Cristina Miranda
Boaventura Sousa Santos
resolveu quebrar o silêncio confrangedor dos marxistas sobre a Venezuela
escrevendo uma crónica no Público para totós. Sabendo ele que
a maioria dos portugueses é ignorante – não fosse ele professor catedrático na
Universidade de Coimbra e defensor da estupidificação do ensino público onde os
alunos lá chegam a pensar que quem escreveu “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”
foi um dos apóstolos – soltou a caneta que há em si e desatou a escrever
“inverdades”, essa nova táctica para lavagem cerebral usada pelas esquerdas.
Então não é que, segundo ele e só ele, pois a história diz outra coisa totalmente
contrária, “A morte prematura de Hugo Chávez [foto] em 2013 e a queda do preço do
petróleo em 2014 causou um abalo profundo nos processos de transformação social
então em curso?” Uau! Assim se dá uma cambalhota aos fatos para fazer valer a
ideia de que o socialismo de Chávez funcionou maravilhosamente e que
Maduro, coitadito, teve apenas uns azares pelo caminho. Nada mais
falso.
Muito antes de Chávez, a
Venezuela conheceu a prosperidade na década de 1950 com o maior PIB per capita
do Mundo, mas, infelizmente vivia sob um regime ditatorial. A descoberta
do petróleo no século XX abriu-lhes o mercado para os investimentos
estrangeiros e exploração de multinacionais. Durante este regime, o Estado venezuelano permitiu
que investidores, locais e estrangeiros, explorassem livremente os jazigos
recém descobertos de petróleo ajudando a modernizar aquilo que até então
não passava de uma atrasada província neocolonial. Mas não só. O regime estimulou
a imigração trazendo mão de obra de vários países tais como Portugal,
Itália e Espanha e criou um forte sistema legal que protegia os direitos da
propriedade privada. Assim, foi durante o regime militar que a Venezuela
atingiu o auge com políticas de mercado livre.
Apesar da pujante economia, a
mão repressora desta ditadura e a corrupção, despertou os ativistas de esquerda
que provocaram o derrube do regime em 1958. A Quarta República Venezuelana
acabou sendo liderada por Betancourt, um ex-comunista que defendia a imposição
de um Estado socialista, mas ao contrário de Marx, de forma muito gradual.
Embora se designasse de social-democrata, fazia parte da geração que
queria estatizar o sector petrolífero, expulsando os privados, para
depois aplicar as receitas no Estado social. Acreditava que a Venezuela,
para ser independente teria de se desfazer da influência e interesses
estrangeiros e ter o total controlo do sector petrolífero para poder distribuir
gasolina barata , a saúde, educação e outros serviços públicos, grátis.
Para atingir seus objetivos implementou políticas
socialistas tais como a desvalorização da moeda, reforma agrária, estatização
da economia. Mas foi com Perez, seu seguidor, que a estatização foi concluída,
em 1975, transformando a Venezuela num “petroestado”. Perez
financiava assim, o generoso Estado social, com défices orçamentais que
passaram a ser crónicos fazendo igualmente disparar o endividamento interno e
externo. Com o preço do petróleo em alta, vieram os grandes fluxos de “petrodólares”
que eram aplicados em obras megalómanas do Estado e projetos sociais (isto por
acaso não vos lembra nada?).
Porém, a população já sentia
quebra no poder de compra porque o Estado não criava riqueza. Limitava-se a
distribuir receita. Os políticos passaram a controlar a economia decidindo de
acordo com seus próprios interesses e não de acordo com as necessidades da
população (isto também não vos lembra nada?). Com uma inflação galopante e uma
economia a descontrolar-se, abriu-se a porta a Chávez.
Quando Chávez chegou ao poder
encontrou um país, embora desorientado, com cofres ainda cheios.
Consciente de que para aprisionar eleitorado futuro era preciso investir nele
tornando-o dependente, abriu os cordões à bolsa e desatou a gastar
indiscriminadamente na população cumprindo promessas eleitorais. Enquanto
isso, prosseguia a mesma política dos anteriores com um Estado cada vez mais
forte e controlador da economia. Não se esqueceu de, pelo caminho, encher
também seus próprios bolsos com uma fortuna avaliada em 1,5 mil milhões de euros (coisa
pouca). Exatamente ao estilo de Lula no Brasil e Sócrates em Portugal.
Contrariamente ao que por aí é
dito, pelos “Boaventura” deste país, a derrocada de Chávez começou um ano antes
da quebra dos preços do petróleo. Com efeito, nacionalizada a indústria
petrolífera, a quebra de produção acentuava-se por falta de recursos e
conhecimentos desde que Chávez iniciara uma série de tomadas de controlo
hostis. Depois veio o clássico socialista: contrair avultados empréstimos e
imprimir moeda para passar a viver na ilusão de que o país continua a ter
dinheiro para gastar.
A morte de Chávez apenas veio
precipitar os acontecimentos quando um idiota chamado Nicolás Maduro lhe toma o
lugar. Com um país lapidado, seguir no mesmo rumo socialista fez colapsar
definitivamente uma grande nação assim que se deu a quebra dos preços de
petróleo.
Assim, este povo, mesmo com “ouro negro” abundante, morre de fome,
morre de falta de assistência médica, morre da falta de segurança, morre da
inflação interplanetária, morre de medo, de angústia, de tristeza, de abandono.
Morre de tudo! Porque o socialismo, onde se instala não dá frutos. Seca tudo à
sua volta. É a ideologia dos tontos que “não plantam fruteiras, mas
esperam por comer fruta”. A ideologia que põe o Estado improdutivo a
pagar todas as necessidades do país à espera que a riqueza se crie sozinha por
obra do espírito santo. É demagogia barata.
Quando vier de novo um
“Boaventura” culpabilizar os EUA ou outros pela crise humanitária sem
precedentes na Venezuela, atire-lhe com os factos históricos irrefutáveis deste
país à beira da morte, às “trombas”.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
1-9-2018
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Uma besta humana
ResponderExcluirCusta-me utilizar a palavra, nunca o fiz, mas só uma besta humana, como Maduro, é que recusa ajuda humanitária internacional, preferindo que o seu povo morra à míngua de alimentos e medicamentos. Diz ele que isso seria uma interferência na soberania da Venezuela, o que significa que a soberania de Maduro se concretiza na fuga, fome e morte dos compatriotas.
E dizer que tem por cá apoiantes. Institucionais, o que é o mais grave.