Carina Bratt
Quando era criança, o garoto não
sabia se preferia brincar de boneca com as meninas, ou jogar bola com os
moleques do bairro no campinho atrás da igreja. Virou veado.
Ao entrar na faculdade de medicina ficou na dúvida se namorava a doutora Sílvia, oncologista ou a enfermeira Tainá, plantonista de um PA próximo à sua residência. Juntou os trapos com o professor de urologia, o doutor Luiz “Potranco do dedo grande”.
Toda noite, ao se recolher
para dormir, um apuro cruel o assaltava: deitar com a cabeça para o lado da
cabeceira, ou para onde ficavam os pés da cama? Adotou o surrado sofá da sala.
Ao entrar no ônibus e ir para o
trabalho, não sabia se sentava no banco da janela ou no assento do corredor. Optou
por viajar nas costas do motorista.
Ao comparecer no velório do
seu melhor amigo, uma complicação inexplicável lhe pesou na consciência: deveria
dar uma cantada na esfuziante viúva, ou na lindíssima irmã dela? Preferiu se
declarar ao coveiro.
No restaurante não sabia se
escolhia um prato simples ou pedia alguma coisa mais sofisticada e ainda não
provada até então. Comeu a garçonete.
Toda vez que entrava na
cozinha para tomar o dejejum, batia uma incerteza em seu emaranhado de
pensamentos confusos: esquentar o leite no fogão e o café no micro-ondas ou
vice-versa? Mandou a empregada embora.
Ao atravessar a avenida
movimentadíssima usando a faixa de pedestres uma interrogação lhe assomava a
mente: esperar o sinal verde ou se aventurar ziguezagueando entre a velocidade
dos carros que passavam num vai e vem indescritível? Bateu as botas atropelado
por um trem.
No elevador do edifício onde
trabalhava o pavor de todos os dias. Ou
apertava o botão do trigésimo andar ou subia até o topo pelas escadas? Foi
preso escalando o prédio pelo lado de fora.
Ao se casar ficou em cima do
muro quando o padre, depois da célebre frase, “eu os considero marido e
mulher”, mandou a ordem: - “Pode beijar a noiva”. Agarrou uma irmã de caridade no
hall da sacristia.
Sempre que se encontrava com a
vizinha linda e maravilhosa no corredor do prédio onde tinha um quartinho
alugado, mandava beijinhos e se desfazia em mesuras. Levou uma surra do marido
da moça.
Ao pular a proteção da cerca para
resgatar uma pipa que caíra no quintal contíguo ao de sua casa, deu de cara com
um tremendo Pit Bull. Matou o animal a
dentadas.
Título e Texto: Carina Bratt, secretária e assessora de imprensa do jornalista e escritor Aparecido Raimundo de Souza. Do Festival Lollapalooza 2018 - Autódromo de Interlagos - São Paulo - Capital. 25-3-2018
Título e Texto: Carina Bratt, secretária e assessora de imprensa do jornalista e escritor Aparecido Raimundo de Souza. Do Festival Lollapalooza 2018 - Autódromo de Interlagos - São Paulo - Capital. 25-3-2018
de parabéns a autora carina pela criatividade e pela engenhosidade das frase fazia tempo que não lia algo assim tão espirituoso.adorei o cara que não sabendo o que pedir mandou brasa na garçonete. de lascar o cano o cara que por medo de elevador e n´~ao querendo ir pelas escada escalou o rpédio por fora. Realmente essa carina uma pessoa que parece ter o dom de nos fazzer rir. encantado. miltom. meu email. miltonestevam@gmail.com
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