sexta-feira, 22 de junho de 2018

Sobre o Herodes das Américas

Vitor Grando

Trump é um monstro insensível que tem lançado crianças aos milhares literalmente na jaula numa crueldade tal comparável somente ao infanticídio de Herodes. Ao menos essa é a narrativa replicada em uníssono pela mídia internacional indignada (aquela mesma que previu a Terceira Guerra). Só um adendo: nunca antes na História da Humanidade foi tão simples ser contado entre os virtuosos.

Basta replicar a indignação oficial do momento e você é prontamente alçado ao panteão dos santos. Não importa se você passa o fim de semana à caça “daquilo” rosado, conquanto que à noite de domingo manifeste sua indignação em conjunto com a grita feminista do momento. Já o homem-de-uma-mulher-só que levanta um “mas…” — ah! — esse é evidentemente a razão da existência de todo e qualquer estupro. Bem farisaico né? É o que chamo de farisaísmo secular.

Voltemos agora aos fatos sobre a indignação em relação a Donald Trump. O que acontece é o seguinte. O Procurador-Geral Jeff Sessions tem insistido numa política de tolerância zero contra imigração ilegal (ênfase no “i”). O que acontecia até então sob a administração Obama era a chamada política do “catch-and-release”, que basicamente permitia que qualquer adulto que atravessasse a fronteira com uma criança recebesse apenas uma notificação para se apresentar à justiça sendo em seguida liberado. Surpresa: 80% deles não se apresentavam. Agora, no entanto, sob a administração Trump todo aquele que tenta atravessar a fronteira ilegalmente é detido e responde ao devido processo criminal, o que é uma das três ocasiões em que uma criança pode ser separada da unidade familiar.

Essas três ocasiões em que a criança pode ser separada de seus pais na fronteira são as seguintes:

(1) quando há razão para se duvidar do grau de parentesco alegado com os adultos,
(2) quando há suspeita de tráfico humano ou abuso infantil e
(3) quando o adulto responde a um processo criminal.

Se um sujeito atravessa a fronteira ilegalmente (repito: ilegalmente), ele é preso e naturalmente encara um processo criminal pelo óbvio crime de transgredir a lei.

Porém, em virtude de uma decisão da justiça federal — a chamada “Flores settlement” — crianças não podem ser mantidas em prisões federais junto com os seus responsáveis. O que faz o mais perfeito sentido né? Mais recentemente em 2016, um juiz federal interpretou essa decisão no sentido de que o Homeland Security não poderia manter famílias sob custódia por mais de vinte dias. Nesse momento, portanto, é que ocorre a separação: o adulto é transferido para a prisão e a criança para um abrigo. Nisso, o governo tem três alternativas:

(1) entregar a criança a algum responsável, que nem sempre é encontrado ou se prontifica a aparecer,
(2) abandonar a criança na rua ou
(3) conduzi-la ao abrigo, onde ficam até a chegada de um responsável. É esse abrigo que é comparado a um campo de concentração pela mídia internacional, o que é nada mais do que pura vigarice.

A decisão judicial do “Flores Settlement” tem uma bela história e foi, olha só!, motivada por uma ação judicial movida corretamente pela esquerdista ACLU (American Civil Liberties Union). Nos anos 80, a ACLU processou o Governo Americano em nome de Jenny Lisette Flores, uma menina de 15 anos de El Salvador. Flores havia deixado seu país em busca de uma tia nos EUA até ser detida na fronteira pelas autoridades americanas.

Em resumo, a decisão judicial foi no sentido de vedar que ela e outras crianças fossem detidas em centros de detenção de imigrantes compartilhando quartos com homens e mulheres adultos, onde Flores era revistada intimamente com frequência e lhe fora dito que só poderia ser liberada na presença de seus pais, mas não de sua tia. A decisão corrigiu esse mal. As crianças agora são entregues ao Department of Health and Human Services como “crianças estrangeiras não acompanhadas”.

Agora os menores podem ser entregues a qualquer responsável e são mantidas nas condições de mínima restrição possível e recebem abrigo, água, alimento e os devidos cuidados médicos. Além disso, o DHHS trabalha em busca de seus pais ou parentes ou orfanato para essas crianças, se necessário. Não, elas não são enjauladas como em campos de concentração. Isso é um embuste.

Os republicanos no Congresso propuseram legislação que permitiria que as crianças fossem mantidas com seus pais sob custódia da Imigração e Alfândega dos EUA, o que resolveria as restrições impostas pelo Flores mantendo as crianças junto ao seus pais sem lançá-las nos centros de detenção. Mas nada foi aprovado pelo Congresso nesse sentido.

Então, ao que tudo indica, a situação atual é INCONTORNÁVEL por qualquer governo que cumpra a lei e as decisões judiciais. A administração passada, como lhe era conveniente, fazia vista grossa à imigração ilegal e, portanto, o problema não tomava as dimensões que hoje toma.

No entanto, o problema JÁ existia sob a administração Obama sem muita indignação da mídia internacional. Muitas das fotos de crianças “enjauladas” utilizadas esses dias para gerar indignação contra Trump são, na verdade, de 2014 quando Obama era presidente (cf. link 1).

A situação sob Obama era ainda pior. Agentes federais reportaram às centenas a existência de corpos abandonados (inclusive crianças usadas pelo tráfico) na fronteira após serem usados por traficantes de drogas que se aproveitavam da leniência da última administração ou pelos chamados “coiotes” que cobravam para supostamente facilitar a travessia dos imigrantes.

Apenas em um condado do Texas de 2012 a 2014, 259 corpos foram encontrados abandonados no deserto ao não sobreviver ao trajeto. A travessia também é feita por traficantes de mulheres vítimas do tráfico sexual. A situação era terrível e essas pessoas eram estimuladas pela retórica leniente de Obama que acabava por convencê-los da anistia ao chegarem aos Estados Unidos. Isso multiplicava o número de vítimas. (cf. link 2)

Ainda pior: de acordo com reportagem do The Washington Post em 2016, a irresponsabilidade da administração Obama acabou por entregar muitos desses menores encontrados nas fronteiras diretamente nas mãos de traficantes que se faziam passar por responsáveis (cf. link 3).

Veja o relato, por exemplo, de um garoto de 6 anos que depois de ser usado pelo seu tio para ter sua imigração facilitada foi abandonado à própria sorte no deserto (cf. link 4).

Crianças eram usadas como o “Green Card” de criminosos. Como já apontei, dois dos motivos pelos quais as famílias detidas são separadas, sob o governo Trump, é quando não é possível se comprovar o grau de parentesco entre o adulto e a criança ou quando há suspeita de abuso. A separação, nesses casos, é literalmente uma proteção à criança e não um abuso como a mídia vem divulgado (cf. link 5).

Não é nenhuma forçação dizer que Trump está literalmente protegendo a vida dessas crianças vitimadas pela leniência de outrora nas fronteiras.

De acordo com o Homeland Security, nos último cinco meses houve um crescimento de 314% de adultos chegando às fronteiras com crianças alegando de modo fraudulento se tratar de unidades familiares. A mídia, porém, silencia.

É bom apontar também que há uma alternativa bem simples para resolver a separação familiar. Basta o responsável se declarar culpado que ele é prontamente reunido aos filhos e deportados para o seu país de origem.

No entanto, instruídos por advogados, os pais pedem exílio e o processo demora meses ou até mais para ser resolvido. Assim, prolonga-se a separação familiar (Fonte: Yago Martins).

Além disso, existe uma associação chamada “March Without Borders”, instalada no México e na Nicarágua, que é feita de advogados americanos ligados ao Partido Democrata (ah, sério? que surpresa), dedicados a instruir os imigrantes a pedir asilo, porque esse é o buraco na lei americana. Só que essa estratégia prolonga o processo e promove a crise politicamente conveniente ao Partido Democrata. (Fonte: Christian Faber).

O abuso das brechas na legislação só prejudica quem realmente necessita de asilo. Ninguém é preso ao se dirigir a um ponto de entrada de imigração e solicitar o devido processo de asilo. São presos exclusivamente os imigrantes ilegais durante a travessia, ou seja, durante o ato criminoso. Prendê-los é nada mais do que o cumprimento da lei promulgada pelo Congresso, ou seja, obrigação de ofício da administração Trump.

O resumo da ópera, então, é o seguinte: adultos responsáveis por seus filhos assumem conscientemente o risco de atravessar ilegalmente a fronteira com seus filhos a tiracolo. Eventualmente, são presos pela polícia da fronteira e seu filho é levado para um centro de custódia. Tudo por culpa exclusivamente dos pais. A única coisa que a administração Trump mudou foi a aplicação de tolerância zero à imigração ilegal que, sim, multiplicou a ocorrência dos casos de separação da unidade familiar. Porém, isso é um golpe duro no tráfico humano e na imigração de criminosos como os da violenta gangue MS-13, que corriam soltos durante o governo Obama.

Trump não criou essa situação. Ele só está lidando com a bagunça. A mídia não se importa com as crianças e nem você, que se faz de tão profundamente indignado. O propósito é nada mais do que usar o sofrimento infantil para sensibilizar as massas contra Donald Trump. É vil, é covarde, é abjeto.

A única alternativa para o problema é desrespeitar a lei, coisa que Trump não vai fazer e que resulta nos graves problemas apresentados acima. Trump conseguiu movimentar a indignação mundial para o problema. Trouxe respaldo para a assinatura de sua Ordem Executiva que autorizou a detenção da unidade familiar pelo Homeland Security sem a restrição dos 20 dias imposta pelo Flores e suas interpretações legais subsequentes.

A separação nos demais casos de suspeita de tráfico ou dúvida sobre o parentesco, que protegem a criança, é mantida. Num único movimento, Trump resolveu os buracos na lei que estimulavam o tráfico humano e abuso infantil ao mesmo tempo que manteve a tolerância zero à imigração ilegal.

Agora com toda a pressão midiática será absolutamente impossível a justiça ou o congresso reverteram sua Ordem Executiva. Trump não brinca em serviço. Jogada de mestre. Xeque-mate.
Título, Imagem e Texto: Vitor Grando, 22-6-2018



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14 comentários:

  1. Por mais argumentos que se busque para defender Trump, ele é definitivamente um ser do mal , só comparado a a um outro semelhante.
    https://www.independent.co.uk/news/world/americas/us-politics/anne-frank-centre-donald-trump-america-president-hitler-nazi-germany-alarming-parallels-warning-a7884731.html

    Paizote

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    1. O The Independent é tão imparcial quanto o meu amor pelo Flamengo.

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  2. Quero pedir desculpas a todos , principalmente ao Jim ,pois minhas postagens tem sido enviadas antes da finalização. Problemas em meu equipamento , que breve será corrigido.
    Sorry!
    Paizote

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  3. (PS.;Com revisão,)

    E Esta postagem minha tem a possibilidade apenas de mostrar que existem muitas divergências sobre o Trump, assim como qualquer político.
    Jamais alcançarão a unanimidade, porém, alguns se destacam com os que citei.
    E não é nem por serem políticos, ambos conseguiram resultados que agradaram, num primeiro momento as populações de seus países, mas o tempo provou que embora bons políticos, eram sim... seres do mal!
    Quando a pessoa tem tendências para o mal, mesmo quando reza é olhado com desconfiança.
    Desculpe não concordar com os escritos acima, principalmente os do Vitor Grando, mas o mundo já julgou Trump, toda defesa será definitivamente inútil.
    O diabo não
    Quanto aos imigrantes, a familiares de Trump o são e sobre Melanie, ainda restam dúvidas sobre seu ingresso nos EUA.
    Agora ele esta localizando pessoas que tiveram parentes mortos por traficantes durante a tentativa de ingresso nos EUA, para que admitem que os mortos estavam fazendo parte de operação ilegal, pretende explorar a dor dos mesmos em seu favor! Ilegal e que deviam ser combatidos energicamente são os traficantes que usam da ingenuidade das pessoas, que acreditam no sonho americano.
    Eu particularmente, por ter filha casada com americano, e trabalhando para organização publica em Maryland, poderia _minha filha insiste nisto- ganhar Green card. Tive esta intenção, Trump me fez desistir.
    E parodiando um ditado popular; "O diabo é suspeito não porque é diabo, mas pq é político.”.
    Paizote

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  4. Ah, mas são verdes

    Uma raposa – gascã ou da Normandia, diz-se – salivava por um cacho de uvas apetitosas, pendendo de caramanchão alto.
    Mas como não conseguisse chegar-lhe, afastou-se a resmungar: “São verdes, não prestam, só cães as podem tragar.”
    Quando ouviu um barulho de queda, no local da fruta, voltou a correr.
    Mas era só uma folha.
    Esopo revisto por La Fontaine, claro.

    Mas por que é que me lembra a ci(u)meira Tump/Kim, e o futuro encontro Marcelo-Trump?
    “É fácil desprezar aquilo que não se pode obter.” Provavelmente com outros atores, noutras circunstâncias, tudo isto seria notável.
    Mas é preciso sair das obsessões pessoais para voltar a discutir o que se move no mundo, e o que (co)move os povos.

    Nuno Rogeiro, in SÁBADO, nº 738, de 21 a 27 de junho de 2018

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  5. Migrantes, dor e hipocrisia

    Ninguém aceita a separação de filhos dos pais, imigrantes ilegais, nos EUA. Mas também ninguém concordará, espero, com o uso de crianças como escudo do crime, ou com a detenção de menores nas prisões de adultos.
    Por tudo isso, administrações anteriores criaram a TVPRA (2008) e os tribunais acordaram no Caso Flores (1997), prevendo o internamento infantil em orfanatos e casas de acolhimento dignas, mas só se não for possível devolvê-los à procedência em segurança, ou entregá-los à guarda de outros familiares.

    Já no caso Aquarius, há outro fenômeno: Itália e países europeus da “linha de frente” não querem mais sofrer pela inação e hipocrisia dos outros.

    Nuno Rogeiro, in SÁBADO, nº 738, de 21 a 27 de junho de 2018

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  6. A lei Trump sobre imigrantes ,pelo menos instigou que o Brasil em toque de caixa promulgasse a nossa.

    Presidência da República
    Casa Civil
    Subchefia para Assuntos Jurídicos

    LEI Nº 13.684, DE 21 DE JUNHO DE 2018.
    Dispõe sobre medidas de assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária; e dá outras providências.
    paizote

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  7. Continuando a leitura , não pude deixar de rir ao ler o texto da lei de imigração brasileira e as garantias da mesma.

    Art. 5º As medidas de assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária visam à ampliação das políticas de:

    I – proteção social;

    II – atenção à saúde;

    III – oferta de atividades educacionais;

    IV – formação e qualificação profissional;

    V – garantia dos direitos humanos;

    VI – proteção dos direitos das mulheres, das crianças, dos adolescentes, dos idosos, das pessoas com deficiência, da população indígena, das comunidades tradicionais atingidas e de outros grupos sociais vulneráveis;

    VII – oferta de infraestrutura e saneamento;

    VIII – segurança pública e fortalecimento do controle de fronteiras;

    IX – logística e distribuição de insumos;

    paizote

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