sábado, 9 de setembro de 2017

Madonna, eu e o “desalfandegamento”

João Pereira Coutinho

MADONNA JÁ ESTÁ ENTRE NÓS, a galopar num cavalo e a dar de comer aos porcos. Mas eis que, confrontada com uma alfândega que não lhe liberta o património, a diva fez cara de caso: querem ver que me enfiei num pardieiro?


Modestamente, percebo a diva. Aqui há uns tempos, recebi do Brasil algumas cópias de um livro com um prefácio da minha autoria. Nunca cheguei a vê-las: os CTT avisaram-me que, para efeitos de "desalfandegamento", era preciso documentação pessoal e uma fatura de transação comercial.

Com paciência de santo, enviei cópia do cartão de cidadão. Mas esclareci que não havia nenhuma transação comercial porque os livros eram oferta do meu editor. Do outro lado, alguém respondeu: mesmo sendo oferta, é preciso atribuir um valor à encomenda.

Com a tensão arterial a subir, escrevi para a editora a perguntar o básico: quanto custavam os livros? A editora respondeu, eu encaminhei a informação para quem de direito e até assinei um "compromisso de honra". Quando pensava que o assunto estava resolvido, surgiu nova mensagem, provavelmente gerada por computador: para efeitos de "desalfandegamento", era preciso fazer tudo outra vez.

Em derradeiro gesto, fiz tudo outra vez e voltei a jurar pela minha honra. E acrescentei, com uma réstia de esperança, que o meu nome estava na capa dos livros como prefaciador dos mesmos. Nada feito.

Com a sanidade em risco, optei por desistir; e os livros lá cruzaram o Atlântico, onde um editor atónito os recebeu de volta. Um dia, quem sabe, talvez – disse-lhe ao telefone. Ele prometeu guardá-los no cofre.

Se os nossos serviços não acreditam que Madonna é Madonna (palavras dela), porque raio haviam de acreditar que eu, pobre homem, era efetivamente quem dizia ser?
Texto: João Pereira Coutinho, SÁBADO, nº 697, de 7 a 14 de setembro de 2017

Eu me coloquei no título, pois me aconteceu o mesmo:
Meu filho encomendou alguns livros usados na Amazon e pediu para serem entregues em meu endereço em Massamá. Encomendou um por um, e estes foram entregues sem problema.

Até que o último livro encomendado, usado, sofreu o mesmo calvário relatado por João Pereira Coutinho:

Recebi a primeira notificação, mandei cópia do Cartão de Cidadão; duas semanas depois nova notificação pedindo o número de contribuinte mais a ‘fatura’ relativa à compra; informei o número e juntei o e-mail da Amazon confirmando a compra.
 

Pelos vistos, considerando o tempo passado, muito provavelmente o livro foi devolvido ao remetente...

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