Rodrigo Constantino
Segundo a narrativa das
feministas do #MeToo, todo homem é um potencial predador sexual que abusa das
mulheres, e toda mulher é vítima do sistema patriarcal. É uma narrativa
marxista de luta de classes, que segrega a população em bons e maus, sendo que
o sexo é o critério de definição, ao contrário da classe para os marxistas
clássicos. Mas o rancor, o ressentimento e o coletivismo são os mesmos.
Qualquer cantada masculina já
virou sinônimo de assédio por conta dessa mentalidade do ódio. Mas cabe a
pergunta: o que acontece quando quem assedia é a própria mulher? A questão
surgiu até no esquerdista NYT, após uma professora feminista ter sido acusada de assediar um aluno. Avital Ronell [foto], uma
professora de renome mundial de Alemão e Literatura Comparada na New York
University, foi considerada responsável por assédio sexual a Nimrod Reitman, um
aluno universitário.
Uma investigação que durou onze
meses considerou a professora culpada, tanto por assédio físico como verbal, a
ponto de seu comportamento ser suficientemente invasivo para alterar os termos
e condições do ambiente de ensino do aluno. A universidade suspendeu a
professora pelo próximo ano acadêmico.
O rapaz denunciou ter sido
assediado durante três anos, e divulgou emails em que a professora o tratava
com termos inadequados e se insinuando sexualmente. Não obstante todas as
provas, assim que a professora sofreu as consequências de seus atos várias
feministas saíram em seu apoio. A primeira da lista foi Judith Butler, autora
de Gender Trouble, e uma das mais influentes feministas da terceira
geração, a mais radical de todas.
“Apesar de não ter tido acesso
ao dossiê confidencial, todas trabalhamos por muitos anos perto da professora
Ronell”, dizia um esboço da carta publicada num blog. “Todas vimos a relação
dela com seus alunos, e algumas de nós conhecemos o indivíduo que lançou essa
campanha maliciosa contra ela”, continua. Ou seja: todo benefício da dúvida
para a professora, enquanto o aluno que a denunciou é queimado na fogueira
feminista: só pode ser um mentiroso safado!
Imaginem se toda acusação de
assédio contra mulheres fosse recebida da mesma forma? O que fica claro é como
o movimento feminista abandonou qualquer apreço pelo devido processo legal,
pela busca da verdade, pela necessidade de provas, para ter seu julgamento
pronto sempre a priori: o homem é eternamente culpado, e nenhuma mulher jamais
pode ser culpada. É nisso que se transformou o feminismo de hoje. A palavra da
mulher vale mais do que evidências, e nenhuma prova é suficiente quando a
mulher é a acusada.
Reitman, que é gay, apresentou
as provas: mensagens constrangedoras em que a professora, que é lésbica, diz
que quer seu beijo no meio do dia, ou que se imagina deitada na cama com ele.
Reitman hoje é casado com um homem, membro, portanto, da minoria dos
homossexuais. Não importa: por ser do sexo masculino, só pode ser o culpado na
história, segundo as feministas. Julgar os atos individuais é
algo que a esquerda coletivista, com sua política de identidades, não consegue
mais fazer.
Por fim, creio que ninguém
ficará surpreso ao saber que a professora Ronell odeia publicamente o
presidente Trump, visto como um típico predador sexual. Ah, se a esquerda
tivesse espelho em casa…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 14-8-2018
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