado, porque até poderia, mas ficar contando as moedas, não tenho mais tempo para isto. Rsrsrsrsrs.
Abraços,
Heitor Volkart
ADORO FRIO, NÃO TEM MOSCAS E MOSQUITOS, DETESTO AREIA E ÁGUA FRIA.
ResponderExcluirAS PRAIAS QUENTES SÃO SUJAS.
NOVA PETRÓPOLIS ESTARIA DENTRO DAS POSSES.
E tem mais, detesto ser migrante, tratado como ALIEN, há os impostos brasileiros.
Aqui temos bons vinhos, bons queijos, feijoada, dobradinha, PICANHA, VAZIO DA COSTELA, matambre recheado, pudim de leite e ambrosia.
Enquanto esse XANGRILÁ não nos atinge, a comida aqui me satisfaz.
Os Estados Unidos já não são como de nossa época, como aqui também não é mais em saúde, segurança.
Não gosto de sonhos e ilusões, gosto de realidades.
fui...
Rochinha faltou o café Colonial. Eu também vivo dentro de minha realidade! São só opiniões. Mas te digo morar à beira mar é um privilégio. Um Abraço,
ExcluirHeitor Volkart .
Certa vez estava na praia em Copacabana, sentado na minha cadeirinha perto de um quiosque olhando ilha Rasa lendo um livro e admirando o mar esverdeado.
ResponderExcluirEis que vi uma "HUGE" ONDA. MORAL DO FINAL, PERDI O LIVRO, OS CHINELOS, A CADEIRA E A TAL ONDINHA ME PEGOU JÁ ATRAVESSANDO A AVENIDA ATLÂNTICA.
Inundou garagens e carros estacionados.
Não quero morar à beira do suicídio.
MAIO E JUNHO É MÊS DE RESSACAS NO RIO.
Ainda mais acredite se quiser lanhei os joelhos e bebi água salgada.
fui...