Ana Paula Henkel
A escola que atropelou vinte foliões no ano passado na Sapucaí, passou por cima das rivais em 2018 e ficou em segundo na votação realizada por engajados e militantes jurados do Carnaval da lacração. A sede da escola fica em São Cristóvão, bairro com nome do padroeiro dos motoristas. Carnaval não é mesmo lugar de santo.
Fora da avenida, o Rio se
transformou na Tonga da Mironga do Kabuletê. Arrastões, tiroteios e mais roubos
do que a Lava Jato encontrou dos companheiros ideológicos de Jack Vasconcelos,
o carnavalesco militante do PSOL que exibiu um integrante da sua escola como o
“presidente-vampiro” Michel Temer. A ligação da escola com sangue e morte foi, mais
uma vez, destaque. Jack, homônimo daquele famoso londrino, disse numa
entrevista que não criticava o governo do PT porque era “amigo do poder e não
podia arranhar a relação”. A ala da indignação seletiva entra na avenida. Dez,
nota dez!
O Brasil é o país da piada
pronta, mas colocar um professor de história como Temer-vampiro
“neoliberalista”, uma palavra que nem existe, é um ato falho que deveria ser
explorado pelo movimento Escola Sem Partido. Leonardo Morais, ao que consta,
está de mudança para longe do país da CLT, uma herança de Benito Mussolini que
ainda encanta e tira lágrimas das viúvas de regimes como aquele implementado na
Itália com empresas “campeãs nacionais” escolhidas a dedo pelo regime, estado
paternalista e interventor, liderança carismática e personalista, entre outras
semelhanças com experiências recentes do país.
Professores de história não podem alegar desconhecimento das origens da CLT, mesmo do país que todo ano aparece na lanterna dos rankings educacionais, em parte porque muitos de seus professores não acreditam que dar aula é tão relevante quanto “formar cidadãos críticos e conscientes”, um eufemismo para eleitores da esquerda. Depois da tarefa cumprida, o professor pode se mudar para um país livre, próspero e sem CLT, que ninguém é de ferro. Uma aula do que virou o ensino no Brasil.
A vice-campeã do Carnaval
deste ano criticou a Reforma Trabalhista com a ala “Os Guerreiros da CLT”,
onde os integrantes portavam carteiras de trabalho, mas quantas carteiras a
Paraíso do Tuiuti assinou ano passado?
Uma escola de samba costuma
movimentar milhares de pessoas, em geral moradores de comunidades carentes, que
realizam jornadas extenuantes durante horas a fio, muitas vezes varando a
madrugada. O MP do Trabalho se interessou pelo tema ou a lei não se aplica a
companheiros? É de se esperar que quem defende a CLT a ponto de chamar seus
opositores de escravocratas dê o exemplo no seu próprio barracão, ou o paraíso
da CLT é só no Tuiuti dos outros?
O Brasil está na 153ª posição
do ranking de liberdade econômica da The
Heritage Foundation e é indiscutivelmente um dos países mais
intervencionistas, estatistas e antiliberais do mundo.
Como os intelectuais do
ziriguidum acreditam que o país é “neoliberalista”, é possível que estejam
mirando na Coréia do Norte, um campo de concentração a céu aberto que caiu nas
graças da imprensa recentemente. Os ex-alunos de professores como Leonardo
Morais estão mostrando a que vieram também nas redações.
A escola não parou no ataque
ao governo. Uma das alas dizia, naquele didatismo típico da arte soviética, que
os pobres e manifestantes pró-impeachment foram manipulados, provavelmente por
não aprenderem política com Jack Vasconcelos ou história com Leonardo Morais.
Faz sentido. A dupla acredita que o país herdado por Temer, com 15 milhões de
desempregados, 10% de inflação e PIB em queda de 7% em três anos, um feito que
nem uma bomba atômica seria capaz, estava a caminho do paraíso. Como disse
Roberto Campos, para um socialista o fracasso é apenas um sucesso mal explicado.
A Universidade Tuiuti já está distribuindo títulos de doutorado.
Outro pensador que marcou
presença no Carnaval foi Gabriel, filho de Belisa Ribeiro, ex-braço direito do
ex-presidente Fernando Collor. Gabriel está de volta de um sono criogênico de
quase quinze anos para declamar suas rimas contra o governo do vampiro. Ele
reclamou no Fantástico contra a violência, a grande chaga nacional, que
repentinamente despertou sua atenção. Mas antes tarde do que muito tarde.
Gabriel, o corajoso letrista
que nunca “matou” presidente petista nas suas músicas de protesto, sugere que a
solução esteja na “educação”. Com professores como Leonardo Morais formando
nossas crianças, há controvérsias.
O paraíso na Terra, prometido
por Karl Marx, chegou na avenida pela Paraíso do Tuiuti (PT para os íntimos) e
seu enredo é tão vermelho quanto o sangue da radialista Elizabeth Joffe, vítima
do carro alegórico da escola que morreu após sete cirurgias e dois meses
internada. A filha de Elizabeth disse que sentiu “nojo” da colocação da Tuiuti.
Que o barulho da comemoração não interrompa seu descanso eterno.
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Contradições e mais contradições na vida de todos nós...
ResponderExcluirO presidente sem diploma abriu 14 universidades federais, enquanto o anterior, pós-doc, acachapou todas as que existiam (além de não abrir nenhuma, é claro).
Neoliberalismo ou pós-socialismo, pouco importa. Quem realmente manda no jogo tá pouco se lichando para ideias, ideais, ou ideologias. Querem mesmo é dindin. Será que eu sou melhor do que esses vampiros?