sábado, 9 de dezembro de 2017

[Aparecido rasga o verbo] O povo com a boca no trombone (Parte 4)

Aparecido Raimundo de Souza

Canil particular
O MORADOR DA RUA DAS VIRGENS INTOCÁVEIS, no bairro Xamêgo do Papai Babão, senhor Taborda Borboleta, está deveras aflito com seu vizinho, senhor João Fuleiro. Alega, em sua denúncia, que o referido cidadão tem aproximadamente de quinze a vinte cachorros das mais diversas raças em seu quintal. Explica que não há muro entre a casa desse morador e a sua. “Somente uma cerca de arame separando ambos os espaços. Além do mau cheiro insuportável, os animais latem e piam o tempo todo. Quando estão no cio, a coisa se torna mais complicada, necessitando trancar sua cadelinha de estimação no galinheiro”. Seu Taborda já tentou, por diversas vezes, conversar amigavelmente com Fuleiro, contudo, até o presente momento, em vão. O elemento, terminantemente, não quer abrir a guarda. Apavorado, os nervos em frangalhos, seu Taborda indaga: “que providências devo tomar?”.

Resposta: A COORDENAÇÃO DE POSTURAS DA PREFEITURA do bairro, através do funcionário Gabriel Ojna solicita que o morador ligue para o telefone (69) 3369-5569 e agende uma entrevista. Que ao ser atendido, leve consigo um dossiê com fotos do mencionado canil, bem ainda, que grave as conversas desses animais entre si, ladrando, para que seja encaminhada, se procedente, uma cópia da mesma, em inteiro teor, para o Disque Silêncio. Se realmente esses “ganires” se mostrarem ensurdecedores, a prefeitura providenciará focinheiras e anticoncepcionais para os cachorros pararem de mugir.

Rampas para cadeirantes sem acessibilidade
Em frente à Escola Municipal Professor Alisandro Sobe Pra Cima, no bairro dos Perneteiros, mais especificamente na Rua Eugênio Genioso Genial, uma faixa de pedestres está em desacordo com as rampas da calçada do estabelecimento de ensino e de um condomínio que fica testada à cara da mesma. Por conta disso, o acesso dos cadeirantes está criando uma série de problemas na hora dessas pessoas ingressarem em suas dependências.

“Temos alunos que, ao chegarem ao portão, são obrigados a se levantarem de suas cadeiras e fazerem o resto do trajeto a pé, levando as pesadas cadeiras às costas. Dias atrás, esclarece a diretora, dona Teodora Amorosa, uma dessas cadeiras fugiu das mãos de seu dono e saiu em desabalada carreira. Acabou atropelando um senhor de muletas que seguia em sentido contrário. Sem contar -, arremata nervosa, a pobre diretora, que a cadeira do aluno, com essa pancada sofrida, parou no hospital com fortes dores nas costas”. Pede socorro e, aos berros, pergunta: “o que devo fazer para que essas questiúnculas cheguem ao fim?”.

Resposta: A SETRAN, através do doutor Murilo Olirum informou que a Central de Serviços ao Consumidor do órgão acima mencionado, “refazerá” as duas novas rampas e também providenciará o rebaixamento da supramencionada calçada, colocando a faixa divergente do outro lado do condomínio, para que ela não atrapalhe “nem uns, nem outros” ao estacionarem suas queridas cadeiras. Estuda-se, ainda, a colocação de um parquímetro itinerante, nesse local, para pôr fim definitivo na demanda de estacionamento em horário de rush

Vaga para transferência
“Minha vizinha, dona Gertrudes Leitão, de 99 anos de idade, diagnosticada com fibrose pulmonar, está há seis semanas no PA da comunidade Lula Cachaceiro à espera de uma vaga para internação. Ela precisa, para ontem de atendimento, desabafa dona Amapola Fritischeimam  Folg. A quem recorrer?”

Resposta: A CENTRAL DE REGULAÇÃO DE VAGAS DO HOSPITAL ESTADUAL SE FICAR O BICHO PEGA, informa, através da sua coordenadora, dona Marisa Pantaleão, que o leito, segundo o perfil clínico da paciente, está sendo providenciado com a máxima urgência. Que ela, por obséquio, espere um pouquinho mais, nove ou dez meses, talvez um pouco menos. A busca do leite é feita a passos ligeiros nas redes estaduais de filantropias. Se houver falta de vacas, há licitações em aberto para a compra imediata desses quadrúpedes que fornecem leitos para a rede particular de camas, berços, beliches, macas, sofás e outros afins.

Terreno transformado em lixão
Um lote abandonado por seu dono, na Rua dos Urubus Aposentados, em Alto Cicatrizes Medonhas virou depósito de lixo e materiais diversos. “Dita rua, encostada a Igreja de Santo Antão, tem um terreno baldio que há tempos se transformou num pandemônio de moscas e outros insetos. A cada dia, a quantidade de dejetos no local é maior, sem que nenhuma ação por parte da administração municipal seja tomada”, denuncia o ambientalista Currupaco da Costa Papaco, que por sinal, reside na mesma localidade. Ele afirma que, apesar de por diversas vezes ter recorrido a quem de direito, o terreno continua ao deus dará, mesmo sendo cercado por residências.

“Quando algum morador coloca fogo, há risco de tragédia, que pode ocasionar queima de automóveis e até de imóveis” -, observou enfático. Currupaco em nome de seus vizinhos solicita ação por parte do poder público. “Levaremos o problema para o judiciário e a Promotoria, se ninguém tomar as devidas providências. Nesse local podem ser encontrados, sofás antigos, fogões pela metade, camas, colchões, berços, bacias de plástico, baldes com restos de comidas, animais em decomposição, roupas, e até caixões funerários. Coisa de um mês, mais ou menos, uma dessas urnas, ao ser ateado fogo, teve seu ocupante, um defunto em idade avançada ser levado a uma dessas UPA às carreiras, com queimaduras de terceiro grau. Um inferno! Não é possível que ninguém faça nada”.

Resposta: A SECRETARIA DE SERVIÇOS URBANOS DE ALTO CICATRIZES MEDONHAS, pelo seu porta-voz Maciel Leicam da Costa, informa que será realizado um mutirão em caráter emergencial para intervir no logradouro acima mencionado. Quanto ao terreno particular arrimado a Igreja Matriz de Santo Antão, a equipe de Fiscalização de Posturas irá ao local para adoção das medidas cabíveis. Num primeiro momento intimará o padre responsável pela “piróquia” e seu Santo Antão, no sentido de que ambos providenciem a limpeza imediata da gleba causadora dos estragos acima apontados.

Agentes da guarda
“Meu nome é Noemia Aimeon. Há dias que saio de Vila dos Mansos e sigo até a capital e estou assustada com o transito engarrafado que começa na Estrada das Barangas e segue pela Avenida dos Veados até o centro, que se entrelaça aí, por sua vez, com a Avenida dos Taradões. Tenho absoluta certeza de que não vi nenhum agente na região.”

Resposta: A PREFEITURA DE VILA DOS MANSOS informa a dona Noemia que os agentes de trânsito atuam diuturnamente na região compreendida entre o começo da entrada da Estrada das Barangas terminando o patrulhamento na Avenida dos Veados com a dos Taradões. O que pode estar ocorrendo é que, por trabalharem disfarçados de putas com roupas de quebradores de garrafas, com seus possantes martelos nas mãos, supradita senhora não os tenha reconhecido de imediato. Portanto, improcede a reclamação acima: “a gente” sim.
Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Da Maternidade Santa Úrsula, em Vitória, no Espírito Santo. 8-12-2017 

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Um comentário:

  1. Estes textos, apesar de satíricos, descrevessem com total "fidelidade" o descaso dos governantes para com o povo. Mais façamos disso motivos para sorrirmos. Afinal o que nos resta é sempre o resto. Fazer o que não é?

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