Leonardo Cussoline
Acompanho os textos do senhor
Aparecido Raimundo de Souza, há tempos. O que me faz admirar os seus escritos,
ou as suas Rasgações de verbos, são exatamente a coragem com que escreve e o
conhecimento e a competência que demonstra em cada novo artigo. O senhor
Aparecido não escreve por escrever. Escreve fundamentando cada parágrafo,
escreve com conhecimento de causa. Afora isso, fala de peito aberto, o que
sente. Muitos gostariam de falar, de abrir o bico, de botarem a boca no
trombone, mas, por algum motivo, tem medo. É o caso do vídeo que ele postou no
Face de um suposto policial dando um trato nos fundilhos de um meliante.
Bom, amiga. O medo é o que
atravanca as pessoas muitas das vezes a seguir em frente. O medo mata, destrói
e acorrenta. Talvez seja por isso que observo, poucos leitores deixam as suas
opiniões formalmente. Mesmo usando o "anonimato". Talvez, por
ignorância, nem saibam o que venha a ser anonimato. Quero deixar claro, não vim
aqui senhor editor, senhor Aparecido, para apontar esse ou aquele leitor. Longe
disso.
Dei-me ao luxo e ao trabalho,
num primeiro momento, de falar dos trabalhos que a revista publica do senhor
Aparecido. Impecáveis, um verdadeiro exercício de retórica. Objetivos.
Extensos, mas objetivos, determinantes. Esclarecedores. Tudo com começo, meio e
fim.
Para os menos desprevenidos,
faz-se necessário um dicionário ao alcance das mãos, ou corre-se o risco de
tomar gola. Gola, na linguagem futebolística, eu jogo uma bolinha nas horas de
folga, significa toca, manta, porrada. É exatamente sobre isto que gostaria de
deixar a minha humilde colaboração. Sugestão. Não só ao senhor Aparecido, como
me perdoe, igualmente o nobre editor. Como o senhor Aparecido escreve um tanto
quanto rebuscado, gostaria de sugerir um glossário, no rodapé de cada trabalho
publicado.
Darei alguns exemplos. No
texto de 22 de agosto, Catálogo de alucinações, o senhor Aparecido menciona, se
tivéssemos poder (poder no sentido látego da palavra). Seria de bom alvitre
colocar no final do trabalho, no que a imprensa chama de rodapé, a definição de
látego, desta forma. Glossário: Látego (1) o mesmo que chicote, ou açoite. Vai
além de um vaso de dejetos (2) matérias fecais. Sodoma e Gomorra (3) Cidades
destruídas por Deus, com fogo e enxofre. Budas ditosos (4) Referência aos
palácios de Brasília. Acredito aqui, o senhor Aparecido tenha feito uma
comparação ao romance de João Ubaldo Ribeiro. Mesmo caso Feira de Acari (5),
feira livre no Rio de Janeiro onde se vende de tudo, de uma simples agulha a um
avião. O Sabá das feiticeiras (6) livro de John Updike. Por aí segue.
Para nós, advogados, que
precisamos ler, que vivemos da escrita, do bom falar, é imprescindível ter uma
boa visão dos assuntos a serem tratados. Em meu escritório, trabalhamos com
famosos. Em razão disso, oriento a minha equipe de colaboradores e sócios a se
esmerarem nas petições. Não se pode a um apresentador de televisão,
conhecidíssimo, a um personagem fodão da Record, ou da Rede TV, fazer uma
petição vazia. Faz-se necessário citar brocardos jurídicos. É imprescindível
discorrer sobre Nelson Hungria, Darcy Arruda Miranda, Miguel Reale Junior,
Cesare Beccaria, Carl Smitt, Evandro Lins e Silva e tantos mais. Esses são os
papas do direito. Os juizados têm por norma ler essas petições como se devora
revistas de mulheres peladas. Eles gostam, se ilustram às nossas custas. Isso é
cômodo. Seria mais honesto fazer uma petição de habeas corpus simples, sem
citar esse ou aquele mestre magnânimo. São nessas citações, frases e brocardos,
que conquistamos os corações dos juízes e promotores.
Penso ser esta a linha de
raciocínio do senhor Aparecido. Quando ele escreve, e cita Jorge Amado, Zé Lins
do Rego, Breytenbach e outras figuras conhecidas da literatura, ainda que
passeie por Daniel na cova dos leões, Sodoma e Gomorra, Adelaide Carraro, não
importa, a gente percebe, de pronto, conhecimento de causa. Percebe-se, mais:
um cara que lê muito, que tem profundidade naquilo que está descrevendo. Um glossário, pois, no final de cada artigo,
deixaria os leitores mais à vontade, já que no Brasil a maioria das pessoas não
leem, não pesquisam, não se inteiram dos fatos. Embora hoje tudo gire em torno
da velocidade da informação, um bom texto, por mais longo que seja, cheio de
citações leva o bom leitor, o leitor assíduo, a pesquisar, a se informar, a se
ilustrar. Dessa forma, vai aqui uma sugestão ao ilustre jornalista.
No final de
cada crônica, um glossário com as explicações inseridas no bojo do texto.
Evidentemente isto não se enquadra aqueles que leem por ler, sem procurar
esmiudar o que o escritor quis, realmente dizer. Fica aqui, além dos parabéns
ao senhor Aparecido, pela confecção dos textos, parabéns iguais ao editor, por
tê-lo em sua grade de articulistas e, claro, o mais importante: publicá-lo.
Temos sem dúvida alguma um novo Datena [foto ao lado] na área (a quem, confesso, tenho enviado
os textos do senhor Aparecido, Datena é cliente de minha empresa), temos um
Cajuru, um Alexandre Garcia, um Arnaldo Jabor. Figuras que não se curvam a malandros e
sanguessugas. E o senhor Aparecido está inserido nessa linha de "machos
pra burro".
Texto: Leonardo Cussoline, 24-8-2017
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