Miguel Pinheiro
Se a Lava Jato é uma invenção da
"direita" para prender Lula, então por que é que encheu presídios com
políticos, imagine-se, da "direita" e com os responsáveis das maiores
construtoras?
Catarina Martins tentou
esgotar o dicionário para falar sobre
“a direita” brasileira, que pelos vistos é “reacionária”, “racista”, “fascista”
e ocupa os seus tempos livres a “destituir”, a “prender” e a “matar”. Mas,
apesar da forma exaustiva como descreveu “a direita”, faltaram duas palavras:
essa “direita” é também incompetente e burra.
Só pode. Se, de facto, como
argumenta a preclara líder do BE (repetindo argumentos do PCP e das viúvas do
socratismo), “a direita” brasileira inventou a Operação Lava Jato para
conseguir “a prisão de Lula”, “o julgamento da política do Partido dos
Trabalhadores” e a promoção, proteção e eternização do “poder das grandes
construtoras” — então ela é, sem sombra de dúvida e a grande distância, a mais
incompetente e burra do mundo.
É que, de facto, a Operação
Lava Jato conseguiu prender Lula, como muito argutamente notou Catarina Martins
— mas, antes disso, decapitou a carreira de alguns dos principais políticos da
“direita” e enviou para os calabouços os responsáveis das maiores construtoras.
Os factos têm dificuldade em
penetrar no mundo de fantasia embrulhada em retórica que a líder do BE gosta de
servir nos seus discursos, mas, de qualquer forma, vamos olhar para uma lista
muito rudimentar dos alvos da Operação Lava Jato na “direita”:
1) Eduardo Cunha,
ex-presidente da Câmara dos Deputados, promotor do impeachment de
Dilma Rousseff e um dos políticos mais comicamente conservadores do país — é
autor de uma proposta que pretendia criminalizar o “preconceito heterossexual”
e é defensor da criação do Dia do Orgulho Heterossexual; ou seja, é o nemesis perfeito
de Catarina Martins — foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão por
corrupção passiva.
2) Sérgio Cabral Filho, do
PMDB (o partido do atual Presidente da República, Michel Temer, “usurpador” do
cargo de Dilma), ex-governador do Rio de Janeiro e ex-senador está preso por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
3) Aécio Neves, ex-candidato
da “direita” contra Dilma Rousseff em 2014, ex-governador de Minas Gerais,
ex-presidente da Câmara dos Deputados e atual senador já foi suspenso duas
vezes do cargo, tem cinco inquéritos em investigação e no dia 17 deste mês o Supremo
Tribunal Federal decide se o constitui arguido num processo por corrupção
passiva e obstrução à justiça.
4) Fernando Collor de Mello,
ex-Presidente da República que se apresentou como liberal, derrotou Lula e
acabou destituído, e agora ocupa o cargo de senador, é arguido por corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
5) Renan Calheiros,
ex-presidente do Senado, ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e
atual senador, está a ser investigado por corrupção.
6) Romero Jucá, senador e
presidente do PMDB (lembrem-se, o partido de Temer), está a ser investigado em
vários inquéritos.
7) Roseana Sarney, filha de
José Sarney, ex-senadora, ex-governadora do Maranhão e pré-candidata à
Presidência da República em 2002 pelo Partido da Frente Liberal e hoje no PMDB,
está a ser investigada num inquérito.
8) Nas construtoras, estão
condenados a vários anos de cadeia os ex-presidentes do Conselho de
Administração da Camargo Corrêa, da OAS e da Odebrecht e está a ser investigado
o da Andrade Gutierrez.
Claro que podemos sempre
argumentar que isto faz parte da Grande Conspiração Anti-Lula. Para disfarçar
(mal, muito mal) o seu verdadeiro objetivo, os mefistofélicos mentores
políticos da Operação Lava Jato decidiram encarcerar boa parte da “direita” e
dos líderes das muito capitalistas empresas de construção. Depois de encherem
presídios um pouco por todo o país, chegaram finalmente a Lula, que era onde
pretendiam começar e onde desejavam terminar. Eu, por mim, acho que faz todo o
sentido.
Título e Texto: Miguel Pinheiro, Observador,
11-4-2018
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Muito bom!
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