terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Capina (III)

Haroldo P. Barboza

Ilustração: Jarbas
O resultado desta política de abandono e menosprezo pelo povo resulta na falta de oportunidade que nos conduz à miséria e à revolta por parte daqueles que percebem que estão sendo varridos para baixo do tapete junto com a lama dos escândalos que pipocam nas altas esferas dos governos, e são engavetados cinicamente apesar do clamor (?) público. Na verdade, empurrados para favelas inchadas que acabam servindo de ótimos esconderijos para os bandidos das armas de fogo. Os bandidos que portam canetas de ouro continuam instalados em entidades sociais bem refrigeradas, na posição de dirigentes de nossos destinos. Aos "alienados mentais" fabricados e sem oportunidades de crescerem dignamente como seres humanos são oferecidos programas do tipo "xuxelândia, gugulândia e BBBB N" – onde N=qualquer algarismo enquanto der audiência. Santuário popular da mediocridade onde o participante que elabora uma frase com cinco palavras é considerado "gênio". Em paralelo, ocorre um processo sistemático de descaracterizar nosso linguajar, incorporando com grande força à nossa linguagem, termos estrangeiros que são “aportuguesados” nos grandes centros e tornam-se hieróglifos alguns quilômetros após a fronteira com o interior.

Só nos resta abaixar a cabeça e permanecer colônia à espera de um messias de alguma história da carochinha? Mas nossos heróis não são Tiradentes, Dom João VI, Anita Garibaldi, Caxias, Oswaldo Aranha, Monteiro Lobato, Carlos Lacerda, Assis Chateaubriand nem Barbosa Lima Sobrinho. São eles: Rambo, Mickey, Pateta, Mandrake, Vingador do futuro e outros do mesmo baixo quilate. Em comum, suas mensagens subliminares de hipnose do povo que já não sabe mais identificar sua cidadania e dignidade e fica "agradecido" quando há alguma promoção no kit de sanduíches do Mc (pato ou corvo?) Donald's.

Afinal de contas, quando nossas crianças terão direito de estudar e brincar usando nossos valores e nossas culturas tradicionais? Por quanto tempo mais teremos de gerar crianças famintas para garantir o estoque de escravos dos níqueis? Como elas poderão crescer sem medo depois de ouvirem canções de ninar cujas letras são negativas: assustam (Boi da cara preta), ameaçam (Marcha soldado), acusam (A canoa virou), desgraçam (O cravo e a rosa)? Certamente tendem a chegar ao mercado de trabalho com receio de competir, questionar ou protestar para defender suas convicções! Quando pedagogos de gabarito terão suas sugestões analisadas pelo Ministério da Educação para a normatização de uma política que eduque e forme cidadãos conscientes de suas escolhas? Quando os alunos voltarão a respeitar seus Mestres?

P.S.: E a mudança da presidência em 2002 nos deu a impressão que poderíamos iniciar a longa caminhada em direção à dignidade. Não estávamos esperando mágicas para consertar em quatro anos o que foi arrebentado durante cinco séculos (com mais força nos últimos trinta anos). Apenas ficamos na expectativa de que a embarcação mudasse de rumo pelo menos uns trinta graus. Mas, infelizmente, a máfia do poder segue o trajeto para nos manter como eterna colônia. E o povo cada vez menos afortunado se distancia da qualidade mínima de vida, que arranha de maneira profunda a dignidade e a soberania de nossa pátria. E culmina (será que ainda ocorrerão fatos piores?) com a lama proveniente da represa de esterco, que está prestes a desabar, contribuindo para uma indesejável (mas inevitável) convulsão social que se aproxima e que certamente vitimará diversos inocentes. E a indiferença das autoridades com o destino do povo se reflete na atitude da Deputada Guadagnin (PT) que debochando dos eleitores, executa a dança da pizza para comemorar a “inocência” de mais um dos trezentos picaretas (número que Lula calculou por baixo em 2003) do escândalo do “mensalão”.

O espírito de cidadania latente em cada coração encontra-se amordaçado em grande parte da população que foi doutrinada pela mídia viciada a comportar-se como mero zumbi pagador de impostos (trabalhamos 4 meses para atender à carga tributária) e consumidor de supérfluos. A luz de libertação de nossa dignidade que procuramos há décadas deve estar dentro de alguma cova, tendo em vista que o túnel já desmoronou há bastante tempo. A hipocrisia da sociedade que a tudo assiste sem esboçar reação, certamente está nos garantindo a condição de colônia por mais cinco séculos. Em pesquisa de qualidade de ensino realizada no mundo no final de 2005 entre cento e quarenta e dois países, o Brasil figurou na 126ª posição em índice de repetência (mesmo com as aprovações por decreto). Camboja e Haiti estão melhores que nós. Talvez seja o caso de efetuarmos uma permuta justa: mandamos tropas de competentes militares para o Haiti. Em troca, devemos receber uma comissão de docentes para mostrar-nos um sistema de ensino mais adequado para quem pretende evoluir como nação, através das ações de administradores comprometidos com as causas sociais que elevem nossa qualidade de vida. 
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, Rio de Janeiro

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