Sérgio Barreto Costa
Em finais de 2011, durante um
jantar de Natal em Castelo de Paiva, o deputado Pedro Nuno Santos, sentindo-se
porventura fortalecido pelas rabanadas, provocou um terramoto que deveria ter
sido sentido desde as margens dos rios Douro e Paiva até às nascentes do
Danúbio e do Ruhr.
De acordo com a imprensa da
época, o conhecido tribuno afirmou estar a marimbar-se para os credores, e
defendeu que Portugal devia ameaçar os banqueiros alemães com um calote de tal
dimensão que até as pernas lhes tremeriam. Além da utilização pioneira em
Finança e Política Internacional da expressão “estou-me marimbando”, Pedro Nuno
Santos acrescentou ainda, em jeito de desafio aos capitalistas teutónicos, um
muito português “ou os senhores se põem finos ou…”. Sabendo-se que os homens da
banca são sempre uns anafados de cartola que acendem charutos com notas de 50
euros depois de banquetes pantagruélicos, não podemos deixar de admirar o
carácter manifestamente jocoso e irrealizável desta provocação.
Desde 2010 que as agências
de rating, uma espécie de sismógrafo dos credores, davam sinais
claros de trepidação nos membros inferiores daqueles que nos tinham emprestado
largas dezenas de milhões de euros. Discursos inflamados à parte, o medo de
perder dinheiro com a dívida portuguesa era bem real. É por isso comovente ver
a alegria do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos
(é o que tem barba, não confundir com o deputado Pedro Nuno Santos, que é
utilizador de navalha) com a subida do rating português que
ocorreu na semana passada.
Na sua conta de twitter, após
anunciar a decisão da Standard & Poor’s de retirar Portugal do lixo, o
membro do Governo revelou a felicidade que sente ao ver a confiança dos
investidores externos no país e congratulou-se por ter contribuído para esse
clima de segurança.
Agora que o sismógrafo
abrandou, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos
(não confundir com o deputado Pedro Nuno Santos) está contente por ter ajudado
a confortar e a estabilizar as pernas dos banqueiros alemães que o deputado
Pedro Nuno Santos (não confundir com o secretário de Estado dos Assuntos
Parlamentares Pedro Nuno Santos) tinha andado a desassossegar.
É sempre positivo quando,
perante uma plateia de estrangeiros, um português limpa a imagem de outro. É um
claro sinal de fraternidade entre compatriotas e mostra que neste cantinho da
Europa também vive gente com juízo.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
21-9-2017
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