Aparecido Raimundo de
Souza
Ariano Suassuna
O QUE PODEMOS DIZER E FALAR a respeito da
violência? Apenas que ela tomou proporções inacreditáveis no nosso dia a dia.
Igualmente, cresce a olhos vistos o temor da sociedade em face da sua presença
dentro do inconcebível. Não há um só lugar no planeta em que as pessoas se
sintam verdadeiramente seguras e tranquilas. Além daquelas criaturas malignas
que matam para roubar (juridicamente conhecidas como latrocidas) ou por
vingança (motivos torpes e hediondos), surge, no contrafluxo, uma nova safra de
bandidos e facínoras, delinquentes e celerados, até então nunca vistos. Tomados
pela agressividade à flor-da-pele e pelo descontrole da mente, certos
indivíduos cometem, impensadamente, transgressões e infrações as mais banais
sem, entretanto, estarem entrelaçadas às aparências plenamente justificáveis.
Até bem pouco tempo,
os telejornais cansaram de mostrar a fuça do professor que foi acusado de ter
sacrificado um estudante de treze anos batendo a sua cabeça na parede. Os
senhores leitores se recordam desse episódio? A polícia descobriu, a
posteriori, que o rapaz só queria ir ao banheiro fazer xixi!...
A título de
ilustração, vale a pena lembrarmos também da estudante de psicologia Maria de
Lourdes Leite de Oliveira, a Lou, que juntamente com seu comparsa Wanderlei
Gonçalves Quintão, o Wan, ocuparam por longo tempo as crônicas dos jornais de
maior circulação em todos os quadrantes da federação.
A juntar a isto, e no
mesmo fôlego, Aracelli Cabrera Crespo (nos idos de maio de 1973) que,
inclusive, inspirou José Louzeiro a escrever “Aracelli, Meu Amor”, Chico
Picadinho, ou o “Açougueiro do Diabo”, do psiquiatra Charles Kiraly, onde são
narrados os fatos que, depois de estuprar, Picadinho degolava e retalhava o
corpo de suas vítimas. Lúcio Flávio Vilar Lírio (O Lúcio Flávio, o “Passageiro
da Agonia”), conhecido como o eterno galã da marginália, o “Poderoso chefão”
Pimenta Neves, do jornal “Estado de São Paulo”, que pôs fim à vida da
jornalista Sandra Gomide, sua ex-namorada e de Amailton Madeira Gomes, seu
amigo o ex-policial Carlos Alberto dos Santos Lima e do médico capixaba Césio
Brandão (que entre 1989 e 1993) sem motivos fortalecidos, torturaram, castraram
(emascularam) e mataram meninos e meninas com idades entre oito e treze anos,
na cidade de Altamira, no Pará.
Estes e alguns que
deixamos de mencionar servem, num primeiro momento, para exemplificarem a falta
de controle a que os cidadãos, de um modo generalizado, estão adstritos. Pelos
mais diferentes problemas, determinadas criaturas acabam se desarvorando e
partindo para as agressões. As indagações que surgem evidentemente ninguém ousa
responder: o que leva a tudo isso? Seria, grosso modo, a falta do que fazer?
Apesar das manchetes mentirosas relacionadas ao aumento na geração de empregos
e da retomada da economia (na verdade uma das infindáveis balelas, dentre as
muitas que alavancam e fomentam a vergonha nacional), o país, bem sabemos, está
de pires nas mãos. Pede esmolas. Mendiga. O Brasil carece de soluções rápidas,
ligeiras, despachadas e destravadas para enfrentar de cara, de frente, olhos
nos olhos, as muitas questões sociais que, aliás, foram se agravando, ou
melhor, vêm se aviltando numa velocidade espantosa, de há muito, não mais com o
decorrer dos anos, porém, dos milésimos de minutos, na velocidade ímpar da
Internet.
Vamos supor que o tal
“índice de desemprego”, tenha realmente diminuído. No dizer de Fabio Porchat,
“diminuído para mais”. Se caiu para menos (como querem fazer parecer os
gráficos mentirosos e maquiados dos institutos de pesquisas), como explicar o
número cada vez mais intenso de trabalhadores desocupados e que, por estarem
sem condições de ganharem o pão de cada dia, são levados pelo desespero a
mergulharem de cabeça nas águas frias da criminalidade?
Os que conseguem algum
serviço, nos chamados “bicos emergentes”, não conquistam, ou visto por ângulo
paralelo, não adquirem o suficiente para cobrirem satisfatoriamente as despesas
mais corriqueiras de suas casas. Por essa razão, a maioria dos pais de família
é obrigada a descambar para os caminhos sombrios e tortuosos da degradação e do
desequilíbrio social. Até hoje, caros leitores, todas as medidas adotadas pelo
nosso governinho de merda para combater o grande vilão da história não foram
incisivas ou eficazes. Sequer chegaram a ser diligentes e concludentes.
Enquanto as
“desconstituídas” autoridades não tomarem providências enérgicas para
resolverem, de vez, os estorvos e empecilhos que afligem nossos irmãos carentes
e sem ter onde caírem vivos (mortos se cai em qualquer lugar), a cada minuto
que passa assistiremos de camarote, sentados em nossos confortáveis sofás, o
enfraquecimento, o empobrecimento, e “mais mau”, a decadência conjunta de todos
os segmentos da sociedade afundarem num mar de lama. Aliás, falando em mar de
lama, a nação inteira está enterrada até o pescoço. Só se vê bosta e cocô para
tudo quanto é lado. O governo federal é bastante criativo no tocante a lançar
programinhas medíocres, ordinários, e anódinos para inglês ver; planos com
belas denominações e perfeitos na teoria. Postos em prática, pouco ou quase
nada representam.
Simplesmente se tornam
desaproveitados e inoperantes. Ademais, tais programinhas só acontecem quando
algum caso ganha notoriedade como, por exemplo, o dia em que estourou, a nível
nacional, o assassinato (perdão, a EXECUÇÃO) da vereadora Marielle Franco e seu
motorista Anderson Pedro Gomes. Acaso a nossa querida e operante polícia chegou
a prender alguém? O ministrinho do ministério misterioso da defesa e segurança
pública Raul Seixas Jungmann disse ontem, no Jornal Nacional, o que todo mundo
sabia. “A principal linha de investigação envolve milícias”. Dá pra rir. Riam.
Kikikikikiki!
Voltando um pouquinho
na história, outra barbárie famosa, a do jornalista Tim Lopes, ou mergulhando
mais ainda, na latrina dos sórdidos e nefandos, na prisão do “Maníaco do
Parque, a morte do sequestrador da filha de Silvio Santos, etc., etc...”. O
fato é que depois que o clima de apreensão esfria, a irresponsabilidade é
repassada para os anais do esquecimento. A verdade, contudo, continua sendo
uma: enquanto essa bagunça desenfreada se repetir, as situações as mais
vexatórias prosseguirão aflorando a todo vapor.
Entre tapas e beijos,
mordidas e beliscões, pernadas e rasteiras, até que se chegue, ao ponto
nevrálgico do caótico, ou ao culminante de não mais existirem soluções, muitas
águas rolarão debaixo da ponte. Mas e daí? – perguntarão todos a uma só voz: e
daí o que faremos?! Remanescem, a nós todos, caríssimos leitores e amigos, ou
restam, duas soluções rápidas e enérgicas, impetuosas e exaltadas. Quais
sejam?! Primeira: criarmos vergonha na porra da cara e metermos uma bala nos
chifres de cada um desses pilantras que nos fazem de escravos. Desses facínoras
que nos usam e depois nos descartam como se fôssemos lixo. Ou, via outra, em
segundo, mesmo pensar, continuarmos como até agora, acovardados, amarrados e
manietados. Para não vermos nosso fim, o enterro de nossos sonhos, aproveitemos
a ocasião e coloquemos as cabeças nos buracos, como fazem as avestruzes. Para
ficar mais bonito o quadro, deixemos os traseiros à mostra para tomarmos
porradas. Quanto mais cacetadas, melhor. Talvez, assim, aprendamos a escolher
melhor (entre outros animais que pleiteiam os vários poleiros no suntuoso
penico Brasília) no meio deles, em especial, a futura raposa que tomará conta
do enorme galinheiro.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de Ribeirão Preto, interior de São
Paulo. 17-4-2018
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