Rodrigo
Constantino
Vamos aos fatos: vivemos na
era do asfixiante politicamente correto, da “marcha das minorias oprimidas”, da
“revolução das vítimas”, em que os “fracos e oprimidos” nunca tiveram tanta
força e poder. Diante disso, há um duplo padrão hipócrita insuportável no
mundo, especialmente na bolha “progressista”, que aderiu com paixão a esse
ambiente – o que digo? – que ajudou a criá-lo!
Como reação a essas bandeiras
todas que têm como denominador comum o ódio ao legado da civilização ocidental,
o ataque ao cristianismo, à família tradicional e ao homem branco
heterossexual, alguns estão finalmente reagindo. A eleição de Trump é o
principal marco dessa reação. Não tem nada a ver com “supremacistas brancos”,
mas com pessoas normais que cansaram de apanhar caladas.
O estilo meio bufão do
presidente, com seu principal instrumento de guerra – o Twitter – tem deixado a
turma politicamente correta em pânico. Trump coloca os pingos nos is, não tem
medo de destacar a América como sua prioridade (e queriam que fosse o Haiti?
Oprah pode até lançar seu slogan de campanha: “Make Haiti Great Again”, mas
acho que vai render poucos votos), de dizer certas verdades inconvenientes (ao
contrário das mentiras convenientes de Al Gore, Obama e companhia). Mas até
onde deve ir tal reação? Tudo que for politicamente incorreto passa
a ser louvável?
A fala atribuída a
Trump sobre alguns países pobres, como Haiti e El Salvador, de que seriam
“países de merda”, levanta uma boa reflexão sobre tais limites. A Casa Branca
nega ter usado essas palavras, apesar de reconhecer que Trump foi duro mesmo
com tais países. E surge a questão: mesmo sendo verdade, deve um presidente
dizer algo assim? E a liturgia do cargo, o decoro, o respeito aos demais povos?
Somos – o povo brasileiro
principalmente – muito ligados na forma, e menos no conteúdo. É
isso que explica, em parte, os discursos sensacionalistas e populistas da
esquerda, a fala feminista hipócrita de uma Oprah comovendo milhões que
preferem ignorar sua relação de longa data com um predador sexual como Harvey
Weinstein. Mas será que, por conta disso, a forma não tem mais relevância
alguma?
Penso que tem, e que não
podemos aplaudir tudo aquilo que for politicamente incorreto por ser politicamente
incorreto, ou por ser verdade. Aristóteles sabia que o homem é um animal
político, social, e que só um Deus ou um bruto pode abrir mão disso. Qualquer
um que já foi perguntado pela esposa se o novo cabelo ficou bonito entende
que dizer sempre a verdade, custe o que custar, não é boa política, tampouco
postura de quem realmente se preocupa com o próximo.
Ou seja, há certas verdades
que não precisam ou não devem ser ditas, especialmente por quem ocupa certos
cargos. Mas o avanço do politicamente correto chegou a um grau tão absurdo que
produz esse tipo de reação. Por mais compreensível que seja, porém, considero-a
inadequada, contraproducente. O tiro sai pela culatra. Exige-se dos
conservadores de boa estirpe uma postura diferente, superior, em
vez de nivelar tudo por baixo.
“Olho por olho e a humanidade
acabará cega”, disse Gandhi. Mas se isso é verdade, também é verdade essa
outra: “olho por nada e uma parte da humanidade acabará cega”. A parte que
não reagiu. Talvez – e mantenho o benefício da dúvida – figuras como Trump
sejam um remédio amargo, mas necessário, para encerrar de vez essa “marcha das
minorias oprimidas”, que passou de qualquer limite aceitável. É o duplo padrão
que não dá mais para engolir. Ben Shapiro, que tem postura firme, porém
elegante, saiu em defesa de Trump:
Sim, os países mencionados são
terríveis. E, repito, o duplo padrão é que mata. Senão, vejamos: vários líderes
podem destilar antiamericanismo à vontade, chamar os Estados Unidos de Grande
Satã, desrespeitar o presidente legitimamente eleito da nação mais potente do
mundo, e fica por isso mesmo? Ninguém pode reagir? Não se pode usar a mesma
moeda para falar dos outros? É preciso apanhar calado? Israel, então, nem se
fala! É demonizado na própria ONU e não parece ter o direito de sequer se
defender.
Trump é ridicularizado por
todos da mídia o tempo todo, mas se falar em “países de merda”, referindo-se a
países realmente fracassados, será cruelmente julgado pela mesma mídia. É
irritante essa seletividade, eu sei, mas é parte do jogo. E não acho que a
melhor resposta seja descer ao nível dos adversários, provocar para expor a
farsa. O perigo de olharmos tempo demais para o abismo é ele olhar de volta
para nós. O risco de conviver tempo demais com o monstro, adotando seus métodos
para derrotá-lo, é nós mesmos virarmos outro monstro.
Estou cansado do politicamente
correto, da “revolução das vítimas”, do duplo padrão, da seletividade
hipócrita. Estou muito cansado – podem acreditar, ou nem precisam, pois basta
verificar quantos textos escrevo sobre isso. Mas não posso achar legal um
presidente se referir a outros países dessa forma, por mais verdadeira que seja
a afirmação. É simplesmente errado. Não condiz com a liturgia do cargo,
tampouco com o próprio “sonho americano”, como lembrou uma congressista republicana de origem haitiana.
Dito isso, não resta dúvidas
de que boa parte da população, tão cansada quanto eu, mas com menos tolerância
ao contraditório, vai achar legal o presidente dizer isso, ou vai aplaudir se
seu candidato rebater uma jornalista de um veículo de esquerda da forma
que Bolsonaro fez com a Folha sobre o uso do apartamento.
Pode até ser engraçado, mas é tosco, vulgar, e repudiar tal forma agressiva
não faz de ninguém um covarde adepto do politicamente correto, mas apenas
alguém com bom senso.
O filósofo de direita pode ter
razão, mas com frequência a perde quando sai xingando todo mundo por aí. Se o
objetivo for só chamar a atenção para as táticas seletivas dos oponentes, tudo
bem. Mas se a meta for persuadir mais gente e ajudar a construir um mundo
melhor, mais educado e civilizado, o tiro pode sair pela culatra. É preciso ter
conteúdo e também uma postura digna. Existem formas e formas
de falar a verdade, ou de deixá-la subentendida. A elegância costumava ser um
valor conservador. Eis aí algo que vale a pena ser resgatado…
PS: William Buckley era o
ícone desse conservadorismo refinado na América, e até ele perdeu a calma e a
compostura no famoso debate com Gore Vidal, quando este o chamou de “fascista”.
Buckley ameaçou bater no adversário, a quem chamou de “bicha”. Não era de sua
natureza, não era seu estilo, e ele certamente se culpou pela perda de
controle. O que era um vício, uma fraqueza, ainda que algo humano, demasiado
humano, não pode passar a ser visto como uma virtude. Se isso acontecer, é
sinal de que a esquerda venceu a guerra cultural, e que já não temos tanto
assim a preservar da civilização ocidental, do conceito britânico de gentleman,
da velha elegância conservadora.
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 13-1-2018
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