quarta-feira, 25 de julho de 2018

Copa do Mundo e o racismo à flor da pele

Ana Paula Henkel

A emocionante e inesquecível Copa do Mundo de 2018 encantou o mundo e revelou para o grande público Kylian Mbappé [foto], o menino genial nascido em Bondy, próximo a Paris, único adolescente além de Pelé a marcar na final de um mundial. Francês de nascimento e criação, é companheiro de Neymar no Paris Saint-Germain e roubou a cena, com mérito. A taça é da França, mas todos ainda estão falando de Mbappé. Alguns de seu talento, já notável nas divisões de base, outros mais preocupados em fazer proselitismo racialista por conta de sua ascendência camaronesa pelo lado paterno e argelina pela mãe, a ex-jogadora de handebol Fayza.

De todas as reações do lado eugenista, uma das que lamentavelmente mais repercutiu foi a do ativista, apresentador e comediante Trevor Noah. Nascido em Johanesburgo, filho de pai suíço e mãe sul-africana, Noah fomentou uma polêmica com o governo francês por uma “piada” que parabenizava sua África natal pela conquista francesa. Noah, ecoando o discurso racialista de muitos, mistura propositalmente cultura e genética, como se parabenizar Mbappé e seus companheiros pela criação na França, dentro da cultura francesa e com as benesses de ser francês, negasse sua carga genética negra.

A resposta de Noah em seu programa, o The Daily Show, aos franceses foi que ele se sente no direito de elogiar tanto Mbappé ser “francês” quanto “africano” e isto seria o verdadeiro discurso de tolerância e uma ode ao multiculturalismo, quando na verdade é, seguindo os argumentos racistas que remontam as abjetas leis Jim Crow, dos seus queridos correligionários do Partido Democrata, que o “sangue” africano de Mbappé definiria sua identidade ao menos tanto quanto a cultura, a língua e os laços sociais que ligam o jovem atacante à França. Eugenia, por mais disfarçada que seja por uma tropa de roteiristas do primeiro time da TV americana, será sempre eugenia.

A questão é mais séria do que parece e envolve algumas das mais complexas e delicadas divisões políticas do mundo atual, na qual o esporte internacional acaba se inserindo, mesmo que a contragosto. Meu marido, Carl Henkel, é californiano da gema e representou a seleção americana de vôlei de praia também em jogos olímpicos. Ele é neto de alemães, como o sobrenome não nega, mas seus títulos não estão sendo disputados por Angela Merkel até onde eu sei. Carl é americano, sempre foi e sempre será, e sua formação, não apenas acadêmica, mas atlética, foi construída e moldada com todos os incentivos e benesses de uma nação livre e próspera. Sua origem germânica não parece despertar a atenção de uma imprensa cada vez mais preocupada com a cor da pele dos atletas, um retrocesso civilizacional que precisamos combater antes que seja tarde. O esporte não é isso.

Duas legítimas famílias portuguesas, os Mendes e os Rodrigues, por sorte se encontraram no sul de Minas, e cá estou eu. Sou mineira com orgulho, descoberta para o esporte no querido Minas Tênis Clube, mas também com ascendência portuguesa. Lendo o noticiário e seguindo o raciocínio racialista de gente como Trevor Noah, estou quase convencida de que minhas medalhas poderiam ser reivindicadas pela Federação Portuguesa de Voleibol (FPV). Espero que Marcelo Rebelo de Sousa, atual presidente do país, não comece a ter ideias sobre isso.

A ignorância (ou má-fé) de muitos “fiscais de melanina” que resolveram teorizar sobre a cor da pele de Mbappé, e outros jogadores da equipe francesa, fica mais evidente quando lembramos que recentemente a França foi alvo de ataques terroristas, alguns realizados por muçulmanos com nacionalidade francesa, em locais próximos de onde o craque foi criado. Enquanto Mbappé treinava para se tornar uma das maiores revelações da história recente do esporte, outros jovens franceses também descendentes de estrangeiros estudavam como causar mortes de inocentes. Quem acredita que o determinante, nos dois casos, é a cor da pele ou a carga genética, deveria realmente se envergonhar.

A politização radical do esporte, que já combati em artigos anteriores como quando questionei a injustificável incorporação de “mulheres transgêneras”, homens biológicos com estrutura física de homem, em esportes femininos, continua na sua agenda de desfigurar o que deveria ser o terreno do congraçamento, da paz e da união dos povos. O último penetra da festa do esporte é a agenda política da imigração desenfreada para países ocidentais, que coloca sob ataque o que sempre foi consensual e pacífico: cada país soberano tem o direito de ter fronteiras e estabelecer critérios de imigração que beneficiem, em primeiro lugar, seus próprios cidadãos legais.

A integração é a única saída, não apenas para a imigração quanto para o próprio racismo, como resumiu de forma definitiva o reverendo Martim Luther King em seu histórico discurso “Eu tenho um sonho”. Seu sonho era viver num país em que suas filhas fossem julgadas pelo conteúdo do caráter e não pela cor da pele. Imigração legal com integração cultural, aliada a um controle inteligente e eficiente de fronteiras, sempre foi e será algo positivo para todos. Já invasão ilegal, especialmente quando patrocinada por políticos em busca de votos em troca de programas assistencialistas e empresários oportunistas de olho em mão-de-obra barata, é um crime de alta traição e lesa-pátria. O povo americano está cada vez mais alerta sobre isso, como tenho presenciado na vida na América.

Os terroristas que matam inocentes na Europa não podem ser entendidos, monitorados e combatidos pela cor da pele ou pela carga genética, mas pelo caráter e pelas idéias que abraçaram e transformam em ações que colocam a segurança de inocentes em risco, assim como Mbappé é fruto não apenas de aptidão física mas também, e principalmente, dos ideais que incorporou de esforço, talento e superação pelo esporte herdados da França.

Não há lugar para racismo no esporte e no mundo, tanto em campo quanto fora dele. Que o exemplo de Mbappé nos ajude a superar mais essa chaga da humanidade, começando pelas narrativas tóxicas e anti-ocidentais disfarçadas de tolerância.
Titulo e Texto: Ana Paula Henkel, O Estado de S. Paulo, 24-7-2018

5 comentários:

  1. SOU CONTRA A INTEGRAÇÃO CULTURAL.
    Tem certa coisas culturais que não se pode obrigar a INTEGRAR.
    Nunca vou admitir casar com meninas em puberdade, ou arrancar os clítoris de mulheres, assassinar mulheres camadas de infiéis ou de homossexuais.
    Sou gaúcho e não preciso de bombachas, esporas e lenço no pescoço.
    Nem preciso andar de faca na cintura, nem falar feito idiota, abusando de termo gauchescos.
    Também não devo obrigar ninguém a matear ou comer mocotó.
    Para mim basta aceitar as diferenças desde que não ofendam nosso aspectos morais.
    Não importa se a seleção francesa estava cheio de filhos de imigrantes naturalizados.
    Zidane era filho de argelinos.
    Sempre achei frescura da FIFA esse negócio de jogar por uma única seleção.
    Di Stefano era argentino e jogou pela argentina e pela Espanha.
    Ferenc Puskas defendeu a Hungria e a Espanha.
    Mazzola foi campeão do mundo em 1958 pelo Brasil e jogou pela Itália em 1962.
    Futebol não é uma cultura é ESPORTE ONDE FAZ-SE INTEGRAÇÃO DE CULTURAS.

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  2. Se a genética fosse um grande vale-tudo, o resultado, totalmente paradoxal, seria uma única espécie de vida no planeta. Viva as diferenças! (obs: e arruma outro assunto porque racismo, homofobia e heterofobia já torraram a paciência. Não tem assunto pra pauta ??? Leia o Estadão! )

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  3. A genética pode não ser o grande vale-tudo. Porém você dificilmente verá NEGROS campeões de natação, e raros brancos campeões de atletismo de velocidade e fundistas.
    Vendo por outro lado, não sei se verdade, não há campeões de xadrez negros.
    A genética diferente permita habilidades diferentes.
    No futebol os talentos são ímpares.
    Quando vi Neymar pela primeiras vezes eu dizia ser um novo Robinho.
    Agora o tal Mbappe, nunca será um Zidane.
    Cristiano Ronaldo e Messi, nunca serão RONALDOS brasileiros.
    Claro que existem excessões as regras.
    Cito no Tênis as irmãs Willians e no golfe Tiger Woods.
    Finalmente no BOX a hegemonia é negra.
    Tudo a ver com a genética.

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    Respostas
    1. Tem algo errado aí. Deixe que se defendam e cuide da sua vida.

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    2. Não tem nada errado NEGRO É MAIS PORRADA E CORRE MAIS. QUER FUGIR DO CRIOULO NADE.

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