segunda-feira, 13 de novembro de 2017

“Antipolítica de alto nível” (?!) é solução para o Brasil?

Cesar Maia

1. Não é a primeira vez no Brasil – desde a democratização – que se busca um nome da "sociedade civil", de alto nível, para superar uma eleição entre políticos “criminalizados” na percepção da opinião pública.

2. Um caso, digamos, clássico, aqui no Brasil, envolveu a eleição para Governador do Estado de São Paulo em 1986. Orestes Quércia enfrentava Maluf e Eduardo Suplicy, do PT. Surgiu como alternativa da "sociedade civil" o líder empresarial Antônio Ermírio de Moraes.

3. Antônio Ermírio de Moraes, do grupo de empresários que liderou o processo de democratização no Brasil, era a referência de competência e ética. Basicamente é o que se queria. E é o que hoje se quer. Naquela eleição, o senador Fernando Henrique Cardoso abandonou o candidato de seu partido e apoiou Antônio Ermírio de Moraes. Quem venceu a eleição foi Orestes Quércia.

4. Hoje, a “Lava Jato”, expondo o alcance da corrupção entre grandes empresas e líderes políticos, terminou por confirmar a percepção média do eleitor sobre a inconfiabilidade nos políticos. As crises política, econômica e ética levaram essa percepção ao extremo.

5. As pesquisas de opinião confirmam isso. Em pesquisa recente da IPSOS, nenhum político das trinta personalidades citadas teve taxa de aprovação maior que desaprovação. Só três personalidades tiveram um saldo positivo: dois magistrados e um animador de TV.

6. Partidos e pré-candidatos a presidente passaram a correr atrás destes dois perfis (magistrados e destaques de audiência/popularidade na TV e no esporte) para compor suas chapas ou seus hipotéticos futuros ministérios ou governadores. E sempre que os apontados sinalizam a possibilidade de aceitar a “missão”, a mídia passa a dar a eles uma enorme cobertura, confirmando que a renovação e a confiabilidade passam por eles. Consagra a AntiPolítica.

7. Um politólogo ironizou essa situação dizendo que o eleitor médio, ao meio desta crise, está buscando alternativa na área de entretenimento. E explica, dizendo que a cobertura dada pela mídia – especialmente pela TV – às denúncias e aos julgamentos, inclui os magistrados nesse campo do “entretenimento público”. Os magistrados mais destacados na mídia têm negado radicalmente que aceitam essas indicações.

8. É o quadro que se vive no Brasil. Aquele politólogo reforçou seu raciocínio dizendo que se a suposta competência técnica como executivo de empresa fosse um atributo fundamental, dever-se-ia se fazer concurso público para escolher o presidente e não eleição. E se a opção fosse popularidade, bastariam as pesquisas de opinião.

9. Bem, o jogo começa a ser jogado. Acompanhemos. 
Título e Texto: Cesar Maia, 13-11-2017

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