Marcos Machado
Terminada a greve dos caminhoneiros, o Brasil vai retomando as suas atividades a fim de normalizar o seu dia-a-dia. Não vou tratar dos aspectos já salientados pela mídia — com maior ou menor objetividade — tantas vezes com nota de sensacionalismo.
Conheço alguns caminhoneiros,
pais de família, homens dedicados ao trabalho e ao bem do Brasil. De algum
tempo para cá eles vêm sendo até vítimas de assaltos de quadrilhas. Classe
operosa que desempenha importante função num país onde prevalecem as rodovias.
Parece de bom senso que um
país-continente como o Brasil, e com enormes recursos naturais, tivesse um
sadio equilíbrio entre ferrovias, rodovias e hidrovias. Os nossos grandes rios
e a nossa imensa costa marítima sugerem naturalmente o tráfego fluvial e
marítimo.
Comenta Marcelo Toledo1,
que as ferrovias transportam somente dois em cada dez quilos de carregamentos
no país, ou seja, 20%. O sistema aquaviário, aéreo e dutoviário, por sua vez,
conduz 18,2%, deixando o grosso das cargas para o transporte rodoviário, ou
seja, 61,1%.
Acrescenta o articulista que
em 1922, portando há quase 100 anos, as ferrovias brasileiras possuíam 29 mil
quilômetros de trilhos, usados no transporte de cargas e passageiros, mesma
extensão atual, conforme a CNT — com uso basicamente para cargas.
Quanto às hidrovias
economicamente navegadas representam ainda menos, 22 mil
quilômetros. “Precisamos de mais estradas. E precisamos de muito mais
ferrovias e hidrovias”, disse Bussinger2, para quem o país,
devido às suas dimensões, tem baixos indicadores em relação ao transporte.
Continua o artigo: O Diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, Fernando Paes, afirma que o índice de cargas transportadas por ferrovias é ainda menor que o indicado pela CNT: apenas 15%, percentual mais que modesto para um país de dimensões continentais.
Com acerto, explicou Pedro
Pinheiro da Cunha — em artigo para a ABIM, sobre a reação do brasileiro face às
sucessivas e abusivas intervenções do Estado — ao transcrever comentário de
Plinio Corrêa de Oliveira intitulado “Cuidado com os pacatos”.
Trata-se de uma
peça histórica de sociologia e análise da opinião pública, em que o autor
discorre a respeito da pacatez tão característica do povo brasileiro que prefere sempre
uma solução de entendimento mútuo a um confronto direto, e por
isso, é “pacato” por temperamento.
Entretanto, até os pacatos
se cansam diante de tantas intervenções abusivas do Estado. Com efeito, de
2014 para cá o pacato povo brasileiro viu desvendado pela Lava Jato uma
torrente de denúncias de corrupção ocorridas nos últimos 13 anos de governo da
esquerda.
Isso mesmo, daquela esquerda
que gostava tanto dos pobres que procurou saquear o país para aumentar o número
deles. Cartéis monumentais de corrupção operando com organização e desfaçatez
mesmo durante as investigações e inquéritos da Lava Jato.
Pacatamente os brasileiros
saíram às ruas do Brasil inteiro para protestar contra o governo e pedir o impeachment da
presidente Dilma. Os políticos, em sua maioria com “culpa no cartório”, mas
pressionados pela estrondosa manifestação, votaram o impeachment imaginando
que ao fazer isso, o pacato cidadão voltaria para o seu chinelo, o seu sofá.
Este pacato povo, contudo, já
a meio caminho para sair da sua pacatez, deflagra uma paralisação que seria um
“basta” ao abusivo intervencionismo estatal. Isso explica, a nosso ver, o móvel
mais profundo da paralisação dos caminhoneiros: uma sadia reação de fazer valer
o seu direito de trabalhar honradamente pelo Brasil livre das garras
intervencionistas do Estado-Moloch.
Tive ocasião de percorrer — e
com quanto entusiasmo — o Brasil em todas as direções por uma dezena de anos,
em caravanas na TFP [fotos ao lado e abaixo]. Tive a comprovação de
que há uma esperança no fundo de alma de cada brasileiro de que ainda seremos
uma grande nação.
Escrevo sobre o que constatei.
A partir de 1970, mais de cinco milhões de quilômetros percorridos, o
equivalente a 13 viagens de ida e volta à Lua. Ao longo de 25 anos dessas
Caravanas, foram divulgados 1.767.908 livros esclarecendo a opinião pública
sobre o perigo comunista e progressista.
O Cristo Redentor, no Rio de
Janeiro, Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, estão a velar e
a convidar os caminhoneiros e a todos nós brasileiros para a realização desta
grande esperança: ainda seremos um grande País!
Título, Imagens e Texto: Marcos Machado, ABIM,
2-6-2018
1 UOL, 29
maio 2018
2 Frederico
Bussinger, consultor do Idelt (Instituto de Desenvolvimento, Logística,
Transporte e Meio Ambiente) e ex-secretário dos Transportes de São Paulo.
3 Catolicismo,
N° 536, agosto 1995
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