sábado, 16 de junho de 2018

Como hamsters na rodinha

Vitor Cunha

Terça-feira, junho de 1986, ainda durante o tempo de aulas, terceiro dia do mês, estava aqui o miúdo de onze anos a ver o jogo, às 22h00 (hora de Gondomar), entre Portugal e Inglaterra, o primeiro da participação portuguesa num mundial de futebol desde que nascera. Aos setenta e seis minutos, Carlos Manuel enfiava a bola na baliza de Peter Shilton, aquele que viria a sofrer o golo marcado com a mão por Maradona pouco antes da véspera do São João. Íamos ser campeões: a primeira seleção a derrotar a Alemanha Federal na sua própria casa acabara de vencer a Inglaterra. Perderia com a Polónia e com Marrocos e concluiria a sua participação com os jogadores mais entretidos a acalmarem as mulheres após umas (alegadas) sessões com ninfas de ocasião, uma farsa em repetição da Ilha dos Amores.

Hoje, Portugal entrou a vencer o jogo com a seleção campeã de 2010. “Vamos ser campeões!”, exultou o filho de onze anos do puto desiludido com Saltillo. Acabou a festejar um empate, o que, feitas as contas, até não é nada mau.

É que Portugal é assim: passa de geração em geração a expectativa de que desta é que é, desta é que vai ser.

Ocasionalmente, graças a um ou outro português com um talento a roçar o sobrenatural, lá se concretiza qualquer coisa. Uns chamam-lhe D. Sebastião, outros chamam-lhe Cristiano Ronaldo, outros ainda chamaram-lhe Salazar. E depois volta tudo ao mesmo, às geringonças, aos Louçãs, às Iniciativas Liberais, às malucas do feminismo psicopata e ao livre trânsito para a patifaria do Partido Socialista. E não, nunca estive verdadeiramente a falar de futebol. 
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 15-6-2018

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