Miguel Lourenço Pereira
Num ano de merecimentos emocionais, o golo tinha de ser dele. Num ano de mística
recuperada, o golo tinha mesmo de ser dele. Patinho feio desde que chegou,
criticado muitas vezes (justamente em muitos momentos, injustamente noutros,
por mim o primeiro, em ambos casos), Hector Herrera marcou o que pode ficar
para a história do futebol em Portugal como o golo do título de 2018. Além da
estética do golo, da importância do mesmo e do minuto em que foi conseguido, no
disparo vitorioso de Herrera houve um resumo desta temporada do FC Porto.
Patinhos feios, criticados justa e injustamente (por mim o primeiro, em ambos
casos), os azuis e brancos deram um golpe na mesa que define bem a viragem de
atitude deste projeto. Um projeto que conseguiu repetir a proeza de Vitor
Pereira, com uma escassez de meios atrás, sem apoio da instituição, e que está
agora mesmo a dez pontos de ser campeão nacional pela primeira vez em meia
década.
O FC Porto foi um justo vencedor num jogo equilibrado onde cada equipa
foi melhor numa parte, mas em que se percebeu claramente que só uma estava
disposta a tudo por ela.
A primeira parte do Porto foi fraca. Não foi, ao contrário da excursão de
Lopetegui, uma rendição. Foi um reflexo das limitações do modelo, dos jogadores
e da pressão do momento aliada à vontade do Benfica, a jogar em casa, de querer
fechar as contas cedo. O jogo largo do Porto, apostado na velocidade de um
recuperado Marega, falhou quase sempre porque não só o maliano não foi capaz de
gerar superioridade como, quase sempre as segundas bolas acabavam nos pés dos
encarnados que tinham assim o controlo do esférico e dos momentos do jogo. Não
surpreende por isso que nos primeiros 45 minutos as oportunidades e os ritmos
de jogo fossem deles. O Porto dedicou-se, sobretudo, a manter-se vivo, a
competir, a dar a cara e a esperar melhores momentos. Notou-se algum nervosismo
e desacerto, mas nunca medo ou pânico perante um rival empurrado pelo estádio.
O segundo tempo foi outra conversa. Despidos os receios, temores e
respeitos pelo cenário e pela tensão do momento, os jogadores do Porto foram
jogador à Porto e cresceram centímetros. A equipa entrou a querer mais bola -
algo que na primeira parte nunca sucedeu - e a marcar os ritmos do jogo,
criando muito mais perigo e vulgarizando um Benfica que demonstrou, outra vez -
pela enésima vez - que no terreno de jogo não tem argumentos para estar na
posição onde outros, fora dele, o colocaram.
Se bem que houve oportunidades para cada lado, ficou claro que o grande
perigo do Porto vinha dos seus próprios erros. Sérgio Oliveira continua a
demonstrar que a situação o supera. Não só levou um primeiro amarelo a cortar
um ataque por culpa de uma perda infantil num lance ofensivo, como depois se
dedicou a perder bolas e a fazer faltas, alheado do ritmo à sua volta.
Otávio e Soares também passaram pelo mesmo processo, Brahimi continuou a
navegar demasiado só e nem Telles nem Ricardo estiveram acertados nas subidas.
Ainda assim, o Porto dominava, criava perigo, sobrevoava o ritmo de pausas
sucessivas imposto pelo árbitro e crescia, ainda que quase sempre sem criar
aquele momento decisivo de perigo à baliza de Varela.
Foi então que as mexidas no banco denunciaram as ambições de cada
treinador. Vitória recuou no terreno de jogo e com Oliver, Aboubakar e Corona o
Porto deu novo passo em frente. Se o espanhol foi importante para libertar
Herrera - sempre pendentes dos desacertos de Oliveira - já o mexicano voltou a
decepcionar (é um dos piores jogadores na toma de decisão da história recente
do clube) e Aboubakar, fiel à sua forma recente, esteve alheado do jogo desde o
primeiro momento. O tempo passava, o Porto procurava oportunidades e só os
problemas habituais do modelo - a falta de jogo interior, a insistência em
procurar o cruzamento - parecia impedir a chegada do golo. Mas como às vezes o
futebol sim sabe ser justo, o esférico encontrou o seu caminho ao sitio certo.
Não foi um golo merecido apenas pelo jogo de hoje, mas, sobretudo, pelo jogo no
Dragão - e a sua penosa arbitragem - e por todo o ano. Uma jogada interior
provocou uma falta por assinalar - mais uma - sobre Brahimi e a bola sobrou
para o capitão Herrera. Bem longe ainda da baliza de Varela, o mexicano
endossou um remate espantoso que adormeceu no canto superior direito da baliza
de uma forma autoritária e decisiva. Foi o golo de todos nós. O golo do homem a
quem todos, em algum momento, não hesitamos em criticar e que neste modelo de
Conceição se sente como peixe na água. Foi o minuto Herrera. Um minuto que, se
tudo correr bem até maio, nunca nenhum de nós vai esquecer.
Não há nada que celebrar ainda, por muito que a lágrima escorra pelo
canto do olho pela importância do momento. São quatro finalíssimas, quatro
jogos de final de Champions e Mundial juntas que ficam por disputar. Sabendo
bem quem é o Benfica e como funciona o futebol em Portugal a margem de erro é
absolutamente nula. Não se pode repetir a desastrosa sequência de Paços-Belém
nas saídas ao Funchal e Guimarães. As duas vitórias em casa são mais do que
obrigatórias, frente a Setúbal e Feirense, sem dar nada por garantido, mas
esses dois jogos fora têm todos os condimentos de ser determinantes. Graças ao
triunfo que deu a liderança e o goal-average particular frente ao Benfica, o
Porto pode ceder um empate, mas nada mais. Melhor diretamente apontar alto, aos
doze pontos, e deixar as celebrações para a visita a Guimarães. Até lá
aguentemos a respiração e respiremos fogo. De Dragão.
#NosVamosGanhar
Título e Texto: Miguel
Lourenço Pereira, Reflexão Portista, 15-4-2018
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Faltam QUATRO rodadas para o fim do campeonato, que termina no dia 13 de maio, domingo.
ResponderExcluirO FC Porto ainda tem que defrontar o Vitória de Setúbal, no Dragão, no dia 23 de abril;
Marítimo, no Funchal, dia 29 de abril;
Feirense, no Dragão, no dia 6 de maio;
Vitória de Guimarães, em Guimarães, no domingo, 13 de maio.
Haja coração! E gols do FC Porto!