Cesar Maia
1. O marqueteiro vitorioso em 2002 insistiu com Lula e o PT que,
para ganhar as eleições, deveriam suavizar o discurso. Daí saiu a Carta aos Brasileiros, uma espécie de compromisso (formal) democrático de respeito às
instituições e às leis. E assim foi. Veio a vitória eleitoral. A continuidade
da política econômica do governo anterior servia para demonstrar - ao distinto
público - que o compromisso da Carta aos Brasileiros era para valer.
2. Mas, em pouco tempo, a reação interna cresceu. O ministro José
Dirceu, numa reunião na sede do PT com dirigentes e militantes, justificou as
medidas. Uma câmera oculta de uma emissora de TV divulgou o discurso que não
poderia ser aberto. Nele, José Dirceu afirmou às companheiras e aos
companheiros que tivessem paciência. Que a “correlação de forças” não permitia
avançar muito naquele momento.
3. E, por isso, a política econômica cumpriria os
"compromissos" com as instituições, as leis e a democracia. Mas a
política externa retrataria a verdadeira política do partido. Ao lado do
ministro de Relações Exteriores, na função de assessor especial do presidente,
foi nomeado Marco Aurélio Garcia, um co-ministro de relações exteriores. E
assim foi integrando o governo de Lula aos de Chávez, de Castro, de Ortega, de
Correa, de Morales, do Irã e até da Líbia...
4. Enquanto a economia seguia seu rumo empurrada por um ciclo
internacional favorável, as críticas à política externa ficavam meio
desapercebidas, quase circunscritas aos especialistas.
5. No nível interno, o governo Lula-Dirceu entendeu que havia a
necessidade de comprar parlamentares de forma a que se pudesse
"legislar" por decreto e ocupar a máquina livremente. No início do
segundo ano de governo isso ficou claro e foi sendo aberto, progressivamente,
pela mídia e por vazamentos. O núcleo era o gabinete do poderoso ministro José
Dirceu. Os vazamentos cresceram e já no primeiro semestre de 2005, com uma
bombástica entrevista do deputado Jeferson à Folha de S. Paulo, ficou tudo às
claras.
6. Foi aberta uma CPI e o ministro José Dirceu cassado por conta
das denúncias. A CPI deu origem a um processo que ficou conhecido como
Mensalão. As provas eram contundentes, com dinheiro sendo entregue na boca de
caixa bancário, através de um crime que se imaginava perfeito, via agência de publicidade.
7. Blindado o gabinete presidencial, as denúncias e provas
desintegraram presidentes e executivas de vários partidos, a começar pelo PT.
Mas a locomotiva estatal seguia seu rumo. Foram distribuídos amplos subsídios
aos movimentos sociais, aos sindicatos, a artistas e a intelectuais... da casa.
E, assim, a base aliada - interna e externa - se tornou gigantesca e plástica.
8. Era necessário garantir a reeleição e depois novas reeleições.
Quando o IBOPE mostrou o crescimento do prefeito do Rio no início de 2005, na
época recém reeleito, que já ocupava a segunda posição com folga, foi montada
uma fraude através de uma intervenção inconstitucional na saúde pública
municipal. Apesar de o STF ter derrubado em seguida essa intervenção, o
resultado político havia sido alcançado.
9. Mas era necessário formar uma chapa imbatível com os dois
maiores partidos ocupando a presidência e a vice-presidência. E assim foi em
2008. Com a máquina estatal ocupada partidariamente, com uma amplíssima maioria
parlamentar submissa, o poder estava garantido e concentrado.
10. A crise financeira de 2008 começou a desmontar o uso da
política econômica como disfarce e uma abertura crescente para o populismo
econômico passar. A assunção de Dilma em 2011 já se deu num quadro que apontava
para o desmonte econômico. A economia patinava e a inflação crescia. Começaram
as pedaladas de forma a dar lastro ao populismo econômico.
11. Tudo foi ficando claro e a caixa preta foi sendo aberta até o
impedimento da presidenta. Simultaneamente, no início do segundo mandato de
Dilma, investigações realizadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal
mostraram o "mar de lama" sobre o qual se sustentava esse esquema, o
que acabou envolvendo o próprio presidente.
12. É uma série que começa em 2003. A ilusão de um novo
comportamento de Lula e do PT se desmanchou progressivamente. Foram 15 anos até
a condenação de Lula, que já havia abatido - em voo - José Dirceu em 2005.
13. Isso tudo mostra que o desmonte deste esquema impediu o Brasil
de entrar num sendeiro chavista, o que seria muito mais grave do que o triplex,
que é apenas a ponta do iceberg. O discurso de 7 de abril na porta do Sindicato
dos Metalúrgicos, com todos os malabarismos populistas, abriu o jogo na
agressão às instituições e à liberdade de expressão. E deixou para trás a Carta
aos Brasileiros e o respeito à democracia e às leis.
Título e Texto: Cesar Maia, 10-4-2018
O circo do senhor Lula montado dentro do Sindicato dos Metalúrgicos escancara a realidade sindical brasileira, ou seja, "sindicatos" são meros depósitos de militantes políticos a SERVIÇO de UM PARTIDO!
ResponderExcluirPor isso que querem a continuidade do Imposto obrigatório...
Eu considero o autor um político falido, hoje com o filho candidato à presidência.
ExcluirDemocracia sem ISONOMIA de direitos e deveres não existe simples assim.
Rodrigo Maia é conivente e prevarica.
Há grandes propostas engavetadas, como o fim do foro de privilégio, diminuição da maioridade penal e a PL147, citando poucos.
Precisamos de nova regulamentação sindical, fazendo-os para seus trabalhadores e não subservientes aos partidos políticos.
O DEM como os outros tem projetos de poder aliados ao MDB.