Ana Paula Henkel
Esta semana, aqui nos EUA, o
Partido Republicano anunciou o plano para uma reforma tributária profunda com
significativas reduções de impostos para alguns setores. A ideia é estimular o
crescimento econômico deixando mais dinheiro na mão da sociedade. Um grupo de quatrocentos
milionários ligados ao Partido Democrata (não confundir com a própria imprensa)
reagiu dizendo que eles não querem deduções tributárias. Sim, você leu direito:
ricos que querem pagar mais impostos. Humm. Como não querer apertar as
bochechas de quem está comprando a ideia de que algumas das maiores fortunas
americanas querem mais impostos para elas próprias? Vendo as matérias na TV,
confesso que fico com uma ponta de inveja de tanta inocência engajada.
Algumas raposas felpudas do
jornalismo caíram, meio “sem querer, querendo”, na fábula do rico com
consciência social, do banqueiro com coração, do bilionário altruísta que está
cansado de tanto dinheiro e agora quer que os companheiros do governo
intervenham ainda mais na economia e confisquem o que eles ganharam em tempos
de liberdade. Sei.
Essa gente que ficou
estupidamente rica na iniciativa privada agora quer a estatização da
solidariedade? O PSOL nasce para todos, até em terras ianques. Para alguns
correspondentes que vivem na bolha democrata por aqui, a Síndrome de Estocolmo
venceu a ganância e um outro mundo é possível. O velho discurso marxista de
botequim ganhou os palácios da elite branca, culpada e cansada de guerra. Que
homens!
A verdade inconveniente é que,
não contem para os valorosos militantes do jornalismo engajado, o milagre do
capitalismo está na geração de riqueza. A visão jacobina de que a emancipação
da classe trabalhadora e do povo virá da pilhagem do dinheiro dos ricos é um
dos mitos mais antigos que existe, mas que, até hoje, só enriqueceu burocratas
do governo, intelectuais e, curiosamente, bilionários com coração. Quando a
geração de riqueza desacelera, a mobilidade social também pisa no freio e os
ricos continuam ricos, assim como pobres continuam pobres. Não precisa ser
economista para saber isso.
A riqueza criada do país que
adotei foi fruto direto do trabalho de empreendedores incomparáveis durante a
segunda metade do séc. XIX e a primeira do séc. XX. A terra dos livres e lar dos bravos deu
certo, e o mundo sabe disso, muito pelo grande estímulo ao empreendedorismo. Os
números da imigração não mentem, inclusive de intelectuais que ficam por aqui
fazendo biquinho para o país enquanto choram pelos 100 anos da revolução russa
(que vergonha alheia, Deus pai).
Se os inimigos da América
antigamente usavam martelo e foice, hoje aparecem de terno e gravata em salões
refrigerados pedindo a importação de regimes que nunca funcionaram em qualquer
lugar, especialmente se comparados aos resultados incomparáveis daqui. Não faz
sentido, mas ideólogos e revolucionários de butique não precisam fazer sentido,
uma bobagem burguesa.
O Partido Republicano quer
agora repetir Reagan, outro direitista (tirem as crianças da sala!) que aposta
no, perdoem o palavrão, liberalismo. O caubói de filmes B, tão ridicularizado
pela imprensa engajada na época quanto o presidente atual, pegou um país com
inflação de dois dígitos, recessão, desemprego e cabisbaixo. Depois de oito
anos de gestão, iniciados em 1981 com um discurso histórico que disse “governo
não é a solução, o governo é o problema”, Reagan mostrou ao mundo que com menos
impostos temos mais investimentos, mais empregos, mais inovação e mais riqueza
para todos, iniciando um período de 25 anos ininterruptos de crescimento e
desenvolvimento. Nada mal para um caubói de filme B, o que ainda irrita
intelectuais e jornalistas engajados e com consciência social.
Um pouco de racionalidade e
honestidade intelectual no debate reconheceria que riqueza na mão da sociedade,
como a história americana prova, é sempre preferível à pilhagem governamental.
Quando um bilionário, que entende mais de dinheiro que nós todos juntos, quer o
governo com poderes de saquear parte do patrimônio da sociedade
coercitivamente, desconfie. Ninguém, até a última vez que eu chequei, está
impedido de dar voluntariamente parte ou todo seu dinheiro para a filantropia
ou para o próprio governo.
Os milionários travestidos de
bastiões da bondade que apoiam o Partido Democrata demandam que o Partido
Republicano não passe a reforma tributária alegando uma falsa bondade dos ricos
a favor dos pobres. Não sou economista, mas não é tão difícil entender que uma
economia engessada e regulada, que estrangula a classe média, os
empreendedores, a pequena e média empresa, que tira os recursos dos
investidores e criadores de empregos enquanto joga migalhas para o povo, é o sonho
de qualquer senhor feudal desde sempre.
A oposição democrata ao pacote
é puramente ideológica, já que cortar impostos de investidores e empreendedores
é o combustível do crescimento e da livre concorrência, algo que dá calafrios e
pesadelos em bilionários com consciência social. A nobreza, desde o feudalismo,
prefere a economia controlada pela coroa para que nenhum servo ouse se tornar o
próximo duque, garantindo as capitanias hereditárias e todo tipo de concessão
estatal para que a família continue controlando oligopólios. As esmolas
assistencialistas são um preço muito pequeno a pagar perto do lucro gerado pela
proteção dos seus mercados. O falso assistencialismo ainda é o melhor e mais
rentável balcão de negócios para os justiceiros sociais.
A elite branca do partido de
Hillary Clinton quer tantos impostos e regulações quanto possíveis para impedir
que o próximo Steve Jobs crie a nova Apple numa garagem. John Kennedy, um
democrata que hoje estaria no Tea Party, também cortou impostos radicalmente
para anabolizar a economia. Hoje seria chamado de nazista.
Lá em Minas, a gente
desconfiaria se alguém dissesse que quer abrir a porta do próprio cofre para o
ladrão, mas os tempos são outros. A estatização da caridade nunca deu tão certo
(e tanto lucro!) e todo mundo sabe disso, mas nada impede de a mentira ser repetida
mil vezes até virar verdade. Dinheiro na mão da sociedade é investimento, mesmo
quando depositado no banco, página um de economia básica, essa coisa da
extrema-direita. Deus nos salve da caridade do socialismo de butique.
O Los Angeles Times enlouquecido:
ResponderExcluirhttp://www.latimes.com/politics/la-pol-ca-gop-tax-bill-undecided-20171116-htmlstory.html