sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Paraíso no Tuiuti dos outros é refresco

Ana Paula Henkel


A escola que atropelou vinte foliões no ano passado na Sapucaí, passou por cima das rivais em 2018 e ficou em segundo na votação realizada por engajados e militantes jurados do Carnaval da lacração. A sede da escola fica em São Cristóvão, bairro com nome do padroeiro dos motoristas. Carnaval não é mesmo lugar de santo.

Fora da avenida, o Rio se transformou na Tonga da Mironga do Kabuletê. Arrastões, tiroteios e mais roubos do que a Lava Jato encontrou dos companheiros ideológicos de Jack Vasconcelos, o carnavalesco militante do PSOL que exibiu um integrante da sua escola como o “presidente-vampiro” Michel Temer. A ligação da escola com sangue e morte foi, mais uma vez, destaque. Jack, homônimo daquele famoso londrino, disse numa entrevista que não criticava o governo do PT porque era “amigo do poder e não podia arranhar a relação”. A ala da indignação seletiva entra na avenida. Dez, nota dez!

O Brasil é o país da piada pronta, mas colocar um professor de história como Temer-vampiro “neoliberalista”, uma palavra que nem existe, é um ato falho que deveria ser explorado pelo movimento Escola Sem Partido. Leonardo Morais, ao que consta, está de mudança para longe do país da CLT, uma herança de Benito Mussolini que ainda encanta e tira lágrimas das viúvas de regimes como aquele implementado na Itália com empresas “campeãs nacionais” escolhidas a dedo pelo regime, estado paternalista e interventor, liderança carismática e personalista, entre outras semelhanças com experiências recentes do país.

Professores de história não podem alegar desconhecimento das origens da CLT, mesmo do país que todo ano aparece na lanterna dos rankings educacionais, em parte porque muitos de seus professores não acreditam que dar aula é tão relevante quanto “formar cidadãos críticos e conscientes”, um eufemismo para eleitores da esquerda. Depois da tarefa cumprida, o professor pode se mudar para um país livre, próspero e sem CLT, que ninguém é de ferro. Uma aula do que virou o ensino no Brasil.

A vice-campeã do Carnaval deste ano criticou a Reforma Trabalhista com a ala “Os Guerreiros da CLT”, onde os integrantes portavam carteiras de trabalho, mas quantas carteiras a Paraíso do Tuiuti assinou ano passado?

Uma escola de samba costuma movimentar milhares de pessoas, em geral moradores de comunidades carentes, que realizam jornadas extenuantes durante horas a fio, muitas vezes varando a madrugada. O MP do Trabalho se interessou pelo tema ou a lei não se aplica a companheiros? É de se esperar que quem defende a CLT a ponto de chamar seus opositores de escravocratas dê o exemplo no seu próprio barracão, ou o paraíso da CLT é só no Tuiuti dos outros?

O Brasil está na 153ª posição do ranking de liberdade econômica da The Heritage Foundation e é indiscutivelmente um dos países mais intervencionistas, estatistas e antiliberais do mundo.

Como os intelectuais do ziriguidum acreditam que o país é “neoliberalista”, é possível que estejam mirando na Coréia do Norte, um campo de concentração a céu aberto que caiu nas graças da imprensa recentemente. Os ex-alunos de professores como Leonardo Morais estão mostrando a que vieram também nas redações.

A escola não parou no ataque ao governo. Uma das alas dizia, naquele didatismo típico da arte soviética, que os pobres e manifestantes pró-impeachment foram manipulados, provavelmente por não aprenderem política com Jack Vasconcelos ou história com Leonardo Morais. Faz sentido. A dupla acredita que o país herdado por Temer, com 15 milhões de desempregados, 10% de inflação e PIB em queda de 7% em três anos, um feito que nem uma bomba atômica seria capaz, estava a caminho do paraíso. Como disse Roberto Campos, para um socialista o fracasso é apenas um sucesso mal explicado. A Universidade Tuiuti já está distribuindo títulos de doutorado.

Outro pensador que marcou presença no Carnaval foi Gabriel, filho de Belisa Ribeiro, ex-braço direito do ex-presidente Fernando Collor. Gabriel está de volta de um sono criogênico de quase quinze anos para declamar suas rimas contra o governo do vampiro. Ele reclamou no Fantástico contra a violência, a grande chaga nacional, que repentinamente despertou sua atenção. Mas antes tarde do que muito tarde.

Gabriel, o corajoso letrista que nunca “matou” presidente petista nas suas músicas de protesto, sugere que a solução esteja na “educação”. Com professores como Leonardo Morais formando nossas crianças, há controvérsias.

O paraíso na Terra, prometido por Karl Marx, chegou na avenida pela Paraíso do Tuiuti (PT para os íntimos) e seu enredo é tão vermelho quanto o sangue da radialista Elizabeth Joffe, vítima do carro alegórico da escola que morreu após sete cirurgias e dois meses internada. A filha de Elizabeth disse que sentiu “nojo” da colocação da Tuiuti. Que o barulho da comemoração não interrompa seu descanso eterno.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, Estado de S.Paulo, 15-2-2018 

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Um comentário:

  1. Contradições e mais contradições na vida de todos nós...
    O presidente sem diploma abriu 14 universidades federais, enquanto o anterior, pós-doc, acachapou todas as que existiam (além de não abrir nenhuma, é claro).
    Neoliberalismo ou pós-socialismo, pouco importa. Quem realmente manda no jogo tá pouco se lichando para ideias, ideais, ou ideologias. Querem mesmo é dindin. Será que eu sou melhor do que esses vampiros?

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