quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Elite culpada: a origem de causas “progressistas” hipócritas

Imagem: Robin Bartholick/Corbis
Rodrigo Constantino

Em Esquerda Caviar, tentei enumerar nada menos do que vinte potenciais origens do fenômeno, reconhecendo se tratar de algo complexo. Como pode um homem branco rico posar de defensor dos negros pobres, das feministas e pregar o socialismo enquanto desfruta de tudo aquilo que só o capitalismo liberal pode oferecer? Como não notar a gritante hipocrisia?

Entre as causas, coloquei a típica culpa da elite. Nada pior do que uma elite culpada! Normalmente herdeiros de quem efetivamente construiu o patrimônio familiar, essa turma mimada precisa se sentir “do bem”, útil para “causas nobres”, expiar seus “pecados” mortais. Daí a passar à defesa de Che Guevara, das feministas radicais e dos líderes de movimentos raciais extremistas é um pulo.

Nesse “debate” na GloboNews, podemos ver o defensor dos “artistas” discutindo com Eduardo Wolf, e claramente adotando o velho duplo padrão da esquerda: as causas das “minorias” gozam de um salvo-conduto, pois temos uma “dívida histórica” com eles. A necessidade dele em bancar o representante dessas “minorias”, no fundo defendendo as lideranças desses movimentos coletivistas ideológicos e políticos, salta aos olhos, enquanto Wolf aponta para a hipocrisia da turma:


Outro caso espantoso é esse texto da VIP, que um leitor me mandou hoje, de Facundo Guerra, um argentino naturalizado paulistano e empresário da noite. Reparem como ele precisa se “humilhar”, se “sacrificar” no altar das feministas, pedindo desculpas por ser homem, por ser, portanto, um “machista”, ainda que um “machista” velado, mas tão ruim quanto os que chama de bárbaros:

Falarei do meu machismo miúdo, íntimo, que se esconde nos cantos escuros e úmidos meus, que aflora mesmo quando tento me defender de seus ataques ardilosos, não importa quantos memes sobre o feminismo eu tenha compartilhado em minha timeline do Facebook ou quantos poucos livros sobre o assunto eu tenha lido.

Afinal, eu não sou machista como os outros machistas. Sou um macho desconstruído, suficientemente esclarecido pra não me chamar de feminista e passear com minha filha de cavalinho em meio à marcha das mulheres, caladinho enquanto elas gritam “Meu corpo, minha regra!”, que minha menina de 4 anos repete em tom desafiador para orgulho de seu pai desconstruído.

Meu machismo é enrustido. Meu machismo é de armário.

Posso me apropriar do discurso sobre o feminismo, mas jamais deixarei de ser um machista. E isso me traz vergonha, especialmente sendo pai de uma menina. E falar isso é machista, diga-se de passagem.

Não há para onde correr! Ele é feminista, cria a filhinha como uma feminista (pobre garota!), frequenta passeatas feministas, mas ainda assim é um machista, pois é homem! E todo homem, especialmente o homem branco ocidental, já é culpado por antecipação, é o vilão das “minorias”, das mulheres, dos negros, ainda que seja no Ocidente dominado pelo homem branco cristão onde mulheres e negros tenham mais liberdade e prosperidade. Ele continua sua autoimolação:

Meu machismo não é do tipo agressivo, virulento. Jamais tocaria uma mulher sem seu consentimento. Isso é para animais, bárbaros. Sou humanista e demais refinado para isso. Meu machismo é menor, mas diferentes graus de machismo não me fazem ser menos machista do que os homens que chamo de bárbaros.

Ele é miúdo, pequeno, suave, discreto, molinho, edulcorado, com pendor humorístico: ele vem fantasiado de um discurso igualitário, mas redutor ou relativizador da condição da mulher em uma sociedade extremamente paternalista.

[…]

Não se trata de consolo, eu sei, mas confesso que sou machista. E, no fundo, isso pouco importa para uma mulher; afinal de contas, uma mea culpa de um homem pouco mudará o perigo que elas correm todos os dias na rua. Não é sobre nossa culpa, meu caro machista.

Por mais defesas que eu crie, jamais deixarei de ser um machista, e isso me faz parte do problema e culpado por tudo o que uma mulher enfrenta em seu dia a dia. De alguma forma, esse monstrinho peludo que mora dentro de mim conseguirá superar as barreiras que erguerei para dele me defender.

E me resta a esperança de criar uma feminista em minha filha e não deixar que meus erros se perpetuem nas gerações vindouras. É tudo o que eu posso esperar além do perdão de minhas hermanas.

Não é sobre culpa? Risos. É só sobre culpa! É uma patética tentativa de se mostrar “superior” assumindo a “inferioridade”, de ganhar pontos com as feministas ao confessar os “crimes”, especialmente o maior deles: ter nascido homem. Numa sociedade “patriarcal”, claro!

A elite culpada é a origem de inúmeros problemas, está no epicentro dessa revolução das vítimas, da marcha das minorias, do império do oprimido. São normalmente os homens brancos culpados, assim como algumas mulheres, que lideram ou ajudam a fomentar essas causas “progressistas”. Ajuda na massagem do ego, e às vezes ajuda na carreira também. Só não ajuda na busca da verdade, tampouco os próprios membros dessas “minorias”. Esses são apenas mascotes, abstrações para esses discursos sensacionalistas.

Eu sou homem. Sou heterossexual. Sou branco. Sou da elite. E não devo desculpas por nada disso. Não considero tais características como um pecado ou um crime. Certamente não acho que devo ficar me martirizando publicamente, de forma um tanto hipócrita, para cair nas graças das lideranças dos movimentos coletivistas que falam em nome das minorias. Mas para agir assim é preciso um mínimo de coragem. E de independência. 
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 11-10-2017

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