terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

(EM)terra à vista

Haroldo P Barboza

Nos últimos vinte ou trinta anos, alguns meses antes das eleições majoritárias, algumas TVs levaram ao ar debates entre os candidatos ao cobiçado cargo executivo da vez. A BANDNEWS (apesar de sua atuação regular de se aproximar da verdade), em função de “acordos” entre os concorrentes, nem sempre conseguiu tal objetivo devido ao “formato” dos debates. Nós eleitores, ficamos com o sentimento de que diversas perguntas não foram “incisivas” (mas sim combinadas) e pior, as respostas na maior parte foram “evasivas” - o condutor do debate também não pressiona (talvez pelo exíguo tempo) para que a mesma seja objetiva e o fulano arguido acaba escapando da “saia justa” sem se comprometer, com frases prolixas e ornamentadas com molduras que não se ajustam ao tema que a população deseja entender melhor.


Com as sucessivas decepções que colecionamos ao longo destes anos, nosso povo, que não foi educado (por conveniência dos falsos líderes) para defender seus direitos, resignou-se mais e continuou a manter no topo da cadeia governamental os ratos parasitas que sugam nossas dignidades e nossos impostos em proveito próprio.

Desta forma, nos acomodamos sem ímpeto para lutar contra o alastramento de facínoras nos altos escalões, que lá chegaram por más escolhas nas urnas. Tais batalhas ficaram por conta de abnegados jornalistas que possuem experiência e gabarito para explorar as informações sobre os desmandos que florescem sob o manto da impunidade. Mas sem respaldo do povo prejudicado, as evidências perdem brilho e caem no esquecimento. Então concluímos que o tal túnel onde uma luz brilhava, desabou. Virou uma cova (onde sobrevivemos) que em breve poderá estar coberta com terra enlameada.

Mas o ser humano jamais desiste da esperança para que o sentido da vida continue definido e sinalizando a busca de melhor qualidade de existência para cada um de nós. A partir de março de 2018 o grupo BANDNEWS planeja debates para tentar nos ajudar na caminhada por esta trilha obscura e cheia de armadilhas. E daqui do conforto do meu teclado, sem nenhum compromisso com a opinião pública, tentarei resumir algumas considerações onde obtive quase unanimidade (um grupo de menos de cinquenta pessoas) sobre os temas levantados. Torcendo para que alguma coisa útil possa ser aprimorada para que estes tais debates programados nos permitam enxergar alguma centelha que ilumine nossas mentes, apesar de sabermos que o menu de opções registra  uma quantidade indesejável de nomes não confiáveis para receberem nossa procuração para conduzirem esta nação moralmente falida (minas ela ainda possui bastante).

Esperamos que a análise destas questões permita aos promotores criarem um evento que retrate a intenção dos eleitores em receber informações corretas sem acordos de bastidores usados com destreza para iludir a percepção popular.

Claro que as perguntas devem ser formuladas por analistas políticos que vivenciam o cenário diariamente. No entanto, deve ser previsto um espaço para que o povo efetue quatro ou seis perguntas (não é difícil criar um link=livre para coletá-las e uns quatro estagiários para filtrá-las e um chefe de equipe para redigi-las claramente). Um desempregado não quer saber quantos navios o Brasil vai comprar da Noruega, por exemplo. Nem que ouvir a frase padrão: “- vamos criar um grupo especial (só com raposas) para combater a corrupção”. Mais de 90% de certeza que não vai. Ele quer saber quantas oportunidades de trabalho serão criadas e a que preço o feijão deve chegar à sua mesa. Sem frases de efeito.

Aproveitado este hipotético link-livre, será possível expor um menu com cinquenta problemas que mais denigrem nossas qualidades de vida. Cada participante (informa seu título de eleitor) elege os cinco que mais lhe incomodam para que a produtora do debate tenha uma linha de perguntas que realmente interesse aos eleitores/pagadores de altos impostos.

A participação do candidato no debate deve estar atrelada ao registro de sua plataforma em cartório. Uma cópia pode ficar exposta num link da emissora. Desta forma ele seria fiscalizado a partir do dia de sua posse. A cada medida futura contraditória, ali estaria a arma para derrubar a carreira de quem promete e depois inverte.

É preciso que o mediador colabore para a mudança do tal “formato” viciado. Cada vez que um questionado responder algo do tipo “vou mergulhar fundo neste problema” e/ou “vou criar uma comissão para conduzir o assunto” deve ser replicado pelo apresentador com pelo menos uma das perguntas simples:
- Este seu procedimento prometido consta de sua plataforma registrada?   
- O público terá acesso trimestral ao andamento da “comissão”?

Algumas questões cruciais.

1 – Investimento com a Democracia nunca é caro. O voto impresso faz-se urgente para reduzir as falcatruas em 80%. O resultado da eleição (via log das urnas-E) sai no mesmo dia. Mas a confirmação pode sair quinze dias depois com baixo custo com apuração manual setorizada. Um teste de penetração das urnas deve ser feito por entidade não ligada ao TSE. O TSE normatiza, organiza, fiscaliza as ações e JULGA (???) os recursos sobre anomalias denunciadas em SEU processo (nunca se condenou). Então perguntamos: o que o candidato fez nos últimos anos buscando um processo transparente na escolha de dirigentes públicos?

2 –Depois da posse, a equipe vencedora toma conta da chave do cofre e através de manobras obscuras (mercado futuro, precatórios e pedaladas) manobra as verbas por estranhos caminhos inacessíveis ao povo que alimenta a montanha de impostos. Então perguntamos: o candidato se compromete a publicar um “balancete” semestral mostrando o que prometeu, o que arrecadou, o que realizou e quanto gastou?

3 – Em países sérios, normalmente temos três partidos políticos. Em alguns dá para suportar uns cinco (cada um tem sua ideologia). Aqui no Brasil temos quase quarenta “ideologias”! Clara indicação de que o “negócio” é bom, pois tem o povo “otário” para sustentar um bando de aproveitadores desocupados (nem trabalham a semana cheia) montando esquemas para garantir seus ganhos. Então perguntamos: o candidato alguma vez se colocou publicamente contra este cenário degradante? Possui plano para reduzir esta anomalia?

4 – Mesmo sem os valores disponíveis ao cidadão comum, temos noção de que as dívidas de bancos e grandes empresas para com o fisco se aproximam de R$ 500 BILHÕES! Com esta grana no cofre da união certamente não seria preciso esfolar o povo para equilibrar as contas da previdência pública. Então perguntamos: ao longo de sua carreira o candidato já apresentou um projeto para receber estes valores? Pode resumir um plano para receber (inclusive de quem patrocinou sua campanha) estas quantias?

5 - Diversos elementos dos escalões inferiores são regularmente denunciados em escândalos de desvios de verbas. Então perguntamos: se algum membro de sua equipe for apanhado com “batom na cueca” será sumariamente desligado enquanto é investigado?
6 – Esta atitude de “emprestar” divisas (a fundo perdido) para outros países num cenário em que nossas instituições exibem estado de penúria próxima ao desabamento (físico e moral), nos passa a impressão de que estamos tirando alimentos e oportunidades de nossos herdeiros em prol de necessitados onde os dirigentes são corruptos e incapazes como os nossos. Então perguntamos: em alguma época o candidato condenou esta prática? Deixará de exercê-la?

7 – As elevadas mordomias que governantes desfrutam (aviões, jantares, gabinetes suntuosos, viagens de comitivas “inchadas”, frotas de carros, aspones decorativos, etc) à custa de nossos impostos são exibidas sem nenhum constrangimento pelos praticantes. Então perguntamos: em alguma época o candidato condenou esta prática? Deixará de adotá-la?

8 – Por dolorosas experiências, sabemos que ANTES do pleito os candidatos são imensamente gentis (andam sobre jegues, beijam crianças sujas de lama, visitam lixões, recebem relatórios de núcleos oprimidos e assemelhados). Depois disponibilizam gentis aspones para acionarem “resposta-padrão” cada vez que são cobrados por atos não atendidos. Então perguntamos: o candidato possui algum plano pronto para ser ativado onde o cidadão possa ser informado (e possa cobrar) sobre os problemas que mais nos incomodam?

9 – A prática do nepotismo está complicada pela vigilância virtual atualmente desenvolvida. Mas existe aquela artimanha do gestor AAA abrigar parentes de BBB e vice-versa. Então perguntamos: em alguma época o candidato condenou esta prática? Não fará uso desta malandragem?

Eu tenho mais umas vinte perguntas para sugerir. No entanto não desejo monopolizar o espaço (outros leitores certamente terão importantes questões a incluir junto à empresa jornalística) nem inchar a pauta que certamente será reduzida para caber no tempo disponível de cada programa (que pela importância merece três horas de duração).

Só esperamos que este depoimento sirva para confirmar (ou derrubar) nossas suspeitas de que tais debates não polarizam na dimensão necessária para um pleito mais consciente.

Para finalizar minha parte, resumo esta fábula abaixo.

Um consumidor “esclarecido” entrou na confeitaria bem arrumadinha. Na vitrine ele observou três tipos de doces em “promoção”.
O 1º vencido há seis dias custava R$ 0,75; o 2º vencido há quatro dias custava R$ 1,25; o 3º vencido há 3 dias custava R$ 1,50. Prevendo mal-estar futuro com gastos inesperados (médico + remédios = R$ 650,00) o “esclarecido” não comprou nenhum doce. Na semana seguinte foi às urnas e votou NULO.

Neste momento, também enxergo esta equação: menos ruim = NULO.

Parece meio “impatriótico”. Mas se o debate não produzir algo que deixe odor de honestidade (nas respostas) para o povo com fome de dignidade e respeito, qual será o jeito?

Nossa sociedade é um colosso. Sobrevive no fundo do poço. 
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, Vila Isabel, 42-2018

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