quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Carta aberta aos meus camaradas

Rui A.


Meus Caros Amigos, Companheiros e Camaradas, de esquerda e de extrema-esquerda,

Por favor, percam lá, de uma vez por todas, esse mau vício, que tão mal vos fica, de defender corruptos.

Ou antes, e em nome da tolerância, vou refazer esta frase: percam lá esse mau vício de defenderem pessoas sobre as quais recaem fortes indícios de corrupção, ou pessoas que já foram acusadas pelos órgãos legítimos de Estados de Direito, ou que já foram julgadas e condenadas por tribunais democráticos.

Por amor da Santa, deixem de ser seletivamente «escrupulosos» nos vossos juízos morais a propósito de políticos. Não se encrespem quando aqueles que vocês consideram, infelizmente, os vossos, sentam os rabos no mocho e prestam contas à justiça. Não criem distinções entre bandidos «bons» e bandidos «maus», muito menos por razões ideológicas. Sabem porquê? Porque esses tipos não têm qualquer espécie de ideologia. São simples ladrões que se riem de vocês, quando vos veem a defendê-los e a porem as mãos no fogo pela «inocência» deles.

Deixem lá, de uma vez por todas, de exultar quando o Oliveira e Costa ou o Duarte Lima vão presos, ou quando a justiça cai em cima do Salgado, para depois acusarem a justiça, a mesma justiça que condenou aqueles “fascistas”, de perseguição ao José Sócrates (aí, o Costa, que é mais fino do que vocês, bem se pôs a léguas do mártir, deixando-o entregue à «sua verdade»…).

Deixem lá, de uma vez por todas, de exaltar com a prisão do Eduardo Cunha ou do sexagenário Maluf (o fascista da Arena que se tornou num compagnon de route do “Lulinha, paz e amor”, que com ele tirou fotografias aos abraços para elegerem, em São Paulo, o Haddad…), para depois apontarem o dedo aos juízes que, em vários tribunais e diferentes instâncias, condenaram «o político mais sério do mundo» a vários anos de prisão. Será que o Moro e os três juízes que ontem confirmaram, fundamentadamente, a sentença de primeira instância são todos corruptos? Bonzos do grande capital a perseguirem o «paladino do povo»? Vocês conseguem dizer isso sem se rirem? Que lata!

Ou será que para vocês o Estado de Direito se faz nas ruas? Ficaram muito impressionados com aqueles milhares de apoiantes do Lula, reunidos à porta do tribunal? Vamos fazer justiça popular? Vamos linchar os juízes que condenaram «o filho do povo» e levar o camarada Lula, aos ombros, para o Palácio da Alvorada? E por falar nos direitos políticos do «Lulinha, paz e amor», fazem vocês alguma ideia de quantas centenas de políticos brasileiros estão impedidos de se candidatarem seja ao que for por suspeitas de corrupção? Por que não escrevem em favor desses pobres «perseguidos» pela justiça «corrupta» do Brasil? Sabem como é que se enchem praças brasileiras de «apoiantes» seja de quem for? Sabem como é que os caciques brasileiros chamam aos eleitores cujos votos dominam e vendem a quem lhes der mais dinheiro: os «currais eleitorais». Tratam as pessoas, o povo que vocês dizem defender, como porcos.

E se vocês se preocupam tanto com a voz das ruas, por que é que não escrevem nada, como a Menina Mortágua escreveu sobre o Lula, a condenar o Maduro por continuar a oprimir um povo que nelas se manifesta e por ter mandado assassinar o maçom Oscar Pérez? E já agora, perdoem-me a ironia, por que não rasgam as vestes para defender esse filho do povo norte-americano que responde ao nome de Donald Trump da perseguição que lhe tem sido feita pela comunicação social às ordens de alguns sinistros capitalistas, como George Soros? Será que não foi o povo americano quem o elegeu? E, se é a rua que dita a lei, querem contar as cabeças que aparecem nas fotografias do III Reich, com populares alemães a esticarem o braço direito ao Hitler? Não é por aí, pois não? Não, não é. Ou melhor, para vocês é, conforme vos convém, mas não devia ser.

Pois é, meus caros: a Democracia e o Estado de Direito assentam no princípio da igualdade. Neles não há cidadãos de primeira, de segunda e de terceira. Todos somos iguais perante a lei. Somos iguais uns aos outros. Não vendam os vossos ideais – se é que ainda os têm – pela «honra» de ladrões. Não conspurquem a justiça se ela chamar à responsabilidade aqueles que foram os vossos heróis. Lamento muito, mas enganados uma vez todos podemos ser. Duas, só se formos os burros ou desonestos.
Título, Imagem e Texto: Rui A., Blasfémias, 25-1-2018



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