Gustavo Nogy
Vergonha na cara não é dos bens mais
abundantes e distribuídos no Brasil.
Se em época de eleição tem
político que aparece para inaugurar até a chegada da primavera, no desastre
todo mundo some. Foi ele, foi o outro, foi aquele lá.
Nos Estados Unidos, os
responsáveis teriam sido demitidos. No Japão, cheios de honra ferida,
cometeriam suicídio. No Brasil, os culpados vão tomar Chicabon.
A destruição do Museu Nacional,
entretanto, é que nem filho de puta: ninguém sabe ao certo quem é o pai, mas
todo mundo participou um pouquinho. Brasileiro não faz nada de ruim sozinho, o
demérito é sempre obra coletiva. Foram anos de abandono. Como num livro do
Paulo Coelho, “nada é por acaso”.
Mas isso não nos impede de
apontar responsáveis diretos e imediatos. Por exemplo, a
administração da UFRJ, mantenedora do museu. À parte os 520 mil anuais
destinado para a manutenção, a própria universidade tem orçamento muito maior;
suficiente para que o prédio não tivesse o fim que teve.
Acontece que a UFRJ
aparentemente tem ensaiado uma peça inspirada na distopia Fahrenheit
451, de Ray Bradbury. Há um “histórico de incêndios” nos prédios da
instituição. Foram seis ocorrências nos últimos anos.
"Oskar Werner como Guy
Montag em ‘Fahrenheit 451’, adaptado por François Truffaut."
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O que me parece bem
apropriado. No romance de Bradbury, publicado no Brasil pela Globo Livros, Guy
Montag é um funcionário público exemplar. Bombeiro dedicado a queimar os livros
perigosos para a ordem social.
A única diferença é que ele
tem uma crise existencial e se arrepende. Coisas da ficção.
Antes que eu me esqueça, a
UFRJ tem em sua reitoria gente que escreve “todos, todas, todes”. Quase todos,
todas, todes filiados ao PSOL, aquele partido que não gosta de burguesia,
monarquia, cultura ocidental e gramática normativa, essas coisas de gente branca
que oprime os outros.
Como num livro do Paulo
Coelho, “nada é por acaso”. Mas o previsível acaso não acaba aí.
Não apontemos dedos somente
para a reitoria da UFRJ. Apontemos dedos também para os governos anteriores,
petistas principalmente, porque afinal de contas a herança (maldita? Que
ironia) é deles. Não foram eles que financiaram a Copa do Mundo? Foram. Não
foram eles que financiaram os Jogos Olímpicos? Foram.
Pois foram eles que
financiaram o espetáculo pirotécnico da Quinta da Boa Vista. Nero teria ficado
orgulhoso.
Além do dinheiro pouco ou
desviado, há outros problemas. Por exemplo, a burocracia delirante e a política
em torno.
Havia dinheiro e esperança
para o museu. De acordo com o Brazil Jornal, de Geraldo Samor, há
vinte anos o empresário Israel Klabin conseguiu 80 milhões de dólares do Banco
Mundial para um vasto projeto de recuperação e modernização do Museu Nacional.
A condição: um plano de
governança. Que fosse criada uma Organização Social (OS), fundação privada sem
fins lucrativos, para cuidar do dinheiro. Condição essa negada pela UFRJ, que
não admitiu ceder o controle do museu. Deu no que deu.
Para além da mesquinharia
política de costume, esse tipo de coisa me faz lembrar de um ensaio
de Theodore Dalrymple sobre Havana.
O escritor inglês diz que a
degradação da capital e sua lenta destruição parece ter sido feita de
propósito. Fidel Castro precisava que a lembrança de um passado bom e mais
bonito se apagasse da memória dos cubanos, para que o comunismo fosse a única
referência possível.
Só isso explica certas coisas.
Enquanto o incêndio ainda
destruía o Museu Nacional, o inacreditável prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo
Crivella, declarava o seguinte:
“Trágico incidente que destruiu um palácio marcante da nossa história.
É um dever nacional reconstruí-lo das cinzas, recompor cada detalhe eternizado
em pinturas e fotos e ainda que não seja o original continuará a ser para
sempre a lembrança da família imperial que nos deu a independência, o império,
a primeira constituição e a unidade nacional.”
Essa é a percepção de nossa
elite política e econômica (e, convenhamos, de quase todo o povo): basta
reconstruir tudo, recompor cada detalhe, trocar a madeira por aglomerado, o
linho por microfibra, o museu por cidade cenográfica. Como se a perda fosse de um
prédio qualquer, de um amontoado de cacarecos, de uma pilha de objetos
indistintos.
Compra-se tudo na China.
Apelar à reconstrução do
acervo insubstituível de um museu é a prova de que ninguém sabe nem vagamente
do que se trata, nem quer saber. Por isso que essa tragédia é apartidária:
todos participam um pouquinho do descaso. Todos são um pouquinho pais do filho
da puta.
O Brasil é kitsch.
Título, Imagem e Texto: Gustavo Nogy, Gazeta do Povo, 4-9-2018
Colaboração: Adriano Nunes da Costa
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De 84 a 87 cursei mestrado na COPPEAD/UFRJ. O reitor era militante do PCB e constatei que de lá para cá todos reitores e respectivos pro reitores ostentavam e ostentam, ainda hoje, o carimbo de partidos nanicos de esquerda. Aliás, adjetivar de esquerda os partidos nanicos é pleonasmo pois eles padecem da doença infantil chamada socialismo do século XXI, que está desgraçando a Venezuela.
ResponderExcluirO atual reitor da UFRJ é radical do PSol. Há cerca de um ano viralizou pelas redes sociais o discurso de um de seus porta vozes concitando os militantes a “justiçar” (eufemismo de assassinar) os simpatizantes do fascismo brasileiro (a expressão é dele).
Somente Bolsonaro será capaz de extirpar definitivamente do cenário institucional brasileiro essa deletéria esquerda festiva. Por isso, odeiam-no como o diabo da cruz, mas terão que decidir sobre o dilema colocado pelo então presidente Medici, que promoveu o Milagre Econômico Brasileiro (crescimento de 7,5 % do PIB durante seu governo): Brasil, ame-o ou deixe-o!
Batalha
Veja o relato de alguém que conviveu com o socialismo desde a ditadura militar:
ResponderExcluirhttp://carlosliliane64.wixsite.com/magiaeseriados/um-relato-pessoal