Aparecido Raimundo de Souza
“Eu quero é que esse canto torto feito faca Corte a carne de vocês“.
Belchior – cantor e compositor – 1946-2017
NO BRASIL, SENHORAS E SENHORES, sempre foi assim, desde que
o mundo é mundo. Os mais pobres financiam os mais ricos, os mais ricos
prosperam em farta abundância e os mais carentes se ferram nos braços tísicos
da miséria adversa. O quadro sistêmico, todavia, não desfigura nem se
subverte. A doença do Brasil é uma só.
Um câncer incurável. Um mal, portanto, irremovível e insanável. Para piorar,
esse cancro se agrava a cada dia. Minuto a minuto. Virou surto. Epidemia.
No mesmo pisar do calcanhar de Aquiles, a chaga aberta no
seio da sociedade se expande. Cria asas e formas. Formas desconexas. Voa longe,
junto com essas formas, os bons princípios, devasta a seriedade. De roldão, se
corrompe se deprava, se perverte, se subverte.
Esse vício varre tudo como um furacão destruidor. Por onde passa, esse
distúrbio deixa um rastro de ruína, morte, desgraça e algaravia. Para o
populacho sem eira nem beira, para as abelhas operárias, não há hospital da
rede pública que dê jeito. O sistema Único de Salafrários, cuja sigla
conhecemos por SUS, está às moscas, literalmente fodido e sucateado. Tudo por
aqui não presta mais.
Nesse pandemônio que nos apresentam cotidianamente os
telejornais, vemos a privada cheia, com a cordinha de puxar a descarga,
rebentada. Pra não deixar a peteca cair, a banda dos foliões do poder toca. A
banda nunca para de tocar. Tocar no sentido de açoitar, chicotear, derrotar os
mais carentes. Nessa dança de fluxo duvidoso e controverso, percebam que as
contas públicas do governo federal viraram um rombo enorme e, o mais engraçado:
jamais se fecham equilibradas. Notem, ainda, que há uma fenda que se transformou
num buraco tremendo. Por sua vez, esse buraco se subverteu em uma cavidade onde
cabem trezentas previdências juntas. Com ou sem reformas, não importa.
Um poço sem fundo cada vez mais devasso e lascivo nos traz à
lembrança o deserto do Atacama. Dentro desse desabrigo, contas e contas que se
multiplicam unicamente por se prestarem a comprar os despudores e as
desfaçatezes de deputados vagabundos, a calhordice e o cinismo de senadores
safados e acomodar cargos estratégicos. Tudo isso em consonância meridiana
para, no grand finale, programar uma
votação mentirosa, patranha, voltada a interesses obscuros, e inversos,
entrelaçados às formosuras e benefícios da presidência. A presidência, para
quem não sabe, continua a ser o ponto crucial, o precípuo da convergência
inominável, torpe, aviltante, de onde saem aos borbotões, todas as podridões
contrárias aos faustosos discernimentos. Nesse contexto, sem uma porta de
escapatória, essas ojerizas recaem, “palos secos”, nos costados da raia miúda e
dos peões, como malquerenças repulsivas que se assoalham e culminam em
fantásticos efeitos dominós.
Por seu turno, o ladrão maior, o picareta, o desonesto,
pútrido em seu palácio de cristal, às margens do Paranoá, continua travestido
de lobo em pele de cordeiro. O santinho do pau oco deveria estar, em nosso
entender, não dentro de uma redoma de vidro, com tudo a tempo e a hora, usque por aí, à solta, num tugúrio
iluminado por campânulas, comendo restos do pão que o diabo amassou, junto com
outros porcos. Esse verme, todavia, segue com a sua cara de lúcifer, mal-amado
a meter as mãos no dinheiro que deveria ser destinado à educação, à segurança
pública, à saúde, enfim, às prioridades mais prementes desse povo sofrido e
maltratado. No entanto, caros leitores, a educação que vá para a casa do
caralho, a segurança que se dilapide, a saúde, que se dizime, e o assalariado,
o pobretão, o “pagador dos patos”, o ébrio sem cachaça, o cristo que dá um duro
para manter a sua dignidade e a de sua família, garantir o arroz e o feijão na
mesa, que vá chupar prego até virar tachinha.
Na mesma garganta profunda e esfomeada, o STF (Supremo
Tribunal de Falcatruas) jamais restringirá o tal foro privilegiado. Em tempo
algum se amesquinhará o que é de interesse da massa que compõem a tribo de
vândalos e arruaceiros que vivem às nossas expensas, em Brasília. Os desordeiros que dizem votar contra (seja
foro privilegiado, ou qualquer outra porra de nome bonito, desde que não
interesse a ralé, a galera das asas quebradas), os velhacos, em idade e
esperteza, bem sabemos, têm esquemas formados e quando algum imbecil com cara
de puritano inventa de “votar contra” para inglês ver, ou “pedir vistas”,
procrastinando, é sinal que a propina gorda está por perto e logo dará um jeito
de chegar aos bolsos desses retardatários. E chega.
Propina neste brasilzinho de punguistas e batedores de
carteiras dos “comuns” (para quem não sabe ou desconhece, nós somos os
“comuns”, os buchas de canhões), muda ideias, altera jurisprudências, mostra
outra direção ao bom senso, à honradez, a falta de brio e vergonha. Cria
centenas de válvulas de escape existentes e até não conhecidas no direito. O
direito, na verdade, é desonradamente esquerdista e serve aos bolsos de quem dá
mais, ou por outra, promove convescotes com capitalistas e latifundiários.
“Todo podre poder emana do senado, da câmara do TSJ e outros chiqueiros e em
seus soberbos e intocáveis nomes são amplamente exercidos”.
Mudando de rota para não colidir com a caravana de
flibusteiros, vejamos outras aberrações acontecidas recentemente. No Rio de
Janeiro, a mais destacada do ano foi esta, sem sombra de dúvidas. O ilustre Garotinho inventa uma maneira nova
de sair da cadeia. Os senhores se lembram dele? Garotinho, maridinho de
Rosinha. Essas “saídas” ou “escapadelas”, as famosas brechas da lei, pós-prisão
do ex-governador da Cidade Maravilhosa, virou moda. A falsificada “agressão”
por ele engendrada (ele, Garotinho, maridinho de Rosinha), na cela onde estava,
em Benfica, foi a mais bem bolada até agora.
Os seus advogados, em passos iguais, requereram perícia nas
fitas de monitoramento. Tal lorota passou a ser o lance mais bem engendrado, a
cartada de mestre. A coqueluche, a bola da vez. Com certeza, essas rachaduras
permitidas pela grana que a lei recepciona comprar, servirão para outros
Garotinhos trambiqueiros e futuros fraudadores seguirem os mesmos passos e se
beneficiarem. Botem reparo, senhoras e senhores num ponto importantíssimo. O
“porrete” agressor da opugnação kikikikikiki escafedeu...
Advogados regiamente pagos com nossos suores, não faltarão
para criarem celeumas e futricas as mais diversas com o escopo de engambelarem
os ilustres doutores da lei. Lei de merda, códigos retrógrados, prescrições,
regras, calhamaços de normas e obrigações que, trocados por um penico de bosta
sairá mais caro que o cagalhão nele contido. Logo, nesse galinheiro
republiqueta de fezes, tudo cola! Esses estratagemas, essas armações, para quem
pode pagar bons enganadores do direito costumam dar certo. Aliás, tem acertado
na mosca. Principalmente quando o dinheiro vem oriundo de mumunhas, trapaças e
os mais diversos tipos de logros. Parece impossível, mas não é. Em contradita,
é fácil e ameno, como peidar num elevador cheio de Manés e Maricotas de cabeças
e mentes vazias. Ninguém reclama. “Bangu 8, aí vamos nós”. O “bem fica” não deu
certo. Dá-lhe Garotinho...
Em resumo, caros leitores e amigos, precisamos enxergar que
o “brazil” não tem jeito. Não temos, não dispomos de nenhum cidadão que se
candidate (ou que já esteja ou que venha a depois, com tez viadal e palavreado
intocável) que lhe de solução plausível. Não há salvação para a sua alma
corrompida. O país não tem cura. O ideário dos partidos políticos brasileiros,
não é para valer, ou para ser levado a sério. Única e tão somente se presta
para ser usado ao sabor das conveniências e dos interesses que pipoqueiam em
cada novo momento. Pelo poder, em nome dele, por ELE, valem todas as armas.
Estava certo, o grande cantor e compositor Moacyr Franco, quando num momento de
pura lucidez, nos brindou com o clipe abaixo, clipe este que fizemos a
gentileza de trazer à baila. Assistam.
Quem não concordar com nossas assertivas, ou com a poesia
séria de Franco, por favor, mostre a cara. Emita a sua opinião. Assim, de uma
forma branda, cortês e indireta, saberemos a quem aplaudir num amanhã que se
avizinha ou, na pior das dores de cabeça existentes, deixarmos de lado, como um
amontoado de esterco que se atira a um monturo de lixo.
Título
e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Da Lagoa Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro. 12-12-2017
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A tempos também ando revoltada com essa "máfia" que é a política brasileira e me sentindo apenas uma "massa" disconforme nas mãos deles. Como a música do Gilberto Gil:..."a dor da gente, é dor de menino acanhado..."
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