Cesar Maia
1. Criou-se uma certa mitologia sobre os debates na TV entre
candidatos a presidente. Os fatos e os estudos realizados não comprovam a
importância eleitoral deles.
2. O primeiro debate na TV, que passou a ser uma referência como
ponto de partida, foi o debate entre Kennedy e Nixon em 1960. Nele, a equipe de
Kennedy inaugurou os cuidados visuais com o debate, desde o melhor contraste
entre o cenário e a roupa do candidato, a cor do terno e da gravata, até o
sorriso leve de quem está seguro no que diz. No final, até as pesquisas
escorregaram e Kennedy venceu por uma diferença mínima de cento e vinte mil
votos. Explicou-se pela "maioria silenciosa", o que seria o mesmo que
dizer que não houve influência do debate no resultado final.
3. Várias análises mostram que, a menos que ocorra um total
desastre num debate, no máximo três dias depois o efeito do debate já está
dissolvido. Por isso, nos EUA, o último debate nunca ocorre em intervalo menor
que a dez dias das eleições. Esta também é a praxe na Europa. Na América Latina
- e o Brasil não é exceção - esse prazo de mais de três dias não é observado.
4. O debate é apresentado como um grande espetáculo pelas emissoras
de TV. Os candidatos são estressados com técnicas e táticas, caras e bocas,
planejamento de perguntas e respostas, imersão para testar como reagem sob
pressão. Equipes vão aos estúdios conhecer o cenário, de forma a definir o
figurino dos candidatos. Discute-se com as emissoras de TV o posicionamento das
câmeras, que não podem flutuar pela reação de um candidato enquanto o outro
fala. A audiência cresce, o que em si já é uma excelente consequência para a
emissora de TV que o promove.
5. Quando termina o debate, são feitas pesquisas sobre vitorioso e
derrotado. A menos que a eleição esteja muito apertada, o resultado é sempre o
mesmo: venceu o debate o que vinha como favorito nas pesquisas eleitorais. Mas
nem por isso tudo o debate na TV é inócuo. Curiosamente é mais importante pela
repercussão que lhe dá a imprensa nos dias seguintes que pelo debate em si.
Imagens do debate são editadas na TV. Fotos nos jornais, áudio nas rádios.
Analistas comentam. Publicitários são entrevistados.
6. Os eleitores, em função disso, discutem performances. Os
militantes se entusiasmam e destacam os melhores momentos de seus candidatos e
os piores de seus adversários. Gafes são exaltadas. Todo um processo
desencadeado pelo debate na TV e que ganha vida independente do debate.
7. Se fosse possível fazer o debate e nada mais, os debates seriam
rigorosamente inócuos. Mas seus desdobramentos não são. Nesse sentido cabe
preparar os "exércitos" para os dias seguintes ao debate. Esses podem
ser relevantes.
Título e Texto: Cesar Maia, 14-9-2018
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