Cesar Maia
1. James Carville, publicitário responsável pela primeira campanha
presidencial de Bill Clinton, ganhou notoriedade com a vitória de Clinton sobre
Bush pai, candidato à reeleição. Bush abriu a campanha disparado na frente,
após a primeira guerra no Iraque, transmitida em tempo real pela CNN, e com
vitória rápida e decisiva dos EUA. Na Guerra do Golfo (08/1990-02/1991), Bush
teve a seu lado os destacados generais Colin Powell – secretário de estado - e
Norman Schwarzkopf – comandante das operações -, estrelas da mídia naquela
conjuntura.
2. Surpreendentemente, na parte final da campanha, a diferença
pró-Bush foi diminuindo, até que Clinton se aproximou. Numa das reuniões de
Carville com sua equipe, ainda com Bush favorito e na dianteira, gravada em
vídeo e depois amplamente divulgada após a vitória de Clinton, as dúvidas ainda
persistiam. Carville, de pé e aos berros, determinou a estratégia da vitória:
“É a economia, estúpido”!!!!
3. Carville realizou uma ampla pesquisa com cerca de 40 perguntas.
Em todas – menos numa - os temas levavam Bush à vitória. A exceção foi a
economia e o emprego, que depois do auge, durante a Guerra do Golfo, começavam
a declinar. Carville focalizou a campanha no emprego/economia, apenas um dos 40
temas pesquisados, e sua frase ficou famosa. Ou seja, a situação da economia
conduziria o resultado eleitoral. Essa frase passou a ser um carma para os
marqueteiros.
4. A situação de hoje, nos EUA de Bush, contraria essa tese da
economia como fator determinante da política e da popularidade presidencial. O
desgaste de Trump nos EUA e no mundo todo vem destacado pelas pesquisas de
opinião que o colocam com a pior aprovação presidencial por décadas. Mas a
reversão econômica e o crescimento de 3% ou pouco mais, nos últimos dois
trimestres, com queda do desemprego e da inflação, não afetou a sua avaliação.
Sua impopularidade mantém-se e agrava-se.
5. No Brasil ocorre fato semelhante. Temer convive com uma
impopularidade recorde. Desde que assumiu a presidência após o impeachment de
Dilma, a curva de sua avaliação é declinante, chegando agora a uns 5% de
avaliação positiva.
6. Mas ao lado dessa curva – declinante e sustentada - os gráficos
com os indicadores econômicos mostram trajetória completamente invertida agora
no segundo semestre de 2017. A economia voltou a crescer e os analistas falam
que a recessão acabou. O desemprego começa a diminuir e é assim nos últimos quatro
meses. A inflação despencou para um nível de 3%, raro nos anos pós Real. O
setor externo apresenta saldos crescentes. Os juros vêm sendo reduzidos,
atingindo agora quase a metade do que estavam na transição do impeachment.
7. Temer mostra forte vitalidade no Congresso, mesmo debaixo de um
enorme noticiário negativo com as duas denúncias apresentadas contra ele pelo
Procurador Geral Janot. O professor Carlos Pereira, doutor em ciência política
pela New School University, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e
professor visitante na Universidade Stanford, em estudo recente publicado no
caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (29/10/2017) demonstra com dados e
gráficos que desde FHC, “Temer é o presidente mais eficiente na relação com o
Congresso desde 1995”.
8. Nesse estudo, Carlos Pereira mostra que Temer tem o menor
custo-benefício no jogo parlamentar. Isso desmente o noticiário que atribui o
apoio a Temer a uma política abusiva de clientela – com cargos e emendas - que
seria recorde na votação das duas denúncias. Isso que estas votações retardaram
a votação das reformas econômicas que restam e levantaram dúvidas sobre as suas
aprovações.
9. É provável que vencida a turbulência dessas votações na Câmara
de Deputados, onde Temer obteve uns 55% dos votos, precisando de 33%, essas
votações retornem às pautas e ordens do dia. Mas, assim mesmo, não há qualquer
expectativa que ocorra uma reversão significativa e abrupta na avaliação de
Temer. A política de clientela não explica os votos dos deputados que estão
atentos às suas bases a apenas um ano das eleições de 2018.
10. Os casos de Trump e Temer desmentem a assertiva de Carville
como uma regra geral, compulsória e inexorável nas correlações entre Economia e
Política em relação aos chefes de governo. Isso deve animar os “mercados”.
Título e Texto: Cesar Maia, 1-11-2017
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