Maria Lucia Victor Barbosa
Why not? Por que não?
Se um jovem estudante
dissesse: “quero progredir na vida, me esforçar, me tornar competente e, assim,
(why not) por que não estudar fora em busca de excelência?” Quem não admiraria
esse moço exemplar? Ele seria um marco em sua geração e acalentaria em quem o
conhecesse sonhos de um futuro Brasil melhor.
Entretanto, quando um sócio em
iniquidades do anterior governo conduzido por Lula da Silva, como Joesley
Batista, batiza seu iate de dez milhões de dólares com o nome de Why Not tudo muda de significado. Pode
ser entendido como: “por que não roubar o povo brasileiro levando grosso
dinheiro das instituições públicas?” “Por que não, se assim me foi facilitado
como no caso do BNDES quando o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, me abriu
as portas do poder e das facilidades, inclusive, liberando para mim e para meu
irmão Wesley 8,1 bilhões de reais? ”
“Por que não mostrar que
contas no exterior irrigavam as campanhas do PT se eu sabia muito bem disto e
agora resolvi contar tudo porque estou certo de que vou ficar livre, leve e
solto?” “Por que não, [i]durante uma
década, alimentei não só com carne, mas com um riquíssimo propinoduto os cofres
do PT, enquanto nossas empresas se agigantavam maravilhosamente?
“Por que não usufruir de ‘negócios’
com o amigo presidente Lula e a presidente Rousseff, que lhes renderam para
gastos em campanha 150 milhões de reais?”
“Por que não comprar, se posso, juízes, promotores e os mais vendáveis,
os numerosos políticos, se tenho todos aos meus pés?”
Joesley disse isso e muito
mais em depoimentos e vídeos que foram comentados em alguns órgãos da imprensa.
Porém, em uma gravação que não havia sido autorizada pela Justiça e cheia de
lacunas, o ex-modesto dono de um frigorífico se tornou o rei dos delatores e um
mestre em armadilhas políticas, pois atingiu o presidente da República, Michel
Temer, o qual cometeu o erro de receber no palácio o influente magnata do crime
em conluio com altas autoridades.
Toda a delação, a meu ver, tem
que ser corroborada por provas materiais e não só pelo que é dito, para que não
se torne uma caça às bruxas. Se Temer está sendo acusado com base na gravação
de Joesley, que tenha o direito de defesa.
Dilma Rousseff foi julgada
durante meses com amplo direito de defesa. Por que a pressa em afastar Temer?
Por que a coincidência da gravação ter sido feita antes de Lula ser condenado
ou não pelo juiz Moro e eventualmente isso ser confirmado pelo Tribunal Federal
Regional da 4ª Região, de segunda instância? O Supremo havia decidido que
condenados em segunda instância podem ser presos, perigo para Lula que podia
também cair na ficha limpa e se tornar inelegível.
Por que, então, será que o
ministro Gilmar Mendes resolveu voltar atrás e dizer que nem em segunda
instância um criminoso pode ser preso? E se Temer ainda não foi julgado, por
que o PT se empenha tanto nas eleições diretas ou diretas do Lula, uma jogada
desesperada para eleger seu líder? Não importa que se para isso se tenha que
rasgar de novo a Constituição.
Evidentemente, Joesley e
Wesley não foram os únicos corruptos na fase em que o governo petista
institucionalizou a corrupção. Mas o que choca também nessa história é o
tratamento diferenciado dado aos irmãos Batista se comparado com o de outros
envolvidos que colaboraram com a Justiça e foram julgados pelo juiz Sérgio
Moro. De um modo ou de outro eles estão cumprindo suas penas.
Os donos da J&F tiveram os
termos de sua delação defendidos pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, e
homologados pelo ministro Fachin. Sob as bênçãos da Justiça foram continuar a
gozar a vida nos Estados Unidos completamente livres.
Nenhuma filigrana jurídica
fará a sociedade entender a absolvição sem nenhuma penitência dos irmãos
Joesley e Wesley, que nem tornozeleiras eletrônicas precisarão usar. Desse
modo, ficou a sensação de uma tremenda incerteza jurídica, a certeza de que o
crime compensa, com exceção da Lava jato do juiz Moro e de que no Brasil o why not escrito no luxuosíssimo iate
corresponde a outras frases famosas, como: “levar vantagem em tudo”. Pagando bem,
que mal tem”. “Aos amigos tudo, aos
inimigos a lei”.
Isso faz parte de um caldo de
cultura que dificilmente vai mudar no país e que permeia todas as classes
sociais. Afinal, não é o povo que elege os que intercambiam lucros com espertos
e mafiosos gangsteres? Sem nenhum pudor todos continuarão a perguntar de modo
cínico e imoral: “why not? Por que não? ”
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga.
2-6-2017
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