sábado, 8 de julho de 2017

Conversa de pé de ouvido

Carina Bratt


Minha amiga, aprenda uma coisa. Quem busca a felicidade fora de si mesma é como aquele poste de luz à procura de um bêbado que o abrace fortemente pelas costas.  E para completar o ciclo pecaminoso, que umas oito ou dez vezes por dia, ele, só para encher o saco, dê umas boas urinadas em sua base, como se fosse um cachorro peçonhento e sem dono.

Por falar em cachorro, aquele trocinho que faz au, au, au, o ideal para se criar no aconchego de uma casa, deve ser como uma enorme e bem florida árvore de plástico. Ter as suas raízes sedimentadas nos ladrilhos do banheiro e os galhos enraizados na casa do vizinho. De preferência na janela do quarto do casal.

Sempre dá certo. Quebra o marasmo. A vizinha, furiosa, enraivecida, mete porrada no maridão pensando que ele está querendo pular pela janela e se dependurar na sua cama ou no ventilador de teto. 

Desde pequena me apaixonei por mim mesma. O bom nesse tipo de relacionamento, é que não se tem rivais para contraditar as objeções, mesmo que elas não existam.  Por consequência, ninguém, igualmente, para aumentar o volume de sua raiva ou balançar seu desassossego. Coisa de duas ou três semanas atrás se não me engano, imaginei, com meus botões, ter avistado uma luz no fim do túnel.

Ao correr ao encontro dela, quase fui atropelada por um trem que trafegava em sentido contrário. Perdi os botões e voltei seminua para o aconchego de meu doce lar. Difícil foi achar botões iguais para refazer os que ficaram perdidos na escuridão da minha imbecilidade. 

Apesar disso, não me assustei, confesso. Aliás, nunca me assusto. O susto, dizia papai, com muita propriedade, é a maior prova do prazer de se estar viva. Estar, portanto, respirando, nos leva a certeza de que não se está morto. Morto uma vez, cadáver eterno no aconchego de uma sepultura fria e cheia de maus presságios.  Sepultura, por mais simpática que seja não nos leva a nada, a não ser aos rincões de um amanhã que não chegará jamais.

Amiga, tome as rédeas de sua vida. Se seu avião não aterrissa, não pense duas vezes. Voe até ele. Penso, desde menina, que se não posso me livrar do fantasma que está debaixo da minha cama, o melhor a fazer é ir até ele disfarçada de Dilma e gritar: “EU SOU UM FANTASMA!”. O bicho, amedrontado, com certeza, correrá desembestado. 

Mude. Comumente faço isso antes que o dono do imóvel me ponha na rua com todas as minhas tralhas e tranqueiras. Despejo com oficial de justiça é uma coisa chata, mais inconveniente que pedra que não rola morro abaixo. Ao contrário da que rola essa não cria limo. Mesmo passo, fica famosa. Vira celebridade. Sai nos jornais, é fotografada, dá entrevista, e a defesa civil permanece o tempo todo de olho nela.

Tenho por norma, jamais me sentir triste. Triste é o prédio que não pode sorrir. Fuja dos fofoqueiros. Hoje em dia, muitas pessoas estão dispostas a meter a colher na sua vida e, claro, estragar a sua sopa. Depois de comida a gororoba, ninguém se oferece para lavar a colher, menos ainda a panela.

Em tempo algum, seja qual for o motivo, não se sinta para baixo, fraca de espírito ou pior, como um band-aid. Esse curativo praticamente sem expressão nenhuma é como nosso presidente Temer infeccionando a sociedade. No fim vira gangrena.         

Para terminar, quero que entendam uma coisa. De coração. Ainda que estejamos sentadas no mais alto pico do mundo (eu disse pico), se olharmos com atenção para nós, seja de lado, de frente, de banda, de través, não importa, descobriremos entre atônitas e embasbacadas, que nos acomodamos em nosso próprio rabo.

Afinal de contas, se levarmos tudo o que foi dito em consideração, chegaremos à conclusão de que um pum é literalmente privado, contudo, o cheiro... bem, o cheiro, esse indubitavelmente será público. 
Título e Texto: Carina Bratt. Secretária e assessora de imprensa do escritor e jornalista Aparecido Raimundo de Souza. De Brasília DF. 7-7-2017

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