Aparecido Raimundo de Souza
SAUDADE: dor muito grande e intensa que
alimenta sempre as raias da insensatez.
LEMBRANÇA: coisa complicada que deixa
no coração um vazio imensurável.
ANGÚSTIA: sabermos que a nossa mãezinha
querida, ainda ontem sorridente e alegre, não mais retornará ao convívio do
seio familiar.
PREOCUPAÇÃO: pensarmos nos filhos que
estão fora de casa e ainda não chegaram para nos dar um beijo de boa-noite
antes de se deitarem.
INDECISÃO: não sabermos discernir o
momento exato de entregarmos o coração a alguém com medo de sofrermos um
bocadinho depois.
CERTEZA: saber que a morte é traiçoeira
e um dia baterá às nossas portas, não usando a campainha para anunciar sua
chegada.
INTUIÇÃO: acreditarmos que o dia
seguinte será repleto de momentos de pura felicidade.
PRESSENTIMENTO: abortarmos uma viagem
em cima da hora, antes de colocarmos os pés fora de casa; desfazermos as malas
e tomarmos uma taça de champanha para comemorar a vitória de continuarmos com
vida.
VERGONHA: não termos coragem suficiente
de, ao olharmos no espelho, nos flagrarmos com os olhos cheios de lágrimas
sendo derramadas por alguém que amávamos do fundo do coração.
ANSIEDADE: pensarmos no amanhã como se
fosse hoje, e no hoje como se representasse o último dia de nossas vidas e
tivéssemos, por causa disso, de realizar correndo, em minutos, alguns planos
guardados durante muito tempo.
INTERESSE: verificarmos os boletins
escolares de nossas crianças, embora sabendo, de antemão, que não virão
recheados de notas boas como seria o ideal para acabar com as nossas
insatisfações.
SENTIMENTO: olharmos para um mendigo na
calçada e nos compadecermos do seu estado de miserabilidade. Não nos sentirmos
pequenos, iguais ou piores que ele, e não nos compadecermos de nós mesmos por
continuarmos a ser tão mesquinhos e hipócritas.
RAIVA: descobrirmos que uma criança
morreu abandonada logo ali na esquina, com fome, com sede, e pior ainda, sem
guarida, sem a mão amiga, quando alguma coisa poderia ter sido feita em seu
benefício.
TRISTEZA: olharmos para dentro de nossa
alma e não encontrarmos absolutamente nada, além de um vazio negro e sinistro
profanando a aura do anjo de guarda ou o brilho mágico de nossa estrela maior.
FELICIDADE: estarmos em paz com todas
as criaturas e abraçarmos nossos semelhantes no momento exato em que precisarem
de uma palavra amiga e de conforto espiritual.
AMIZADE: mantermos um elo profundo com
as pessoas e acreditarmos que nada, nem ninguém, poderá romper esse cordão, ainda
que os reveses mais fortes da vida se sobreponham às nossas vontades.
CULPA: discernirmos, com sabedoria, o
momento exato em que erramos e magoamos profundamente alguém; com humildade,
pedirmos perdão a essa criatura e depois seguirmos adiante, de cabeça erguida,
e não nos sentirmos menosprezados nem pequenos demais pela grandeza do gesto.
LUCIDEZ: ao defrontarmos com uma
estrada longa e escura, sabermos exatamente onde estamos pisando, sem receio do
que poderá vir logo adiante, ao virarmos a primeira curva do caminho.
RAZÃO: sentimento que às vezes causa um
curto-circuito total deixando a gente com cara de otário e mais perdido do que
cego em tiroteio.
VONTADE: querermos vencer todos os
medos que nos aprisionam, saltando, um após outro, os obstáculos, sem
precisarmos derrubar quem está vindo logo atrás.
PAIXÃO: doarmos o coração de maneira
intensa, sem receio de entregar o espírito; voarmos alto até nos sentirmos
perdidos em espaços jamais visitados; contudo, sabendo o momento exato de
abrirmos os olhos e regressarmos à realidade.
AMOR: vivermos constantemente uma vida
de ilusões sem deixar que os sonhos escapem por entre nossos dedos, ou
simplesmente termine com final previsível; fazermos de cada dia uma espécie de
porta secreta da alma, cuja chave de acesso à entrada principal somente nós
sabemos onde está.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, do sítio “Shangri-la”, um lugar perdido no meio do nada.
2-3-2018
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E sobre a MORTE? Poderia ser assim? MORTE: Quando se esvai o último sopro de vida, quando para "sempre" os olhos se fecham, as mãos ficam sobrepostas sob o corpo gelado, coberto de flores para tentar "mesclar" a tristeza de quem fica. (tentei).
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