Leonardo Glass
Na semana passada o cantor e
compositor Lulu Santos, 65 anos, declarou-se gay. Ele já foi casado com a
jornalista Scarlet Moon e também com o tri-atleta Bruno Azevedo, ou seja, não é
novidade a sua orientação sexual. A diferença é que, dessa vez, Lulu assumiu
publicamente o relacionamento homoafetivo.
Longe de sofrer retaliações,
quebras de contrato, ou qualquer outro ataque da vulga “direita raivosa”, os
únicos dois comentários que li a respeito foram duas piadas do Joselito Müller:
a primeira dizendo que a revelação de Lulu Santos chocou um total de ZERO
pessoas; a segunda, que muitos se surpreenderam COM A IDADE de Lulu Santos. De
resto, ninguém surpreendido, incomodado ou boicotando a obra do artista.
Ontem, Bolsonaro foi o
entrevistado no programa Roda-Viva. Não assisti (preferi ver o Comedy Central
Roast com Bruce Willis). Mas li os comentários e percebi muita gente indignada
com os jornalistas tendenciosos que tentaram colocar Bolsonaro em uma saia
justa (opa!), apelando até para dados de Wikipédia como fonte fidedigna.
Ao mesmo tempo, porém,
comemoravam o fato dele ter se saído bem nas respostas e até enquadrando alguns
jornalistas, como quando devolveu a pergunta a uma delas “cuestionando-a” se a
Polícia deveria responder aos tiros dos bandidos com flores.
O que os dois fatos têm a ver
um com o outro? A princípio nada, mas dá para tirar valiosas lições de ambos.
Primeiro, que nenhum
conservador sério é fiscal de toba alheio. Aliás, quem gosta de fiscalizar o
toba de terceiros é justamente a turma da lacrolândia que tem até termometro de
homossexualismo. Mas, voltando ao assunto, nenhum conservador pragmático dá a
mínima se o Lulu Santos é gay, bi, hétero, ou se transa com árvores. Ademais,
embora não seja um gay fresco (duplo sentido intencional) ele nunca usou a sua
opção sexual como bandeira artística, querendo vincular o seu trabalho à sua
preferência sexual.
É, por exemplo, o contrário da
ojeriza que Pabllo Vittar causa, ao querer ser reconhecido como artista apenas
por ser trans, chegando ao ponto de mentir ao dizer que “muitos gays tiveram
que morrer para que ele pudesse estar ali no palco do Rock in Rio” [A] (Freddie
Mercury em 1985, Rob Halford em 2001 e Elton John em 2015 mandaram lembranças).
Segundo, embora tenham se
indignado contra a má-fé dos entrevistadores, nenhum conservador sério se
vitimizou ou vitimizou Bolsonaro, ao contrário do que a turma da lacrolândia
fez quando da entrevista da Manuela D’Ávila, acusando os repórteres de manterrupting, mansplanning, etc. Nenhum
conservador (e certamente nenhum esquerdista) ficou contando quantas vezes
Bolsonaro foi interrompido pelos jornalistas presentes.
Em que pese a tendenciosidade
dos jornalistas, achei ótimo Bolsonaro ter sido pressionado ao extremo. Aliás,
espero que TODOS os candidatos sejam entrevistados apenas por jornalistas que
discordem frontalmente de suas ideias (vai ser difícil achar jornalistas de
direita, mas divago...). Espero que todos os presidenciáveis que passarem por
esse programa (e por outros) sejam excruciantemente arguidos e inexoravelmente
sabatinados, até que não sobre nenhum traço de marqueteiros e assim possamos
conhecer o candidato de verdade. Todo o resto é relações públicas, como diria
George Orwell William Randolph Hearst.
Isso nos leva ao cerne dessa
pequena reflexão: o que querem, afinal, os conservadores? Por que a mídia
tradicional não aceita que um grupo de pessoas normais, que não quer nada
grandioso, e que gostaria apenas de viver a sua vida sem ser importunado, tenha
cada vez mais voz? Por que os conservadores, assim como os elefantes, incomodam
tanta gente?
O conservador é, antes de
tudo, um pragmático, ou seja, tem relações profundas com as coisas e os
problemas do mundo real, e não com elucubrações do tipo, como ter banheiros
para atender todos os 63 gêneros disponíveis (embora a sigla oficial tenha
“apenas” 14 letras), ou então se canudos de plástico são o maior problema
ambiental do mundo. Ao contrário da esquerda lacradora e politicamente correta,
conservadores não se guiam por boas intenções, mas por resultados práticos.
Daí, por exemplo, rechaçar o estatuto do desarmamento que, longe de resolver o
problema da violência, apenas o agravou.
Por viverem no mundo real, e
não em um eterno programa da Fátima Bernardes, conservadores entendem que os
boletos precisam ser pagos no fim do mês, que não existe almoço grátis, e que a
cultura ocidental, por mais falhas que tenha, ainda é melhor do que as
teocracias islâmicas ou a “democracia” comunista. Mais do que rechaçar ideias
com outras ideias, conservadores vivem na prática aplicação de ideias. E por
isso, rejeitam muitas delas, porque sabem que o mundo real é uma vadia sem
coração e não liga para as boas intenções. Aliás, de boas intenções a Venezuela
está cheia!
Em suma, conservadores querem
ser respeitados, e não chamados de qualquer termo pejorativo por suas escolhas
(reaça tá liberado!). Eles querem que cada um cuide da sua vida; querem ter sua
família, seus filhos, seu trabalho e poder viver em segurança e tranquilidade,
sem se preocupar em ser assaltado ou morto. Nada muito diferente do que querem
Lulu Santos e Jair Bolsonaro, respectivamente.
[A] Ele disse isso em uma
entrevista ao vivo para o canal Multishow, logo após sua apresentação no RiR
deste ano.
Título e Texto: Leonardo Glass, via Pugina.Org,
2-8-2018
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