Cesar Maia
Bruno Kazuhiro, presidente da
Juventude Democratas Brasil (primeira semana de outubro de 2017)
1.
Abertura à tarde com a participação do Primeiro-Ministro da Saxônia
(Governador), Sr. Stanislaw Tilich (CDU).
- Alemanha tem muitos
vizinhos, mas na Saxônia focamos na República Tcheca e na Polônia, que fazem
fronteira conosco.
- A democracia cristã era
muito forte na Europa no passado. Foi perdendo espaço em países como Itália e
Holanda. Mas nos mantemos fortes na Alemanha. Nesses países a direita mais
radical ganhou nosso espaço, como o Forza Itália por exemplo. Não podemos
deixar que isso ocorra aqui com a AfD, (Alternativa de extrema direita). Temos
que seguir nos reinventando.
- A Saxônia é o estado que
está melhor econômica e socialmente dentre os antigos da Alemanha Oriental.
- O crescimento da AfD vem do
medo. Medo de perder os empregos, dos refugiados, da globalização, da mudança,
da competição no mercado com produtos da Ásia, etc.
- Estamos disputando espaços
com carros asiáticos. Nossa indústria automobilística é o coração da Alemanha.
- O sucesso alemão atual não
pode ser visto como eterno. É preciso cuidar, manter, planejar, diminuir a
insegurança que faz crescer a AfD.
- Como cristão também me
pergunto: Que mundo é esse onde o sucesso só é medido pelo dinheiro? Todos só
querem riqueza, esquecendo solidariedade, comunidade, esforço individual, etc.
- Jovens não foram tanto com a
AfD. Foram mais adultos, preocupados em perder o que têm, o emprego, a
aposentadoria. Antes do nazismo a Saxônia era uma potência industrial. Após
duas ditaduras, nazista e comunista, temos só subsidiárias de empresas de
outros estados ou países. Decidem nosso futuro fora daqui. O povo não gosta
disso.
- A CDU e Merkel falaram tanto
de Brexit, Grécia, UE, que deixaram populismo crescer em casa. AfD vem disso.
Vivemos num mundo complexo onde um jornalista vive fazendo tudo em seu iPad mas
critica a queda na venda do jornal impresso.
2.
Visita à Assembleia Legislativa da Saxônia. Matthias RöBler (Presidente da
Assembleia estadual)
- Temos muita relação na
Saxônia com República Tcheca, Hungria, Polônia, Eslováquia e Áustria. Há muito
pouco desemprego na Alemanha e mesmo assim AfD teve muitos votos. O fenômeno
populista europeu chegou aqui. A CSU enxerga com bons olhos uma democracia mais
direta nos municípios como forma de dar protagonismo ao eleitor, mas a CDU não
é tão favorável.
- Permitimos o crescimento da
AfD quando abrimos fronteiras para mais de um milhão de refugiados. Sejamos
francos, isso afetou principalmente as regiões mais pobres e rurais da
Alemanha, onde as pessoas temem o desemprego. Serão as negociações mais
difíceis da história recente em relação à coalizão. O SPD escolheu pensar nele
ao invés da estabilidade do país e recusa repetir parceria. Nos resta a opção
dos liberais e os verdes, mas ainda temos que nos entender com a CSU com quem
também temos divergências. A CSU hoje é mais conservadora e a CDU mais de
centro.
- Os verdes pedem que
abandonemos os motores de combustão, mas isso arruinaria nossa indústria
automobilística hoje. Como governar com eles? Um governo de minoria nunca
ocorreu na Alemanha. Talvez ocorra agora com CDU + FDP.
- Não vejo a AfD se aliando a
outro partido, mas no futuro quem sabe? AfD vive na crítica. Não oferece
soluções. Se não resolver nada, não vai sobreviver por muito tempo.
- Dos mais de 1 milhão de
refugiados, 800 mil são homens jovens do Iraque, da Síria e do Norte da África.
Estatísticas criminais altas. Muitos não possuem documentos. 60% vêm por
questões financeiras e não por perseguição política e religiosa como alegam para
pedir asilo.
3.
Visita a uma fábrica da Volkswagen focada na produção de carros elétricos.
Visita à Prefeitura de Dresden. Detlef Sittel (Vice-prefeito de Dresden)
- Dresden está revitalizando
prédios históricos, realizando obras contra enchentes do Rio Elba, investindo
na divulgação como destino turístico, principalmente nas artes como atrativo
cultural.
Dresden e Leipzig são as
únicas cidades, hoje na Saxônia, onde a população cresce.
- Grandes eventos e mercados
de Natal nos exigem esforço de segurança, prevenção de acidentes, patrulha
policial, grupo antiterrorismo etc, normalmente com policiais à paisana, para
não gerar sensação de insegurança.
- Temos mais problemas de
criminalidade com refugiados do Norte da África do que do Oriente Médio. Muitos
crimes são entre eles mesmos ou atuação no tráfico de drogas, principalmente
entre aqueles que percebem que não conseguirão a cidadania alemã e assim veem
que não têm muito a perder.
4.
Jantar com Deputado estadual da Turíngia, Stefan Gruhner, ex-presidente da
Juventude em seu estado
- AfD, na minha opinião, teve
50% de seus votos sendo de protesto. O caso dos imigrantes, da abertura para
sua entrada, sem dúvida enfraqueceu Merkel. Vale citar que ela não abriu as
fronteiras, apenas não as fechou quando imigrantes começaram a se dirigir para
a Alemanha depois de entrar na UE por outros países. Isso foi mal comunicado.
- O tema da imigração estava claramente na
pauta, na cabeça das pessoas, mas Merkel preferiu não citar muito, não se
explicar. Acho que foi um erro. Perguntaram a ela onde estava o erro que causou
crescimento da AfD. Ela respondeu que não via erro nenhum e que a CDU fez o
melhor possível em tudo. Creio ter sido um equívoco. Deveria reconhecer erros e
prometer corrigir.
- As pessoas não veem mais
diferença entre SPD e CDU. Quem queria mudança votou AfD. O crescimento do FDP
também tirou votos da CDU. CDU fez uma campanha boa, com bons projetos, mas de
certa forma contrariando parte de sua base de eleitores.
- Uma coalizão com SPD seria
ruim pois AfD lideraria a oposição. Mas ao mesmo tempo será difícil unir CDU,
CSU, FDP e, principalmente, os Verdes.
- O voto da Alemanha Oriental
não migrou ideologicamente de esquerda para direita. Ele apenas segue sendo
anti-establishment. Viam o partido A
Esquerda (Die Linke) como anti-establishment e votavam com ele. Dessa vez a
AfD representou a antipolitica, o protesto, o voto do descontente. Creio que
isso inflou a votação da AfD.
5.
Hartmut Vorjohann (Secretário de Educação e Juventude de Dresden)
- População em Dresden cresce
ao contrário da maioria da Alemanha. Estamos tendo que construir e reformar
escolas que haviam sido desativadas nos anos 90 quando a população caía. A
prefeitura paga os professores da Educação Infantil mas não os professores do
ensino médio e fundamental, embora seja responsável pela estrutura das escolas
em ambos os casos. Queremos reduzir o número de crianças por turma.
- Temos hoje problemas com
crianças imigrantes que não falam a língua alemã.
- O desemprego cai mas se
concentra em certas áreas, normalmente com mão de obra pouco qualificada.
6.
Professor Werner Patzelt (Cientista Político, Especialista em Partidos e
Eleições)
- Será mesmo inexplicável que
tantos votem na extrema-direita, ainda mais na Alemanha Oriental? Os que
ficaram surpresos tinham premissas desconectadas da sociedade e da realidade
pois a coalizão CDU-SPD colocou os insatisfeitos nos braços dos partidos
menores, que eram a única oposição.
- A elite política acha que o
protesto contra migrações é cruel, feito por pessoas sem coração, que é
estupidez, atraso. Dizer isso apenas joga os eleitores mais a favor da AfD, os
eleitores que são contra a ideia de um país multicultural. Merkel comunicou mal
e pareceu ser mais a favor da imigração do que era. Se dissesse ser contra,
estaria dando razão à AfD. Ficou encurralada.
- A CDU era de centro-direita
e assim se apresentava. Caminhou para o centro, passou a dizer ser o centro.
Tomou espaço da esquerda e achou que votos de direita viriam por falta de
opção. A AfD entrou nessa brecha, embora a estratégia tenha funcionado para enfraquecer
muito o SPD.
- A elite alemã é
majoritariamente da antiga Alemanha Ocidental mesmo nas cidades orientais. As
pessoas do Oeste chegam transferidos por empresas, fundações, etc. Há um
sentimento de ser melhor que o lado oriental, que seria menos educado, menos
cosmopolita, menos desenvolvido. O lado oriental sente isso e se vê diminuído.
Assim aumenta o voto de protesto nessa região. Eles estão mais insatisfeitos.
- Populismo possui cinco
características básicas: Superficialidade demagógica, criticando sem soluções;
Figura personalista como líder carismático; Ataque a uma suposta elite e
promessa de defender os oprimidos; Discurso de defesa de um suposto
"desejo do povo" se intitulando aquele que luta por esse desejo;
Crise de representatividade política que abre brecha para os outros quatro
elementos.
- AfD tem duas grandes
correntes: Ser o novo partido conservador de direita, sem tanto extremismo,
querendo governar um dia; ou ser o movimento de todos os que queiram, sejam
radicais ou não, pensem como pensarem, populista. A primeira corrente começou
mais influente, mas foi perdendo espaço para a segunda que hoje lidera. Isso
gera rachas e comportamento parlamentar do partido dependerá se os radicais se
moderarão ou não no cotidiano do parlamento.
- AfD tem relações com a
Rússia mas não há nenhum indício de interferência dos russos nas eleições.
7.
Terminam as palestras apresentadas pela Fundação Adenauer aos visitantes
internacionais e começa a Convenção Nacional da Juventude da CDU.
8.
Paul Ziemiak (Presidente Nacional da União Jovem, Juventude da CDU)
- Precisamos debater a questão
dos imigrantes, não adianta se esconder. É um tema que está sendo debatido e
cobrado pela sociedade e temos que fazer cumprir a Lei, aceitando os que são
refugiados políticos de verdade, mas quanto aos que não forem, têm que ser
mandados de volta, mesmo que seja após um prazo definido claramente.
- Defendemos o debate sobre um
novo governo onde colocamos nossas posições sem concessões excessivas para
formar a coalizão. Precisamos de parceiros que pensem como nós e desejamos que
essa conferência tenha isso em mente: que a Juventude deseja um acordo de
coalizão que respeite os valores da CDU.
9. Jens Spahn (Vice-Ministro
Nacional de Finanças, ex-Membro da Juventude da CDU)
- Olhar Erdogan, olhar Putin,
nos mostra o quão sortudos somos de ter Merkel, porém, perdemos muitos votos,
desabamos em alguns estados e temos que reconhecer e mudar isso. Não podemos
ignorar.
- Dizem que acabou o tempo dos
partidos populares, que temos que aceitar isso, que a direita populista cresceu
na Europa toda e assim será. Não concordo. A CDU deve seguir agregando todos e
não queremos ter um partido radical à nossa direita no Parlamento, temos que
ocupar esse espaco.
- A União é justamente a
diversidade, o conjunto de diferentes ideias que se unem em prol do país, mas
deixemos bem clara nossa diferença para a esquerda: temos orgulho da Alemanha,
de nossos valores, não queremos a destruição de nossa cultura nacional. A nossa
Juventude deve falar das questões difíceis. O partido não fala. Acham que
perdemos votos por quê?
- Temos nossas obrigações
humanitárias, mas a migração e a integração só funcionam com o aceite da
população.
- Temos que dizer ao eleitor
que entendemos o recado e vamos corrigir. Nossos parceiros de coalizão terão
que entender que também precisam fazer isso para dar satisfação aos seus
eleitores. Somos abertos, somos liberais, mas não somos idiotas.
10.
Ruben Schuster (Secretário de Relações Internacionais da Juventude CDU)
- Temos um forte trabalho
internacional. A nível europeu com a Juventude do PPE (YEPP) e mundial com a
Juventude da IDU (IYDU). Isso é fundamental, por exemplo, quando nossos jovens
se elegem nas cidades, nos estados, e possuem essa experiência internacional.
Mais de cem convidados internacionais vieram para nossa convenção, isso mostra
a relevância da nossa Juventude.
- Ganhamos a eleição e
perdemos ao mesmo tempo. Queremos ser protagonistas na discussão dos novos
rumos do nosso partido, pois somos a ala partidária mais ativa de todas.
11.
Chanceler Angela Merkel
- Nosso papel é lutar por
segurança garantida para todos. Temos que definir qual o tipo de integração que
os imigrantes terão, mas sempre respeitando a Lei. Qualquer pessoa que
desrespeitar a nossa lei, seja imigrante ou não, será punido. Tenho que elogiar
as iniciativas do presidente francês Macron.
- A AfD aponta problemas mas
só a CDU e a CSU sabem resolver os problemas. O mundo hoje é muito complexo,
nenhum país pode resolver tudo sozinho. Parabéns à Juventude pelo congresso,
tenham a certeza de que o partido está vendo e valorizando. Prometemos defender
os valores da CDU e da CSU na coalizão.
- Nós não queremos fronteiras
fáceis de romper, queremos fronteiras que nos protejam, mas têm que ser as
fronteiras europeias, não adianta ser apenas nas fronteiras da Alemanha.
- Se não tratei devidamente da
questão dos imigrantes na campanha, lhes peço desculpas. A juventude deve nos
ajudar a trazer mais jovens e a explicar a eles da necessidade de se capacitar,
se digitalizar. Jovens têm o direito de questionar a Chanceler sobre temas
políticos e alguns o fazem de forma contundente.
Perguntas:
P - Somos o único partido
popular, do povo. Isso é mérito seu, Chanceler, agradecemos a você. Mas não
aprovamos seu ministério, pessoas ultrapassadas que estavam com a senhora na
sua coletiva após a eleição. O discurso de que não se sabe o que poderíamos ter
feito diferente foi péssimo, um erro.
P - A senhora concorda que
tivemos uma derrota nas eleições? Concorda em sermos de centro-direita ao invés
de começar a defender tudo? Está de acordo com a resolução de nossa Juventude
de não ser concedida a cidadania alemã a quem a Lei não permite?
P - Queremos mensagens claras
no acordo de coalizão. Estávamos reticentes quanto a esta coalizão, mas a
senhora nos deu esperança de que possa funcionar. Mas temos que marcar nossos
valores.
P - Como a senhora pretende
melhorar a comunicação do governo?
Respostas:
- Não fiquei satisfeita com o
resultado, não pensem isso. Eu quis dizer que lutamos ao máximo para atingir
nosso objetivo e eu não poderia naquela coletiva desvalorizar uma vitória, os
nossos eleitores ou parecer que estava chocada.
- Uma frase foi tirada fora do
contexto, mas terei que viver com isso. Quero mostrar força pensando exatamente
nas conversas da coalizão, por isso mesmo comemorei a vitória.
- Eu defendo os nossos
ministros, eles fizeram um grande trabalho, mas prometo renovar a equipe do
nosso governo gradualmente.
- Quero dizer a vocês que
política não é apenas tirar selfies como alguns dos nossos adversários fazem,
política demanda trabalho, competência e dedicação.
- Queremos sim que não haja um
partido à direita da CDU/CSU, mas não podemos atingir isso traindo nossos
valores. Somos democratas cristãos, liberais-conservadores.
12.
Alexander Dobrindt (Ministro do Transporte e Infraestrutura)
- Nosso papel é ocupar o
espaço do centro e da direita democrática, não deixemos os votos para outros,
não deixemos os eleitores acharem que não há espaço para eles em nosso partido.
CDU e CSU vão conversar e analisar a agenda para negociação de coalizão com os
demais partidos.
- As migrações sem dúvida
serão um tema central da negociação. As pessoas vêm para Alemanha atrás de uma
vida melhor, eu entendo isso e simpatizo. Muito embora nosso espírito
humanitário seja sem limites, a possibilidade de integração, o sistema social e
a empregabilidade não são ilimitados.
- Não quero só falar de
migração a cada momento, quero ter tempo também de falar sobre melhorar a vida
dos alemães, sobre inovação e desenvolvimento sustentável. Não tenhamos medo da
automação, da digitalização, deixemos a baboseira de esquerda de lado, temos
que aprender a competir no mercado cada vez mais tecnológico.
13.
Thomas de Maiziere (Ministro do Interior)
- Nunca se questionou tanto a
qualidade dos serviços que são de responsabilidade do Estado como atualmente.
Tudo está cada vez mais complexo e a política também. Os alemães estão com medo
do futuro porque estão felizes com aquilo que possuem no presente.
14.
Annegret Karrenbauer (Governadora do Sarre)
- É nosso papel defender a
Europa, defender o Euro. Nós sabemos bem o que aconteceu quando focamos em
nossas diferenças. Não queremos que nossos filhos passem pelo que nós passamos
com os efeitos do nazismo e do comunismo.
- A esquerda pensa primeiro no
partido e depois no país. Por isso não querem repetir a coalizão. Vão perder a
eleição novamente em 2021. Willy Brandt estaria envergonhado do SPD de hoje.
- O SPD estar mal não pode ser
suficiente pra nós. Nós temos que mirar sempre 40% dos votos, 50%. Somos o
partido popular. Nossa tarefa é essa, defendendo nossas raízes e ocupando o
Centro.
- Temos que avançar ainda em
diversos setores. Na área digital por exemplo, não podemos ter a Estônia como
nosso exemplo e apenas seguir. Temos que fazer melhor.
- Após 27 anos, nós não
deveríamos mais distinguir entre Alemanha Ocidental e Oriental. Os nossos
problemas têm que ser tratados como coletivos. Não podemos na Alemanha
Ocidental achar que a AfD é um problema da Alemanha Oriental.
- O papel da Juventude da CDU
é tirar a CDU da zona de conforto. Melhor que nossa Juventude questione do que
sermos surpreendidos nas urnas por termos perdido contato com a sociedade.
15.
Entrega de prêmios para os jovens da CDU que mais atuaram no Twitter e no
Facebook em prol da Juventude nos últimos anos. Convite ao palco dos jovens que
trabalharam na organização do evento. Encerramento com hino nacional alemão.
Título e Texto: Bruno Kazuhiro, via Cesar Maia, 11-10-2017
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