Alberto José
No dia 5 de agosto de 1954,
na rua Tonelero, em Copacabana, duas balas tiraram a vida do Major da
Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, que fazia a segurança do deputado Carlos
Lacerda [foto] que estava em campanha agressiva contra o PTB e o presidente da República,
Getúlio Dornelles Vargas.
A partir desse crime, as
investigações foram centralizadas pela Aeronáutica que, juntamente com a
Polícia Civil chegou ao suposto assassino, de nome Alcino e ao mandante,
Climério, membro da Guarda Presidencial, comandada pelo (Tenente) Gregório
Fortunato.
Na conclusão dos comandantes
militares, o crime foi de responsabilidade do presidente e, no dia 23 de
agosto, foi apresentada a ele a decisão dos militares para que ele renunciasse
a fim de poderem dar continuidade às investigações. Getúlio Vargas respondeu aos militares que
“não renunciaria e do Palácio só sairia morto”!
No dia 24 de agosto de 1954,
eu tinha 13 anos e fui para a escola pública Amaro Cavalcanti, situada no Largo
do Machado, a cerca de 500 metros do Palácio do Catete. Cheguei às 7h da manhã
e vi no portão o aviso que, devido à situação instável da ordem pública não
haveria aulas naquele dia.
Vendo os carros da Polícia e
do Exército se dirigindo para o Palácio do Catete, resolvi ir até lá para saber
o que iria acontecer em seguida. Quando cheguei, o Palácio estava cercado pelo
povo que gritava: “desce, covarde, assassino, filho da puta”, mandando que
Getúlio saísse e fosse para a rua!
Furei aquela massa de pessoas desatinadas e fiquei bem embaixo da sacada do quarto do Getúlio, na esquina da Rua do Catete com a Rua Silveira Martins. O tumulto era muito grande e o povo revoltado não parava de escorraçar e ofender o presidente!
Às 7h40, aproximadamente,
muitos que estavam próximo ouviram o barulho de um tiro. Cerca de vinte minutos
depois, trajando um terno bege, o ex-ministro, jornalista Lourival Fontes,
amigo do presidente Getúlio Vargas, abriu as grandes portas da sacada, olhou
para o povo que continuava a gritar e anunciou: “O presidente está morto!”
Durante toda a vida, eu jamais
passei por uma experiência igual à que aconteceu naquele momento. Quando o povo
ouviu o anúncio, em fração de segundos, senti que uma carga elétrica poderosa
percorreu a multidão, como se alguém tivesse ligado um cabo de alta voltagem naquele
povo que cercava o Palácio.
A partir desse momento, o povo
começou a gritar e a chorar bradando: “desgraçados, assassinos, mataram nosso
presidente, corvo filho da puta, gorilas, comunistas” e coisas desse tipo!
Ao mesmo tempo, saíram
quebrando tudo, virando bondes e ateando fogo aos carros dos jornais O Globo, Diário de Notícias e Tribuna
da Imprensa que distribuíam nas bancas as edições extras pedindo a renúncia
do presidente.
O povo saiu correndo pela Rua
do Catete e pela Praia do Flamengo até à Cinelândia, onde aumentaram as
depredações. Uma parte do povo foi
atacar a Embaixada Americana na Rua México e outro grupo maior foi para o Largo
da Carioca.
No Tabuleiro da Baiana,
terminal dos bondes da Zona Sul, um jovem escalou uma parede para derrubar um
painel do Lacerda e foi derrubado por um tiro nas costas, desferido por um
policial.
O povo cercou o policial que
foi desarmado e linchado até a morte!
A partir daí, durante 48 horas
as ruas foram tomadas pela temida Polícia Especial, cavalaria da PM e tropas do
exército e aeronáutica que atiravam com tiro real e lançavam granadas de gás
contra o povo!
Dependendo do momento, a
reação popular é imprevisível!
Título e Texto: Alberto José, 3-8-2017
http://beradeirocurioso.blogspot.com.br/2014/09/conspiracao-na-morte-de-vargas-sera.html
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