Flávio Gordon
No artigo “Universidade
pública sob ameaça” (O GLOBO, 03/05/2018), dois professores da UFF denunciam
pretensos “ataques às universidades públicas” perpetrados pelo que descrevem
como “grupos de direita e extrema-direita”, cujo objetivo seria “transformar a
universidade em um lugar permeado por dogmas, preconceitos e ideias
pasteurizadas”.
Invertendo vítimas e agressores, e tomando partido destes, o artigo faz referência a um evento ocorrido na própria UFF, no qual uma palestrante foi impedida de deixar o prédio em que falava para um punhado de alunos, tendo sido forçada a permanecer sete horas entrincheirada numa sala, sob ofensas e ameaças de agressão. Cúmplices da intolerância, e redobrando a infâmia, diretores da universidade decidiram proibir de vez as atividades do grupo de estudantes responsável pelo evento. Não é caso isolado.
Em junho de 2017, na Federal
de Goiás, uma professora convidada foi impedida de palestrar. Cercada por um
bando que gritava “Fora, fascista!”, acabou expulsa do local. Em fevereiro do
mesmo ano, na Federal de Minas Gerais, uma jovem fora espancada por militantes
da União da Juventude Socialista. Em 2016, ao se opor às assim chamadas
“ocupações”, que deixaram um saldo impressionante de danos ao patrimônio
público, um professor da Federal de Pernambuco teve a sala invadida, livros
roubados, e paredes pichadas com frases tais como “Stalin matou foi pouco”.
Pela mesma razão, um professor da Federal do Piauí, ameaçado de linchamento,
teve de sair escoltado pela polícia. Os exemplos multiplicam-se diariamente.
Todos esses casos tiveram como
agressores membros de partidos e movimentos de extrema-esquerda, exitosos, eles
sim, em transformar a universidade em um lugar permeado por dogmas,
preconceitos e fanatismo político. Mas nada disso foi capaz de suscitar nos
autores do artigo o zelo repentino ora demonstrado pela universidade pública.
Afetando súbita preocupação com proselitismo, não viram nada de errado quando,
em dezembro de 2017, o já condenado Luiz Inácio Lula da Silva fez um ato
político na Uerj. Ou quando, mês passado, o pré-candidato à Presidência pelo
PSOL, Guilherme Boulos, participando do 8º congresso da União da Juventude
Comunista, dispôs do salão nobre da faculdade de Filosofia e Ciências Sociais
da UFRJ para fazer campanha, com anuência da direção.
Se há algo aproveitável no
conceito marxista de ideologia é a ideia de que um discurso ideológico é aquele
pelo qual se busca mascarar interesses parciais mediante apelo universalista ao
bem comum. É precisamente o que fazem os autores do artigo. Em típica
novilíngua orwelliana, exaltam a “diversidade”, o “espaço público” e a
“liberdade de expressão”. Tudo, na verdade, para defender com unhas e dentes o
seu feudo ideológico, recentemente abalado graças ao inconformismo de parte da
sociedade já cansada de bancar com os seus impostos instituições que, de espaço
para o livre debate de ideias, converteram-se em centros de formação de
radicais de esquerda.
Título e Texto: Flávio Gordon,
escritor, O Globo, 9-5-2018
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