Carina Bratt
Minha amiga, aprenda uma
coisa. Quem busca a felicidade fora de si mesma é como aquele poste de luz à procura
de um bêbado que o abrace fortemente pelas costas. E para completar o ciclo pecaminoso, que umas
oito ou dez vezes por dia, ele, só para encher o saco, dê umas boas urinadas em
sua base, como se fosse um cachorro peçonhento e sem dono.
Por falar em cachorro, aquele
trocinho que faz au, au, au, o ideal para se criar no aconchego de uma casa,
deve ser como uma enorme e bem florida árvore de plástico. Ter as suas raízes
sedimentadas nos ladrilhos do banheiro e os galhos enraizados na casa do
vizinho. De preferência na janela do quarto do casal.
Sempre dá certo. Quebra o
marasmo. A vizinha, furiosa, enraivecida, mete porrada no maridão pensando que
ele está querendo pular pela janela e se dependurar na sua cama ou no
ventilador de teto.
Desde pequena me apaixonei por
mim mesma. O bom nesse tipo de relacionamento, é que não se tem rivais para
contraditar as objeções, mesmo que elas não existam. Por consequência, ninguém, igualmente, para
aumentar o volume de sua raiva ou balançar seu desassossego. Coisa de duas ou
três semanas atrás se não me engano, imaginei, com meus botões, ter avistado
uma luz no fim do túnel.
Ao correr ao encontro dela,
quase fui atropelada por um trem que trafegava em sentido contrário. Perdi os
botões e voltei seminua para o aconchego de meu doce lar. Difícil foi achar
botões iguais para refazer os que ficaram perdidos na escuridão da minha
imbecilidade.
Apesar disso, não me assustei,
confesso. Aliás, nunca me assusto. O susto, dizia papai, com muita propriedade,
é a maior prova do prazer de se estar viva. Estar, portanto, respirando, nos
leva a certeza de que não se está morto. Morto uma vez, cadáver eterno no
aconchego de uma sepultura fria e cheia de maus presságios. Sepultura, por mais simpática que seja não
nos leva a nada, a não ser aos rincões de um amanhã que não chegará jamais.
Amiga, tome as rédeas de sua
vida. Se seu avião não aterrissa, não pense duas vezes. Voe até ele. Penso,
desde menina, que se não posso me livrar do fantasma que está debaixo da minha
cama, o melhor a fazer é ir até ele disfarçada de Dilma e gritar: “EU SOU UM
FANTASMA!”. O bicho, amedrontado, com certeza, correrá desembestado.
Mude. Comumente faço isso
antes que o dono do imóvel me ponha na rua com todas as minhas tralhas e
tranqueiras. Despejo com oficial de justiça é uma coisa chata, mais
inconveniente que pedra que não rola morro abaixo. Ao contrário da que rola
essa não cria limo. Mesmo passo, fica famosa. Vira celebridade. Sai nos
jornais, é fotografada, dá entrevista, e a defesa civil permanece o tempo todo
de olho nela.
Tenho por norma, jamais me
sentir triste. Triste é o prédio que não pode sorrir. Fuja dos fofoqueiros.
Hoje em dia, muitas pessoas estão dispostas a meter a colher na sua vida e,
claro, estragar a sua sopa. Depois de comida a gororoba, ninguém se oferece
para lavar a colher, menos ainda a panela.
Em tempo algum, seja qual for
o motivo, não se sinta para baixo, fraca de espírito ou pior, como um band-aid.
Esse curativo praticamente sem expressão nenhuma é como nosso presidente Temer
infeccionando a sociedade. No fim vira gangrena.
Para terminar, quero que
entendam uma coisa. De coração. Ainda que estejamos sentadas no mais alto pico
do mundo (eu disse pico), se olharmos com atenção para nós, seja de lado, de
frente, de banda, de través, não importa, descobriremos entre atônitas e
embasbacadas, que nos acomodamos em nosso próprio rabo.
Afinal de contas, se levarmos
tudo o que foi dito em consideração, chegaremos à conclusão de que um pum é
literalmente privado, contudo, o cheiro... bem, o cheiro, esse indubitavelmente
será público.
Título e Texto: Carina Bratt. Secretária e assessora de
imprensa do escritor e jornalista Aparecido Raimundo de Souza. De Brasília DF.
7-7-2017
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