A maioria de nós em algum
momento ouviu na escola que a pronúncia mais popular no Brasil da palavra gratuito – gra-tu-í-to,
com acento no “i” – estaria errada, e que a pronúncia “correta” só podia ser
“gratúito” (gra-túi-to), com força no “u”. A explicação seria que assim
se pronunciava em latim.
Por si só já seria
problemática a ideia de que quase toda a população naturalmente pronuncie
errado uma palavra. A maneira considerada “correta” de pronunciar uma palavra,
em qualquer língua, é geralmente simples reflexo da maneira como a maioria da
população a pronuncia. Por essa razão, é mesmo normal que pronúncias “oficiais”
mudem, de acordo mudanças de hábitos dos falantes.
Há 50 anos, por exemplo, a
pronúncia “correta” de senhora era “senhôra”, com ô fechado, que é como até
hoje se diz em Portugal. Mas no Brasil, de tanto as pessoas pronunciarem
“senhóra”, essa acabou se tornando o modo correto de pronunciar senhora no
Brasil. Trezentos anos antes, o “correto” em português era pronunciar “tchuva”
e “tchave“, mas de tanto as pessoas pronunciarem “xuva” e “xave“,
essas viraram as pronúncias corretas para chuva e chave.
Ainda assim, professores
corrigem quem pronuncia “gratuíto”, repetindo a lição de um gramático que, há
mais de um século, escreveu que, uma vez que a palavra vinha do latim gratuĭtus,
e que em latim esse “i” era breve, seria incorreto que falantes de português
hoje dessem ênfase a esse “i”. Outro raciocínio já por si questionável.
Mas o problema não acaba
aí: o problema maior é que o gramático que disse que a pronúncia correta
deveria ser “gratúito” por causa do latim estava errado – como
hoje admitem os estudiosos, houve um erro de quem recomendou “gratúito“:
“gratuito” em latim não era grātuĭtus, com a marcação curva que
indicaria que o “i” era breve, mas sim grātuītus, com o
marcador reto que indicava que o “i” era longo. Ou seja: a pronúncia correta em
latim (e isso pode ser hoje conferido em qualquer livro de latim) era gratuítus,
com ênfase no “i”, e não gratúitus, com ênfase no “u”.
Se recordassem ainda que, ao
contrário do que muitas vezes se ensina, o português não veio diretamente do latim, mas sim do galego, teria
também servido darem uma olhada em nossa língua-mãe: em galego, até hoje, a pronúncia (e a grafia) oficial é gratuíto (ver aqui), e não o gratúito dos puristas
equivocados.
Ou seja: por um erro de alguém
(e também por culpa dos muitos gramáticos e professores que não verificaram a
correção da falsa regra que ajudavam a disseminar), durante mais de um século
se ensinou que a pronúncia mais popular no Brasil para a palavra gratuito estava
errada, por supostamente divergir do latim – quando na verdade a pronúncia gratuíto é
a exatamente a que respeita o latim.
E, como veremos em outros
textos, não são poucos os casos como esse: em que, havendo divergência entre
como fala o povo e o que ensinam alguns gramáticos, uma verificação responsável
acaba por revelar que o povo é que tinha razão, e que, ao tentar “corrigir” à
força algum suposto “erro de português”, gramáticos inadvertidos erraram,
passaram adiante seu erro e acabaram por causar dano à língua e aos falantes.
Título, Imagem e Texto: DicionarioeGramatica.com,
13-6-2017
Colunas anteriores:
O ditongo UI é decrescente não precisa regra nenhuma.
ResponderExcluirVocê fala MUITO, não muíto nem múito.
Então é gratuito, circuito, muito e intuito.
Basta diferenciar os ditongos.
DITONGOS DECRESCENTES
ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou, no caso, sempre seguidos por i ou u.
FUI e não é fúi.
Ao contrário da aula de "LATINÊS".
ResponderExcluirCIRCUITO E NÃO circuíto
INTUITO E NÃO intuíto
Nada com o LATIM mas com ditongos decrescentes.
Vou melhorar o comentário com outra palavra pronunciada erradamente.
ResponderExcluirFLUIDO
Não é fluído.
Quando separamos as silabas os ditongos permanecem:
MUI-TO
GRA-TUI-TO
CIR-CUI-TO
FLUI-DO
FOR-TUI-TO
IN-TUI-TO
A DIFERENÇA FICA NO HIATOS.
JU-IZ
JU-Í-ZO
JU-Í-ZES
Desculpa ser chato fui