Cesar Maia
1. A clássica divisão dos partidos políticos de massas e de quadros
foi facilitada pela estática das ideologias. O partido de massas - dada a
ideologia - priorizava a mobilização e estimulava as lideranças carismáticas. O
partido de quadros - dada a ideologia - priorizava a qualidade intelectual de
suas lideranças em todos os níveis.
2. Um ponto que os aproximava era serem partidos que partiam de
ideologias dadas e seus líderes, seus quadros e intelectuais, reforçavam as
mesmas ideias com argumentos mais sólidos ou mais mobilizadores.
3. Nos anos 30 as juventudes mobilizavam e eram mobilizadas, tanto
pelas ideias de direita quanto de esquerda.
4. No pós-Segunda Guerra, as juventudes partidárias referenciadas
mais à direita - talvez por se sentirem vitoriosas - perderam ou reduziram em
muito as suas forças de mobilização. Por outro lado, as juventudes partidárias
referenciadas à esquerda pela importância e crescimento da influência da União
Soviética e da China, e na América Latina de Cuba, passaram a ser o polo quase
único de mobilização das juventudes.
5. As rebeliões universitárias de 1968 misturaram o campo
ideológico com o comportamental, e de certa maneira, funcionaram como uma
fronteira que antecipou a debacle da União Soviética e da hegemonia das suas
ideias, e paradoxalmente, marcaram a desmobilização das suas juventudes
partidárias.
6. Nos últimos anos, a sensação de que a política tinha perdido seu
lastro ideológico foi um vetor de desmobilização. Mas - no Brasil - trouxe uma
importante novidade. As juventudes de partidos de esquerda perderam o monopólio
e hoje se pode afirmar que não o tem mais. Isso tanto ocorre nos movimentos
estudantis quanto nos movimentos sociais e religiosos.
7. Mas com uma certa fluidez ideológica, as ideologias deixaram de
ser estáticas. Ou seja, estão em movimento. Nesse sentido, as juventudes de
massas não trazem nenhuma renovação e se tornam, simplesmente, correias de
transmissão com suas bandeiras, camisetas e, mesmo, com suas redes sociais.
8. As juventudes de quadros - observada a tradição anterior - de
formação de lideranças em base a ideologias estáticas - de esquerda ou de
direita - o são da mesma forma.
9. Mas surge um vazio a ser ocupado hoje pela juventude de quadros.
Formar jovens intelectuais que possam renovar as ideias, e ao falarem para o
mundo de amanhã, relançarem a política em novas bases, já que pensam com muito
maior independência sem terem incorporado ideias que os tornam estáticos.
10. Isto vale também para as redes sociais. E sendo assim voltam a
ser inovadoras e por isso mobilizadoras.
11. Nesse final de ano estreia nos cinemas o filme O Jovem Karl Marx, de Raoul Peck, que
trata dos jovens Marx e Engels, jovens intelectuais de extração social distinta
e no entorno de seus 25 anos, enfrentando a repressão dos regimes autoritários,
e que ao meio de lideranças e intelectuais consagrados como Proudhon e Bakunin
e da mobilização deles e outros, e líderes sindicais, para dar organicidade a
Liga dos Justos, rebelam-se, e afirmam que sob aquelas ideias, por mais
radicais ou românticas que fossem, não se organizaria um movimento operário independente
renovador e mobilizador.
12. Que o fundamental era fazer uma revisão profunda daquelas
ideias. Finalmente é entregue a eles a responsabilidade de escrever um texto
que servisse como orientação e plataforma ao movimento operário. Em 1848 saiu
do forno - dos 30 anos de Marx e dos 28 anos de Engels -, o Manifesto
Comunista, base da Liga Comunista. E desencadeador de um novo movimento político
pelo mundo todo.
13. Não se trata aqui - no filme - de ideologia. Mas de - tendo
como referência este filme - mostrar que a juventude de quadros num ambiente
dinâmico deve ir muito além das ideias estáticas anteriores. Deve mergulhar
fundo no campo de ideias que possa renovar a política e apontar para o futuro
e, dessa forma, pela força dessas novas ideias, ser fortemente mobilizador.
Título e Texto: Cesar Maia, 13-12-2017
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