João Pereira Coutinho
Angela Merkel afirmou em Munique que os europeus tinham de fazer
pela vida. Sem contar com a eterna proteção americana. No mundo de Merkel, a
‘Europa’ será um bloco entre blocos – e até a Rússia foi colocada no mesmo
patamar dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
Bem sei que Merkel nasceu na
pátria de Heidegger, um especialista na condenação equitativa do ‘americanismo’
e do comunismo. E também sei que a chanceler estava com uma caneca de cerveja
na mão, o que não ajuda a um raciocínio equilibrado. Mas o que disse Donald
Trump sobre a OTAN para provocar tanto alarido?
Nada que Barack Obama não tenha dito antes dele: é
preciso pagar. Pelo menos, os 2% do PIB que vários parceiros consideram uma
indignidade (a Alemanha, nem de propósito, contribui para a Aliança Atlântica
com 1,2%). Se uma repartição de custos é motivo para uma separação amigável,
desconfio que não sobram casamentos no mundo.
Por razões humanitárias, prefiro acreditar que o discurso
de Merkel foi um golpe de teatro para eleitor ver: quem tinha dúvidas
sobre os entusiasmos europeístas da chanceler, ficou sem elas. Quando até
Martin Schulz, o seu adversário político, aplaude com fervor as palavras de
Merkel, suspeitamos que a missão era outra – e foi cumprida.
Texto: João Pereira Coutinho, SÁBADO,
nº 683, de 1 a 7 de junho de 2017
Digitação e Marcação: JP
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