Henrique Pereira dos Santos
Passos Coelho, e a direita em
geral (há sempre tontos em todo o lado, com certeza, mas estou sobretudo a falar
de quem tem maiores responsabilidades), tem reconhecido as boas notícias, como,
por exemplo, a melhoria da classificação da dívida pública, como aquilo que
são, boas notícias.
Depois atribui parte dos
méritos ao desempenho do governo anterior, diz que o que permitiu isto foi o
fato do atual governo, no essencial, ter mantido as políticas de prudência
orçamental que vinham de trás e, pelo meio, acusa a atual situação de
demagogia, dizendo uma coisa e fazendo outra.
Estas interpretações são
discutíveis, com certeza, mas há uma base comum de discussão: a situação está a
melhorar e o governo atual faz bem em continuar neste caminho de prudência
orçamental, mesmo que diga que faz o contrário.
António Costa, e a esquerda em
geral (a mesma nota que no primeiro parágrafo), pelo contrário, não reconhece
(eu não me lembro de alguma vez ter ouvido esse reconhecimento) o contributo do
governo anterior para a situação atual, nomeadamente no que diz respeito ao
equilíbrio das contas externas (que depende menos do governo) e para o
equilíbrio das contas públicas.
Mesmo boas notícias, como por
exemplo, o fim do programa de ajustamento sem necessidade de um segundo
programa de apoio, não são reconhecidas como tal, mas desvalorizadas com
teorias sobre a maquilhagem das contas e etc...
Ainda agora, a propósito da
decisão de classificar melhor o risco da dívida pública portuguesa, que, como
lembra Luís Aguiar-Conraria, é a demonstração de que todos aqueles que disseram
que a dívida pública era impagável sem uma reestruturação estavam errados e,
mais que isso, é a demonstração de que não só é pagável, como é possível
fazê-lo com crescimento, quer Catarina Martins, quer Pedro Nuno Santos (outros
foram menos explícitos, como Costa, mas, mesmo não indo tão longe, foram o
suficiente para evitar reconhecer o contributo do governo anterior para a
situação atual), vieram dizer que a melhoria do rating da república só tinha
sido possível porque o governo tinha feito o contrário do que diziam as
agências de rating.
É uma mentira tão infantil que
só há uma possibilidade: acreditam mesmo no que estão a dizer.
E isso é muito mais assustador
do que pensar que se trataria de meros aldrabões porque significa que não fazem
a menor ideia do mundo sobre o qual tomam decisões.
Esse realismo que permite
classificar como boas as notícias que indiscutivelmente os são, é uma diferença
abissal para uma esquerda que se recusa a reconhecer a realidade para não dar
trunfos aos adversários.
Não é uma diferença pequena
nem despicienda.
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
16-9-2017
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