Carlos Lira
“Carlos, que mal te pregunte, que va a comer hoje?” A saudação que
Mesones me dispensava quando trocávamos ideias via telefone.
E agora, meu doce amigo
espanhol, o que posso dizer ou o que posso digitar em homenagem póstuma a ti
que ora partes rumo ao perfeito amor? E nesta ânsia de dizer mil coisas sobre
ti (coisas simples tais como sentirei tua falta, meus pêsames, te respeito como
o guardião do amor fraterno, etc.) fogem-me palavras simples para te
homenagear. Agora estás só em teu refúgio situado dentro de um esquife
envernizado, cercado de flores amorfas, sem vida, sem consistência sob a forma
de monsenhores, cravos e rosas...
Olhos fechados por mãos
caridosas, entraste em uma escura noite em pleno dia, silenciando silencioso,
nenhum som. Nada se ouve em teu corpo inerte. Na ânsia de emitir mil palavras,
nada disseste. Estás a sós com a tua surdez inseparável, restando a lembrança
de um tempo em que conseguias gritar. Não importa, amigo Mesones, Liberdade
plena ou Paraíso, um dia irei te encontrar! Todo uniformizado, engalanado com
as vestes da Varig, entraste em um MD11, sem segurar a mão de ninguém. Seguiste
o teu voo, esperando alguém entrar no próximo aeroporto.
Ninguém entrou, meu amigo e
irmão em Cristo!
Olhaste aqueles dois nomes ao
longo desta linha imaginária. Apenas lembraste, de uma forma triste que só
aqueles que sentem saudade lembram. Passageiros famosos e os menos famosos,
Madre Teresa de Calcutá, Papa João Paulo II, antes de tornar-se papa, outros
menos famosos, cabine cheia, repleta de risos, viagens, jantares, brigadeiros,
filmes nunca terminados. Coisas de sempre, coisas simples, simples como dizer
“sinto falta de minha mocidade a bordo de aeronaves colossais, tornei-me veloz,
supersônico ou quase isso, cortando mares, vencendo ares, falência da Varig,
duro golpe, passeatas, andar trôpego, mesmo assim corria em tuas veias a – estrela
brasileira no céu azul –, MD11 e teu bem querer, uma simbiose de amor eterno.
Agora nada pronuncias em alta
proclama porque agora és história, eterna saudade dos amigos que muito te
amaram. Nunca passaste a vida te arrependendo de cada palavra que não foi dita,
de cada impulso involuntário reprimido, nada disto te atormenta neste teu
julgamento particular, justamente porque sempre foste sincero e autêntico! O teu
MD11 que te levará à amplidão da eternidade, descobriste uma cabine repleta de
teus feitos não cabendo neste teu último destino uma cabine vazia, já que
encontraste a Liberdade, Paraíso, Espanha, a tua caminhada pela rua da
Alfândega, o teu silencioso apartamento na Avenida Princesa Isabel, em
Copacabana.
Não sobraste em uma longa
espera, todos os dias, os dias encurtaram, te tornaste eternidade, uma mão
desconhecida e muito bem conhecida para poder, enfim, segurar esta mão na
noite. Saber do teu falecimento, Juan Mesones foi sem dúvida uma notícia triste
e agora ponho-me a orar em sufrágio de tua alma. “Que mal te pregunte,
Mesones”, o que farei daquelas fitas, mais de 50, que comprei na Igreja do
Bonfim, em Salvador, atendendo a teu pedido já que levarias estas fitas para
teus parentes na Espanha? “Que mal te pregunte, Mesones”, qual está sendo o
cardápio servido nesta tua viagem até Deus?...
Título e Texto: Carlos Lira, 24-9-2017
Oh! Mesones, Grande fanfarrão, sempre e nunca levastes nada a sério, salve seu emprego!
ResponderExcluirOh! Carlos Lira, a vida é injusta! E a cruz que nos foi designada, temos que carregar!
Espero que encontres um caminho menos árduo, com fé e pagando nossas contas, chegaremos a um final com glória! Nós Todos!
Heitor Volkart