Aparecido Raimundo de Souza
Jaume Perich, humorista espanhol
O CIDADÃO
BRASILEIRO GOSTA de comemorar. De transar o descompasso do compasso certo.
Como em brincadeira de gangorra, nasceu um filho, comemora. Ganhou um neto,
comemora. A mulher lhe meteu o pé na bunda, comemora. Morreu a mãe, comemora. O
pai virou o disco e resolveu dar o caneco, comemora. A sogra foi para o
inferno, idem. O negócio é comemorar. Desde que esteja festejando alguma coisa,
ainda que essa coisa seja seu time do coração ter levado uma surra de dez a
zero do adversário, não importa. Sempre haverá uma razão óbvia para encher a
cara e comemorar. O resto que se foda. É a eterna imperfeição da sua burrice em
grau máximo.
A novidade do momento é a metáfora distorcida da mágica que
confunde o céu e o mar. Que diabo é isso? Estamos falando da comemoração do DIA
DA VERDADE. Ou melhor, do DIA NACIONAL DO DIREITO À VERDADE. Reparem, que nome
bonito. Dá até vontade de correr para o banheiro e liberar aquela cagada (tipo
pato com dor de barriga) para aliviar os pensamentos marotos antes que virem um
amontoado de merda. Concordam? Para falarmos a verdade, amados leitores, nem
imaginávamos que a verdade existisse nesse brasilzinho chinfrim, caótico, disturbado,
escangalhado, onde só não é mentiroso aquele infeliz que na hora de nascer,
desistiu e mandou todo mundo para o raio que o parta e voltou correndo para a
barriga da mãe se recusando a respirar nesse país de mentirosos e contadores de
lorotas. Não é para menos.
Ao contrário de nós que aqui ficamos à espera de um milagre.
O segredo da nossa sandice, ou jumentice, é acreditarmos piamente que quando os
ponteiros do relógio se encontram ao meio dia, eles se tornam aventureiros de
um sonho bonito. A cupidez de se acasalarem... para a fascinação das doze
badaladas. Será? É nesse instante (dizem os entendidos), que ambos se
aconchegam num amor puramente angelical e fazem as horas estancarem, se
enciumarem e depois correrem de volta ao caminho do giro igual e interminável,
todavia, mais depressa, mais ligeira,
para que eles, os dois amados, se despreguem um do outro e não voltem a
se consumar em pecado, a não ser muito depois, quando a noite cobrir os olhos
dos levianos e indiscretos.
Que loucura! Nada a ver com o assunto aqui tratado. O fato é
que focando na ótica, moramos num país de VERDADE, onde todos, sem exceção,
falam a dita VERDADE com precisão suíça. Doa a quem doer. O brasileiro é
verdadeiro por natureza. Principalmente o brasileiro nato. A sua cultuação, a
sua veneração pela verdade vem de berço. Nasce com o sujeito. Vai para a
sepultura com ele, grudado na pele, como a pulga no cachorro. Faz parte do DNA.
Raciocinem conosco. Para inicio de conversa, temos um presidente exemplar, um
moçoilo que só fala a verdade.
Quem espalhar por aí que Michel Jackson Temer mente, quando vem a público via rádio ou televisão, quando o vemos nos telejornais da manhã, do meio dia, ou da noite, está faltando com a porra da verdade. Michel Temer, só abre a boca para falar verdades. Surgiram comentários maldosos e irônicos de pessoas inescrupulosas e sarcásticas, dizendo que ele, Michelzinho, é um tremendo como diríamos, “tapeador”.
Entendam aqui “tapeador”, aquele mentiroso legítimo que
ludibria só para ver a cara do outro pejar de vergonha. Pois bem! Uma corrente
chegou a afirmar que nosso presidente faz parte da linhagem do insigne menino
Pinóquio. Para os que não lembram
Pinóquio (carinhosamente Pinoquinho), nos remete aquele guri, filho do italiano
Carlo Collodi, nascido em Camamu, na Bahia de São Salvador, terra do francês
igualmente famoso Hodgson Burnett. O que escreveu Gabriela. Segundo as más
línguas, toda vez que Pinóquio falava uma verdade, os colhões dele aumentavam
de tamanho. O que não é o caso do nosso digníssimo e pastônico Michel Jackson
Temer. Ele não lê Jorge Amado. Prefere “As mentiras que as mulheres gostam de
ouvir”.
Na mesma leva levada, os 513 deputados que mantemos no
penico Brasília. Homens de caráter ilibado. Na cola deles, os 81 senadores, os
não sabemos quantos ministros, desembargadores, enfim, a canzoada que faz parte
do Colegiado Maior, entre eles, os nossos juristas, conhecedores do direito
plutônico. Plutônico ou canônico?! Não importa aqueles Girafales (e “Girafalas”)
que esbravejam com discursos lindos e impecáveis, que vomitam enunciações de
compreensões fáceis, dissertações que qualquer letrado em imbecilidade entende
perfeitamente. Sabemos que no meio do nosso populacho, a raia miúda, o que mais
temos são pessoas estudadas, de visão magnânima do futuro.
Espectros e boçais que sabem o que esperam do amanhã.
Trouxemos a baila o STF, para ilustrar as nossas assertivas, no tocante as
farpas e os acúleos disparados entre os senhores Gilmar Ferreira Mendes e Luís
Roberto Barroso no Habeas Corpus de “Chula”. Nada mais cômico, perdão, nada
mais sério que as mimosidades “debatidas e jogadas” entre eles. Parecia um jogo
clássico de Brasil com a Argentina. Para quem teve o desprazer de assistir a
peleja, viu que ambos SÓ FALARAM VERDADES. Verdades cristalinas, transparentes,
incontaminadas. É por essa razão que os nossos representantes do STF que abre
aspas se traduzem por “Situação Totalmente Favorável”, fecha aspas, notadamente
para réus impacientes quem tem muito dinheiro para mudar votos e pareceres,
como o nosso bostofico Fula Lula Inácio da Gula Mula da Silva.
Aquele “dezenove dedos” de São Bernardo que os malvados
“pela aí” insistem em cognominar de EX. “Pula” é um exemplo típico de pessoa de
índole acima de qualquer suspeita, como o Marcelo Miranda, governador de
Tocantins e a sua vice, Claudia Lélis. No vento mal soprado dos rabos sujos
desses últimos, citaríamos outros “fichas limpas”, como o evangélico “Eduardo
Cunha Pupunha” e “Sergio Pedro Alvares Cabral”, ambos do PMDB (Partido dos
Mamadores do Brasil), “Paulo BomMaluf”, “Marcelo Cricrivella”, “Moreira Branco
e Preto”, “Aéééécio Neves”, “Dilma “Rouboussett”, “Jorge Piccitiani”, “Luiz
Fernando Pezinho Chulé” etc., etc.
A lista dos pequerruchos (e bonecas) notáveis, sábios e
distintos é muito longa. Todavia, apesar de quilométrica, cada um deles, em
particular, ensacados em suas personalidades respeitáveis. Nenhum dos acima
mencionados tem a patranha como patamar. São, portanto, “onestos” imutáveis,
incorruptíveis, sinceros, concisos, ou melhor, dito de forma corriqueira, até
mais esterilizados e cheirosos que o carpinteiro Geppeto pai de Pinótio,
perdão, Pinóquio.
Abrimos as portas desse suntuoso randevu senhoras e
senhores, para lembrar que precisamos comemorar o DIA INTERNACIONAL DO DIREITO
A VERDADE. Quando? Ontem? Hoje? Daqui um mês? Nunca? Não importa. O que faz
diferença é aquela exação de todos os santos dias, a bela que nos acompanha
desde que acordamos à hora em que voltamos a confabular com os lençóis e
travesseiros. Somos inquestionavelmente uma ralé de fidedignos, incontroversos
e justos. Qualquer futriquinha de meia tigela ou até mesmo tigela inteira
surgida, acreditem, não passará de mera sacanagem da oposição.
A oposição, atrelada a seus pares, como o nome diz se OPÕEM.
Falam, por exemplo, somente no Rio de janeiro, até ontem, 164 policiais mortos
partiram desta para melhor defendendo a população. Mentira. A verdade é outra.
Esses militares morreram de velhice. O mais novo deles, beirava os 152
anos. Mesmo quadro os 147 desaparecidos
da ditadura militar. Mentira. Verdade
passada para os bobos e trouxas. Essa turma da “dentadura militar” não
desapareceu. Os 147 “sumidos” foram abduzidos. Estão em marte. Propagam à boca
miúda, por lá, Marte, os ares são cem por cento e a qualidade de vida supera
qualquer planeta conhecido.
Em face do acima exposto meus caros leitores, fiquem frios.
Logo teremos o DIA INTERNACIONAL DO DIREITO À PUTARIA, O DIA INTERNACIONAL DO
DIREITO À SACANAGEM, O DIA INTERNACIONAL DO DIREITO AO VANDALISMO, O DIA
INTERNACIONAL DO DIREITO DOS POBRES E COMPRIMIDOS, O DIA INTERNACIONAL DO
DIREITO DE MATAR POLICIAIS, O DIA INTERNACIONAL DA INTERVENÇÃO FALIDA DO RIO E
SEU GENERALZINHO WALTER BRAGA NETO, O DIA DO DIREITO INTERNACIONAL DE REMOVER
BARRICADAS DAS FAVELAS E OUTROS, OUTROS, OUTROS QUE NEM CHEGAMOS A IMAGINAR.
Precisamos lembrar sempre, a qualquer custo, a qualquer
preço: estamos no brasil (escrito dessa forma em minúsculo), UM PAÍS DE
ABESTALHADOS, ESTÚPIDOS, APATETADOS, DEMENTES, MATUTOS, DISPARATADOS. POR ESSA
RAZÃO INCONTESTE, VIVEMOS ENFERMOS E NOS TORNAMOS CEGOS, E SOBRETUDO...
SOBRETUDO SOMOS UM AGRUPADO, UM ASSOCIADO DE TOLOS E MANÉS. E TENHAM EM
MENTE. A PARVOICE, A CADA DIA, AUMENTA
MAIS.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de
Bragança Paulista, interior de São Paulo, 23-3-2018
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Querido amigo, esse seu texto me remeteu aos tempos do ensino fundamental. quando um ex repórter foi à escola e nos revelou toda a verdade por trás da FUNAI, órgão que DEVERIA defender as propriedades dos índios. Ficamos estarrecidos na época com a verdade muito distorcida do que aparecia na TV. É fato que a notícia que nos chega em todos os meios de comunicação não são de tudo confiáveis e que além de tudo apoiam determinados políticos para defenderem seus próprios interesses. Uma corja só.
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