Rodrigo Constantino
Ninguém aguenta mais as
celebridades milionárias com suas vidas disfuncionais e tantas vezes regadas a
drogas bancando as vítimas e pregando moralismo barato para milhões de pessoas,
como se todos fossem uns alienados que necessitassem das lições incríveis de
“diversidade” e “tolerância” desses “ungidos”. Em português claro: já encheu o
saco!
E o Oscar, claro, é o ápice
dessa postura politicamente correta, “progressista”, arrogante e pentelha da
esquerda. A reação tem sido na audiência: menor a cada ano. Nesse ano de 2018,
numa cerimônia pra lá de chata e “lacradora”, foi simplesmente a pior audiência da história! E olha que o Oscar é nonagenário. Estava, portanto,
assistindo a Fox News, como alfinetou o apresentador e humorista Jimmy Kimmel.
Os “progressistas” acham mesmo
que representam a vanguarda, o futuro, o que há de mais moderninho. O Segundo
Caderno do GLOBO, por exemplo, deu destaque positivo a essa cerimônia
insuportável, justamente apontando para o “futuro”, segundo o jornal:
Rumo ao século XXI? Hollywood
se “moderniza”? Eis a interpretação de quem acha que modernidade deve ser
sinônimo de “lacração” politicamente correta. Por um lado, sem dúvida o Oscar
esteve em sintonia com o Zeitgeist, com o “espírito do tempo”, mas não com o
povo. É a mentalidade das elites “progressistas”, aprisionadas em suas bolhas.
João Pereira Coutinho, em
sua coluna de hoje na Folha, falou justamente disso,
concordando que Hollywood tem sido “escrava do tempo”, mas que isso não é algo
positivo, e sim negativo, que mata a arte pela arte, que substitui a estética
pela ideologia. Diz ele:
Semanas
atrás, o historiador português Rui Ramos escreveu no site Observador que,
nos prêmios das diferentes indústrias, ninguém discutia a “qualidade” dos
produtos. O que interessava era saber se os filmes ou as músicas obedeciam a
critérios de “representatividade”.
Por
outras palavras: mais importante do que saber se o filme X valia como
obra cinematográfica era saber qual o sexo do diretor Y ou a etnia do
ator Z. Concordo com o meu ilustre compatriota. Basta olhar em volta para
perceber que as preocupações estéticas deram lugar à retórica repugnante da
ideologia.
[…]
Grande
parte da cultura popular é uma forma tosca de propaganda. O livro, o filme ou a
peça de teatro já não obedecem a critérios estéticos ou intelectuais do
criador. As obras ajustam-se a uma cartilha tão autoritária, atrasada e brega
como as propagandas do passado.
Sim,
não temos denúncias de “negritude”, “bolchevismo cultural” ou “decadência
burguesa”. Mas, no seu lugar, surgem os pecados do “machismo”, da
“heteronormatividade” ou da “misoginia”. O fim é o mesmo: a abolição da
liberdade individual pelo fanatismo da tribo. Perante isto, a pergunta
leninista: o que fazer?
Pessoalmente,
tentar remar contra os novos bárbaros – ou, inversamente, pensar e criar como
se eles não existissem. É a única forma de proteger a integridade da arte.
Até
porque há uma lição consoladora na história da propaganda: os bárbaros
acreditam que têm o “espírito do tempo” do seu lado. Fatalmente, quando lemos
os seus nomes em livros esquecidos, nenhum deles legou uma obra que mereça dois
segundos de atenção. Faz sentido: quem é escravo do tempo morre com o
tempo.
No mesmo jornal [Folha de São
Paulo], Joel Pinheiro, que tem simpatia por várias ideias “progressistas”,
também reclamou da cerimônia:
Fui
envenenado pelo politicamente correto. A cada indivíduo que não era homem,
branco e heterossexual a subir no palco do Oscar neste último domingo, uma
vozinha malvada objetava dentro de mim: só foi colocado ali para cumprir a
agenda política da gente fina, elegante e sincera de Hollywood. Em outras
palavras, para “lacrar”.
Meu
cinismo teve mesa farta. Política sempre esteve presente no Oscar, mas agora
ocupa o primeiro plano. Foi um verdadeiro festival de diversidade, inclusão e
discursos engajados.
Homossexuais,
negros, transexuais, mulheres, mexicanos; recebendo e entregando prêmios. Se
for o resultado de uma sociedade com mais oportunidades para todos, ótimo. Se
for só a Academia preenchendo cota, não significa nada.
[…]
Vencedor
de melhor filme e melhor diretor, “A Forma da Água” é a vitrine perfeita da
cerimônia: diversidade, machismo, imigração, preconceito, vítimas de opressão:
está tudo lá, da produção à moral da história.
[…]
Ao
colocar o aspecto político no centro, o Oscar perde sua razão de ser. Fica mais
chato, menos arriscado, com mais cartas marcadas e tapinhas nas costas. Será o
espectador comum um monstro por não desejar quatro horas de edificação moral vinda
das bocas mais privilegiadas e paparicadas do planeta? Podemos condená-lo ou
não, mas uma coisa ninguém poderá tirar dele: o direito inalienável de mudar de
canal.
Sobre o filme vencedor,
comentei em minha página do Facebook:
E olha que ainda deixei de
fora várias coisas! Como, por exemplo, o vilão ser homem, branco, cristão,
ícone de uma típica família de classe média americana que sonha com mais
conforto material e status (compra um Cadillac), e que oprime sua mulher
durante o sexo. Ou a “forma” do amor se referir, claro, ao aspecto do gênero,
transmitindo a mensagem “subliminar” de que qualquer forma vale (inclusive a
animal?). Clichês “progressistas” do começo ao fim, nada mais.
O desejo de “lacrar” tem
afundado Hollywood. Não se faz arte decente, tampouco se reconhece uma, quando
se tem em mente apenas o foco político-ideológico, deixando em segundo ou
último plano os aspectos estéticos, técnicos, dramáticos, e a própria busca do
transcendental, contra o efêmero do cotidiano. Ao se enquadrar só no efêmero
dos “tempos modernos”, esses “artistas” serão esquecidos já “amanhã”. É o
prêmio de consolação para quem não suporta mais tanto “lacre”…
Título, Imagens e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 6-3-2018
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Disse quase tudo sobre o OSCAR"alho", só vou assistir Churchilllllll.
ResponderExcluirO RESTO ESTOU FORA....
Me too 😉
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